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|“ Eu fui com sete para oito anos e saí de lá com treze anos, fiquei cinco anos lá. No educandário, sofria muito, apanhava.” | |“ Eu fui com sete para oito anos e saí de lá com treze anos, fiquei cinco anos lá. No educandário, sofria muito, apanhava.” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Tortura de criança. | ||
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|00:37 | |00:37 | ||
|“Nós vía nossa mãe, tinha um parlatório lá no grupo (inaudível) tipo de um balcão assim, uma mesa, fechada, minha mãe pra lá e eu pra cá. Então, nós não podia ver nossa mãe, nós não podia encostar a mão na nossa mãe. Se nós encostasse a mão na mãe, chegava no educandário, no colégio, nós apanhava muito, ficava de castigo.” | |“Nós vía nossa mãe, tinha um parlatório lá no grupo (inaudível) tipo de um balcão assim, uma mesa, fechada, minha mãe pra lá e eu pra cá. Então, nós não podia ver nossa mãe, nós não podia encostar a mão na nossa mãe. Se nós encostasse a mão na mãe, chegava no educandário, no colégio, nós apanhava muito, ficava de castigo.” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Tortura de criança. | ||
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|01:05 | |01:05 | ||
|“ (inaudível) Porque antigamente chamava de lepra, que hoje é hanseníase. Na época, era chamado de lepra. Então, eles pedia pra gente, que se nós tocasse na nossa mãe, a gente ia ficar doente que nem ela. Mas como eu era muito rebelde, eu mesmo assim, eu não escutava. Aí chegava, apanhava muito. E era quatro vez no ano que nós ver nossa mãe.” | |“ (inaudível) Porque antigamente chamava de lepra, que hoje é hanseníase. Na época, era chamado de lepra. Então, eles pedia pra gente, que se nós tocasse na nossa mãe, a gente ia ficar doente que nem ela. Mas como eu era muito rebelde, eu mesmo assim, eu não escutava. Aí chegava, apanhava muito. E era quatro vez no ano que nós ver nossa mãe.” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Tortura de criança, violência psicológica. | ||
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|01:40 | |01:40 | ||
|“Da minha mãe, que não tive pai. Ele nunca (inaudivel) minha mãe. Que minha mãe trabalhava e de repente ficou doente, do nada, aí não pode ficar com nós. Eu e meus irmão, meus três irmão, comigo quatro. E aí então, nós fomos, quando internaram ela eu chorei muito, chorei muito, não queria ir, fiz pirraça. Aí quando eu entrei pra lá, no mesmo dia eu apanhei, que eu fiz pirraça, né?” | |“Da minha mãe, que não tive pai. Ele nunca (inaudivel) minha mãe. Que minha mãe trabalhava e de repente ficou doente, do nada, aí não pode ficar com nós. Eu e meus irmão, meus três irmão, comigo quatro. E aí então, nós fomos, quando internaram ela eu chorei muito, chorei muito, não queria ir, fiz pirraça. Aí quando eu entrei pra lá, no mesmo dia eu apanhei, que eu fiz pirraça, né?” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Tortura de criança. | ||
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|02:23 | |02:23 | ||
|“Ah, o meu irmão mais novo, era aniversário. e meu irmão também apanhava porque ele tinha hemorroida, porque ele cagava nas calça e ficava com sangue, aí o meu irmão apanhava muito porque eles já achavam que ele era grande, meu irmão mais novo, né? Então, aí quando nós, nós apanhava, quando nós mijava na cama, aí eles demos banho frio, gelado, cinco hora da manhã. E ai botava (inaudível) pra desfilar no refeitório de manhã cedo, que tava todo mundo, pra todo mundo tomar café, né? Que todo mundo ia pra escola de manhã (inaudível) de tarde. E eu como era eu era mais arteira, mijava, lavava o lençol, secava, secava a roupa, secava o chão, né? Mas não adiantava, eu apanhava. Nós ficava em um quarto escuro, num quartinho sem banheiro, sem água, sem nada. Duas horas. Como eu era mais santa, fica mais quatro horas mais ou menos” | |“Ah, o meu irmão mais novo, era aniversário. e meu irmão também apanhava porque ele tinha hemorroida, porque ele cagava nas calça e ficava com sangue, aí o meu irmão apanhava muito porque eles já achavam que ele era grande, meu irmão mais novo, né? Então, aí quando nós, nós apanhava, quando nós mijava na cama, aí eles demos banho frio, gelado, cinco hora da manhã. E ai botava (inaudível) pra desfilar no refeitório de manhã cedo, que tava todo mundo, pra todo mundo tomar café, né? Que todo mundo ia pra escola de manhã (inaudível) de tarde. E eu como era eu era mais arteira, mijava, lavava o lençol, secava, secava a roupa, secava o chão, né? Mas não adiantava, eu apanhava. Nós ficava em um quarto escuro, num quartinho sem banheiro, sem água, sem nada. Duas horas. Como eu era mais santa, fica mais quatro horas mais ou menos” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Tortura de criança. | ||
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|04:20 | |04:20 | ||
|“ Olha, nós, além, tem uma historinha. Um médico, um doutor.. Aí, aí quando (inaudível) primeira comunhão (inaudível). Aí eu fui ver, minha mãe, porque ele (inaudível) na minha mãe, aí (inaudível) da diretora não falou nada na hora, ai ela foi embora. Ai a diretora chegou, aí ela contou pra ela, aí a diretora me bateu de sapato fino, com, eu acho que era de ferro o salto, né? O saltinho de ferro, bateu muito, mas eu não chorei não, senti dor mas não chorei. Depois que ela me bateu, fiquei com a mão inchada, as duas mãos inchada, nem podia botar a mão na colher porque não dava, porque tava doendo muito, mas num chorei” | |“ Olha, nós, além, tem uma historinha. Um médico, um doutor.. Aí, aí quando (inaudível) primeira comunhão (inaudível). Aí eu fui ver, minha mãe, porque ele (inaudível) na minha mãe, aí (inaudível) da diretora não falou nada na hora, ai ela foi embora. Ai a diretora chegou, aí ela contou pra ela, aí a diretora me bateu de sapato fino, com, eu acho que era de ferro o salto, né? O saltinho de ferro, bateu muito, mas eu não chorei não, senti dor mas não chorei. Depois que ela me bateu, fiquei com a mão inchada, as duas mãos inchada, nem podia botar a mão na colher porque não dava, porque tava doendo muito, mas num chorei” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Tortura de criança. | ||
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|05:18 | |05:18 | ||
|“Isso fui vai abraçar minha mãe, porque nós tinha quatro vezes no ano só. Como eu falei, aí me bateu muito, aí eu não chorei, fiquei cheia de dor mas não chorei. Aí depois tinha médico, dentista, tinha tudo. Mas tinha um médico lá, doutor (inaudível) acho que ele já até morreu. Pegou, dedinho de boneco, não tô mentindo, (inaudível) fez as perninhas, os bracinhos, aquele desenho, aquele boneco de enforcar de letra. Aí me pergunto. Desenhou, aí me perguntou se eu tinha pelo no meu intimo. Ai o que eu fiz, sai de lá, chorando, bati a porta, que eu era pequena, não sabia de nada, né? Mas quem acreditava em mim? O médico já era velho, não era novo, já era um velho já era bem velho já.” | |“Isso fui vai abraçar minha mãe, porque nós tinha quatro vezes no ano só. Como eu falei, aí me bateu muito, aí eu não chorei, fiquei cheia de dor mas não chorei. Aí depois tinha médico, dentista, tinha tudo. Mas tinha um médico lá, doutor (inaudível) acho que ele já até morreu. Pegou, dedinho de boneco, não tô mentindo, (inaudível) fez as perninhas, os bracinhos, aquele desenho, aquele boneco de enforcar de letra. Aí me pergunto. Desenhou, aí me perguntou se eu tinha pelo no meu intimo. Ai o que eu fiz, sai de lá, chorando, bati a porta, que eu era pequena, não sabia de nada, né? Mas quem acreditava em mim? O médico já era velho, não era novo, já era um velho já era bem velho já.” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Violência sexual, violência psicológica, sequelas da violência, torura de criança. | ||
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|06:27 | |06:27 | ||
Linha 384: | Linha 384: | ||
“Isso, isso. Aí eu peguei, só chorei, não contei pra ninguém, porque ninguém acreditava em mim, achava que eu tava inventando, porque é criança, ninguém acreditava em criança, (inaudível) eu tinha uns doze, uns treze anos (inaudível) eu não vou lembrar. Aí eu peguei, eu não fui mais no médico com ele.” | “Isso, isso. Aí eu peguei, só chorei, não contei pra ninguém, porque ninguém acreditava em mim, achava que eu tava inventando, porque é criança, ninguém acreditava em criança, (inaudível) eu tinha uns doze, uns treze anos (inaudível) eu não vou lembrar. Aí eu peguei, eu não fui mais no médico com ele.” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Violência sexual, violência psicológica, sequelas da violência. | ||
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|06:55 | |06:55 | ||
|“ Ah, sai de lá porque, ah, essa parte, sai de lá porque a diretora ia me bater, aí aí já chega informado, né? Que era pra me bater, me chamou na secretaria, porque eu fiz uma bagunça, baguncinha de criança, criança não, já era pré-adolescente, né? Tinha dois pra três. Peguei, tranquei a sala da secretaria, tranquei a sala da secretaria, fechei a porta, tirei a chave (inaudivel). Peguei no pescoço dela, cheio de sede, ia matar ela, fui apertando, fui apertando, mas aí mesmo, aí eu fiquei com raiva que eu não conseguia matar, tendeu? Ai eu liguei pra minha mãe escondido, fui na secretaria e falei (inaudível) que se ela não me tirasse de lá eu ia sumir, ela não ia me ver mais. (inaudível) Ai foi lá com uma conhecida, me tirar do colégio, aí depois, (inaudível), foi aí tomei muito remédio, problema psicológico, vacina. (inaudível) muita coisa na cabeça, né? Aí eu tive problemas psicológicos, passei no psiquiatra, psicólogo, aí dava remédio, aí eu tava vendo jacaré.” | |“ Ah, sai de lá porque, ah, essa parte, sai de lá porque a diretora ia me bater, aí aí já chega informado, né? Que era pra me bater, me chamou na secretaria, porque eu fiz uma bagunça, baguncinha de criança, criança não, já era pré-adolescente, né? Tinha dois pra três. Peguei, tranquei a sala da secretaria, tranquei a sala da secretaria, fechei a porta, tirei a chave (inaudivel). Peguei no pescoço dela, cheio de sede, ia matar ela, fui apertando, fui apertando, mas aí mesmo, aí eu fiquei com raiva que eu não conseguia matar, tendeu? Ai eu liguei pra minha mãe escondido, fui na secretaria e falei (inaudível) que se ela não me tirasse de lá eu ia sumir, ela não ia me ver mais. (inaudível) Ai foi lá com uma conhecida, me tirar do colégio, aí depois, (inaudível), foi aí tomei muito remédio, problema psicológico, vacina. (inaudível) muita coisa na cabeça, né? Aí eu tive problemas psicológicos, passei no psiquiatra, psicólogo, aí dava remédio, aí eu tava vendo jacaré.” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Tortura de criança, dano ao projeto de vida, violência psicológica, sequelas da violência. | ||
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|08:33 | |08:33 | ||
|“Tomava diazepam, (inaudível) esses dois. Aí, eu via jacaré dentro de casa, queria matar meu neto, quebrei tudo, quebrei meu guarda-roupa e aí tive quase internada que minha filha ia comigo me acompanhar, aí parei de tomar remédio, porque tava vendo o jacaré, dentro de casa. Aí hoje em dia o Artur Custódio, tá lutando pela gente, reparação, que estive separada. Eu não tô mentindo, tinha preconceito da doença, não pode, até hoje ainda tem preconceito da hanseníase, muitas tem.” | |“Tomava diazepam, (inaudível) esses dois. Aí, eu via jacaré dentro de casa, queria matar meu neto, quebrei tudo, quebrei meu guarda-roupa e aí tive quase internada que minha filha ia comigo me acompanhar, aí parei de tomar remédio, porque tava vendo o jacaré, dentro de casa. Aí hoje em dia o Artur Custódio, tá lutando pela gente, reparação, que estive separada. Eu não tô mentindo, tinha preconceito da doença, não pode, até hoje ainda tem preconceito da hanseníase, muitas tem.” | ||
|Maria Luiza Vieira | |Maria Luiza Vieira | ||
| | |Dano ao projeto de vida, violência psicológica, sequelas da violência. | ||
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Linha 732: | Linha 732: | ||
|“Fazia tratamento no posto de Cachoeira de Itapemirim, perto da linha de trem, perto do noventa lá. Então, papai falou assim, ô Dina, ele falava Dina comigo, meu nome é Geraldina. ‘O Dina, vamos pra esse lugar lá’, eu falei assim, ‘O que pai, eu não vou praquele lugar não’. Aí o doutor chegou perto de mim, pegou no meu bracinho, senhora tem que ir, sim, tem que ir sim. Aí, papai ficou quieto com aquilo, né? E ele saiu também, o doutor saiu. Aí eu falei assim, mãe, nós não vamos não, mãe. Vamos não, que tem um forno lá que tá matando os leprosos, estão matando a pessoa, nós trabalha na roça, mãe. E agora nós vamos fazer uma coisa dessa? Não tem jeito não. Aí ela me entendeu, mamãe não entendeu muito bem. Aí chega o policial de carro e o motorista junto ‘ceis entram aqui’. É a primeira enfermaria das mulher ali no carro e soltou nós ali, eu olhei assim, olhei, tanta gente que chegou para ver nós, ver nós, um sem nariz, outro não tinha nem zóio, não tinha nada. Ih, falei assim, nossa, ó, foram me pegar eu lá na Ponte Mauá. Depois que os guarda me levaram pra lá sim, eu parei, paralisei, fiquei um dia lá com mamãe lá no quarto dela lá, na enfermaria. E paralisei, sabe? E depois eu fiquei pensando assim, meu Deus do céu, que que eu vou fazer? Aí, me levaram eu pra um asilo que tem lá não sei aonde, está ali ainda. E agora é casa de ração. Jogaram eu no meio da das moça que tinha lá.” | |“Fazia tratamento no posto de Cachoeira de Itapemirim, perto da linha de trem, perto do noventa lá. Então, papai falou assim, ô Dina, ele falava Dina comigo, meu nome é Geraldina. ‘O Dina, vamos pra esse lugar lá’, eu falei assim, ‘O que pai, eu não vou praquele lugar não’. Aí o doutor chegou perto de mim, pegou no meu bracinho, senhora tem que ir, sim, tem que ir sim. Aí, papai ficou quieto com aquilo, né? E ele saiu também, o doutor saiu. Aí eu falei assim, mãe, nós não vamos não, mãe. Vamos não, que tem um forno lá que tá matando os leprosos, estão matando a pessoa, nós trabalha na roça, mãe. E agora nós vamos fazer uma coisa dessa? Não tem jeito não. Aí ela me entendeu, mamãe não entendeu muito bem. Aí chega o policial de carro e o motorista junto ‘ceis entram aqui’. É a primeira enfermaria das mulher ali no carro e soltou nós ali, eu olhei assim, olhei, tanta gente que chegou para ver nós, ver nós, um sem nariz, outro não tinha nem zóio, não tinha nada. Ih, falei assim, nossa, ó, foram me pegar eu lá na Ponte Mauá. Depois que os guarda me levaram pra lá sim, eu parei, paralisei, fiquei um dia lá com mamãe lá no quarto dela lá, na enfermaria. E paralisei, sabe? E depois eu fiquei pensando assim, meu Deus do céu, que que eu vou fazer? Aí, me levaram eu pra um asilo que tem lá não sei aonde, está ali ainda. E agora é casa de ração. Jogaram eu no meio da das moça que tinha lá.” | ||
|Geraldina Galazzi (ex-paciente do Hospital Pedro Fontes) | |Geraldina Galazzi (ex-paciente do Hospital Pedro Fontes) | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|04:26 | |04:26 | ||
|“Os meus avós foram tirados de terras, eram pessoas de posse e foram jogado dentro de uma ambulância por ordem que veio de Brasília. Não era Brasília na época, não sei. Sei que era o Ministério da Saúde Federal, lançaram a lei pra separar e prender todos os portadores de lepra e levavam para essas colônias, foram realmente edificadas pra isso, com esse fim, pra internar os pais ou as pessoas portadoras de hanseníase. E os filhos eram tirados automaticamente de uma forma bem grosseira, porque as crianças que tavam com os pais leprosos, os que já tinham nascido, como foi o caso da minha mãe, o caso da minha outra tia, eles foram separados de uma forma grotesca e dura. Porque minha vó sofreu bastante com isso e ficou o resto da vida, dentro desse leprosário, até que morreu aos 69 anos, em 1976.” | |“Os meus avós foram tirados de terras, eram pessoas de posse e foram jogado dentro de uma ambulância por ordem que veio de Brasília. Não era Brasília na época, não sei. Sei que era o Ministério da Saúde Federal, lançaram a lei pra separar e prender todos os portadores de lepra e levavam para essas colônias, foram realmente edificadas pra isso, com esse fim, pra internar os pais ou as pessoas portadoras de hanseníase. E os filhos eram tirados automaticamente de uma forma bem grosseira, porque as crianças que tavam com os pais leprosos, os que já tinham nascido, como foi o caso da minha mãe, o caso da minha outra tia, eles foram separados de uma forma grotesca e dura. Porque minha vó sofreu bastante com isso e ficou o resto da vida, dentro desse leprosário, até que morreu aos 69 anos, em 1976.” | ||
|Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. | ||
|- | |- | ||
|05:14 | |05:14 | ||
|“Na criação do Hospital Pedro Fontes, nossos pais foram internados compulsoriamente, nossos avós também. Meu pai solteiro, minha mãe solteira, na época, lá dentro do hospital, acabou se casando e tendo oito filhos, todos eles com a internação compulsória nos hospitais Colônia, era necessário que eles colocassem os filhos, né? Como outras famílias, em algum lugar, só que este lugar propriamente não existia, porque a nossa família não tem condições de tá, principalmente criando.” | |“Na criação do Hospital Pedro Fontes, nossos pais foram internados compulsoriamente, nossos avós também. Meu pai solteiro, minha mãe solteira, na época, lá dentro do hospital, acabou se casando e tendo oito filhos, todos eles com a internação compulsória nos hospitais Colônia, era necessário que eles colocassem os filhos, né? Como outras famílias, em algum lugar, só que este lugar propriamente não existia, porque a nossa família não tem condições de tá, principalmente criando.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|07:04 | |07:04 | ||
|“Todo educandário tinha uma música. Nós criamos uma música pra ela aqui que as crianças cantavam em couro, o grupo se formava e as roupas que a gente vestia era quase tudo igual, mas ela chegava exatamente aqui, a entrada era por aqui, entrada do triunfal era aqui. A placa Alzira Bley. A música era assim, eu não vou cantar tudo que eu não lembro o resto da mas o inicial é, (canta música), isso aí foi a letra principal, porque era uma música antiga, né? Que eu não lembro bem, mas é a música americana ou inglesa, nós aproveitamos e colocamos uma letra em homenagem a ela, porque a Eunice além de ser fundadora, ela foi uma verdadeira mãe nacional do Brasil que ninguém quase ninguém valorizou e não tem histórico sobre ela, né? Eu acho que agora podemos destacar o papel dela. Então, a Eunice Weaver teve esse papel e nós tínhamos essa, essa música para toda vez que ela, ela aparecia.” | |“Todo educandário tinha uma música. Nós criamos uma música pra ela aqui que as crianças cantavam em couro, o grupo se formava e as roupas que a gente vestia era quase tudo igual, mas ela chegava exatamente aqui, a entrada era por aqui, entrada do triunfal era aqui. A placa Alzira Bley. A música era assim, eu não vou cantar tudo que eu não lembro o resto da mas o inicial é, (canta música), isso aí foi a letra principal, porque era uma música antiga, né? Que eu não lembro bem, mas é a música americana ou inglesa, nós aproveitamos e colocamos uma letra em homenagem a ela, porque a Eunice além de ser fundadora, ela foi uma verdadeira mãe nacional do Brasil que ninguém quase ninguém valorizou e não tem histórico sobre ela, né? Eu acho que agora podemos destacar o papel dela. Então, a Eunice Weaver teve esse papel e nós tínhamos essa, essa música para toda vez que ela, ela aparecia.” | ||
|Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|08:16 | |08:16 | ||
|“E nós viemos para o educandário Alzira Bley, aos dois dias, desmamados e se juntar a crianças aqui mais ou menos quinhentas e poucas crianças, filhos também, todos filhos de pais portadores da hanseníase. Esse educandário, que antigamente, se chamava preventório, ele foi criado em mais ou menos nos anos quarenta com essa finalidade, de trazer os filhos que nasciam dos pais, que eram casais normais, eram portadores dessa doença infecto contagiosa e o Ministério da Saúde, na época, decretou uma lei, estipulou uma lei da separação compulsória dos filhos, e nós fomos vítimas dessa situação, decisão do Governo na época em que foi feita essa lei.” | |“E nós viemos para o educandário Alzira Bley, aos dois dias, desmamados e se juntar a crianças aqui mais ou menos quinhentas e poucas crianças, filhos também, todos filhos de pais portadores da hanseníase. Esse educandário, que antigamente, se chamava preventório, ele foi criado em mais ou menos nos anos quarenta com essa finalidade, de trazer os filhos que nasciam dos pais, que eram casais normais, eram portadores dessa doença infecto contagiosa e o Ministério da Saúde, na época, decretou uma lei, estipulou uma lei da separação compulsória dos filhos, e nós fomos vítimas dessa situação, decisão do Governo na época em que foi feita essa lei.” | ||
|Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|09:03 | |09:03 | ||
|“Eu nasci aqui dentro do Hospital Pedro Fontes, aqui na Colônia, tinha uma maternidade ali. A gente nasceu, enrolava no lençol e levaram para o orfanato, que era Educandário Alzira Bley, entendeu?” | |“Eu nasci aqui dentro do Hospital Pedro Fontes, aqui na Colônia, tinha uma maternidade ali. A gente nasceu, enrolava no lençol e levaram para o orfanato, que era Educandário Alzira Bley, entendeu?” | ||
|Maria Aparecida Galazzi (ex-interna do educandário Alzira Bley) | |Maria Aparecida Galazzi (ex-interna do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|09:18 | |09:18 | ||
|“Eu fui ver essa menina depois de quatro ano, numa tela ainda. Levava pra nós ver na véspera de Natal e ficou lá um pouquinho só com a gente, mas não podia nem botar a mão na tela. Era dessa, dessa maneira era, sabe? Minha mãe chorando, minha mãe que veio comigo, começou a chorar de ver os neto tudo, do lado de lá e não deixar a gente botar a mão.” | |“Eu fui ver essa menina depois de quatro ano, numa tela ainda. Levava pra nós ver na véspera de Natal e ficou lá um pouquinho só com a gente, mas não podia nem botar a mão na tela. Era dessa, dessa maneira era, sabe? Minha mãe chorando, minha mãe que veio comigo, começou a chorar de ver os neto tudo, do lado de lá e não deixar a gente botar a mão.” | ||
|Geraldina Galazzi (ex-paciente do Hospital Pedro Fontes) | |Geraldina Galazzi (ex-paciente do Hospital Pedro Fontes) | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
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|09:43 | |09:43 | ||
|“A gente só tinha direito a visitar os nossos pais em dois período. E mesmo assim a gente não tinha contato com eles. Era via, época mais velha era parlatório, vidro, né? Depois, no final da década de sessenta, passou a ser a grade, tela de alambrado. A gente botava os dedinhos ali, esse aqui é seu pai e tal. Nós tínhamos a gratidão, de ter pelo menos, no meu pai e minha mãe, não ter sequelas graves como outros pais, que os nossos irmãos não tinham condição de estar nem vendo o pai direito e nem os pais também podendo abraçar, beijar ou saber que o filho dele tá bem.” | |“A gente só tinha direito a visitar os nossos pais em dois período. E mesmo assim a gente não tinha contato com eles. Era via, época mais velha era parlatório, vidro, né? Depois, no final da década de sessenta, passou a ser a grade, tela de alambrado. A gente botava os dedinhos ali, esse aqui é seu pai e tal. Nós tínhamos a gratidão, de ter pelo menos, no meu pai e minha mãe, não ter sequelas graves como outros pais, que os nossos irmãos não tinham condição de estar nem vendo o pai direito e nem os pais também podendo abraçar, beijar ou saber que o filho dele tá bem.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
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|10:20 | |10:20 | ||
|“Não podia abraçar, não podia pegar, só olhar, ficar do de lá no portão grande, portões enormes. Aí tava ali, aí ensinei pra eles, cantar, cantar mamãe, festa das mãe, Natal, cantava na festa do Natal, os papais sempre me elogiavam muito. Eles falavam que nunca viu uma diretora igual a mim, eles falavam, né? E não sei não, que nunca viu uma diretora igual a mim, liberal, porque eu levava, orientava, cantava, ensinava a cantar pros pais, ensinava a dançar pros pais, os doentes gostava sempre.” | |“Não podia abraçar, não podia pegar, só olhar, ficar do de lá no portão grande, portões enormes. Aí tava ali, aí ensinei pra eles, cantar, cantar mamãe, festa das mãe, Natal, cantava na festa do Natal, os papais sempre me elogiavam muito. Eles falavam que nunca viu uma diretora igual a mim, eles falavam, né? E não sei não, que nunca viu uma diretora igual a mim, liberal, porque eu levava, orientava, cantava, ensinava a cantar pros pais, ensinava a dançar pros pais, os doentes gostava sempre.” | ||
|Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | |Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
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|11:10 | |11:10 | ||
|“O separamento de isolamento dos pais, a gente ficava tinha tela, a gente ficava do lado, aí os pais levava lá bala pra gente, levava bolo, levava pastel, entendeu? Era um momento bom também que a gente gostava a hora que a gente, né? A gente tava de frente né? Dos pais.” | |“O separamento de isolamento dos pais, a gente ficava tinha tela, a gente ficava do lado, aí os pais levava lá bala pra gente, levava bolo, levava pastel, entendeu? Era um momento bom também que a gente gostava a hora que a gente, né? A gente tava de frente né? Dos pais.” | ||
|Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
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|11:26 | |11:26 | ||
|“Todos nós, quando fomos descobrir que nós não nascemos aqui, que os nossos pais não estavam aqui, foi o momento mais triste. Em que nós tínhamos que visitá-los pelo menos três vezes ao ano e éramos proibidos de ter contato com eles. Tínhamos esse momento feliz, caminhando pra lá, no dia dos pais, dia das mãe, dia de Natal apenas. Era feliz, mas a tristeza era quando nós voltávamos, que a gente não ia ter mais os pais, isso aí marcava a gente.” | |“Todos nós, quando fomos descobrir que nós não nascemos aqui, que os nossos pais não estavam aqui, foi o momento mais triste. Em que nós tínhamos que visitá-los pelo menos três vezes ao ano e éramos proibidos de ter contato com eles. Tínhamos esse momento feliz, caminhando pra lá, no dia dos pais, dia das mãe, dia de Natal apenas. Era feliz, mas a tristeza era quando nós voltávamos, que a gente não ia ter mais os pais, isso aí marcava a gente.” | ||
|Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
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|11:50 | |11:50 | ||
|“Minha mãe reside hoje até hoje ela reside lá no hospital, certo? Ela reside lá, ela já praticamente já fez o tratamento dela, tem aquela pequena deficiência, que é antigo.” | |“Minha mãe reside hoje até hoje ela reside lá no hospital, certo? Ela reside lá, ela já praticamente já fez o tratamento dela, tem aquela pequena deficiência, que é antigo.” | ||
|Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. | ||
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|12:03 | |12:03 | ||
|“Eu e meu marido fugia debaixo de um arame desse daqui ó, nós ia lá, mas aí as comadres minha levava meus filhinho tudo pra dentro dum quarto, botava lá dentro do quarto, escondido e fechava a porta, e ela ficava lá junto, né? Estava lá junto. Ah, meu Deus, quando eu vi meus filhinhos, vi o novinho lá, meu Deus do céu, mas eu chorei, chorei, mas chorei.” | |“Eu e meu marido fugia debaixo de um arame desse daqui ó, nós ia lá, mas aí as comadres minha levava meus filhinho tudo pra dentro dum quarto, botava lá dentro do quarto, escondido e fechava a porta, e ela ficava lá junto, né? Estava lá junto. Ah, meu Deus, quando eu vi meus filhinhos, vi o novinho lá, meu Deus do céu, mas eu chorei, chorei, mas chorei.” | ||
|Geraldina Galazzi (ex-paciente do Hospital Pedro Fontes) | |Geraldina Galazzi (ex-paciente do Hospital Pedro Fontes) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|12:28 | |12:28 | ||
|“Até hoje não dá pra se entender porque nossos filhos nascendo dentro do ventre de pais, de mães, portadores de hanseníase e nós não tivemos, não fomos contemplados com essa, vou dizer, desgraça na saúde, que é a lepra.” | |“Até hoje não dá pra se entender porque nossos filhos nascendo dentro do ventre de pais, de mães, portadores de hanseníase e nós não tivemos, não fomos contemplados com essa, vou dizer, desgraça na saúde, que é a lepra.” | ||
|Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|13:56 | |13:56 | ||
|“O Brasil chegou num momento dele ter que fazer uma política de segregação. Era uma obrigação, ou ele faria isso, ou o Brasil hoje, num patamar aí de cem por cento, cinquenta por cento da população estaria infectado. Então, com essa, com essa política de segregação, houve-se um momento do país se pensar sanitáriamente, de criar os hospitais colônias.” | |“O Brasil chegou num momento dele ter que fazer uma política de segregação. Era uma obrigação, ou ele faria isso, ou o Brasil hoje, num patamar aí de cem por cento, cinquenta por cento da população estaria infectado. Então, com essa, com essa política de segregação, houve-se um momento do país se pensar sanitáriamente, de criar os hospitais colônias.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|15:02 | |15:02 | ||
|“Fui expulso do educandário quando eu tinha oito anos de idade. Solicitou minha família que eu saísse daqui. Como aqui próximo, não existia uma escola pra me abrigar, porque eu já estava no meio do ano, eu fui morar com os meus pais no Leprosário. Pra mim, eu considero foi a melhor época da minha vida, porque os dois anos que eu vivi com meu pai parecia até que eu vivi desde quando eu nasci, porque o amor que meu pai tinha por mim, a educação dele, o carinho, respeito, fenomenal.” | |“Fui expulso do educandário quando eu tinha oito anos de idade. Solicitou minha família que eu saísse daqui. Como aqui próximo, não existia uma escola pra me abrigar, porque eu já estava no meio do ano, eu fui morar com os meus pais no Leprosário. Pra mim, eu considero foi a melhor época da minha vida, porque os dois anos que eu vivi com meu pai parecia até que eu vivi desde quando eu nasci, porque o amor que meu pai tinha por mim, a educação dele, o carinho, respeito, fenomenal.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|15:33 | |15:33 | ||
|“É triste, é um momento triste que a gente não tinha aquele aconchego dos pais e mães, aquele carinho, né? Aquele carinho de pai e mãe, cê entendeu? E a gente era, era tomado conta, a gente tinha guardiãs, né? Os mais velhos, olhavam os mais novos, né? A gente passava algumas necessidades, né? Junto a nossa entidade.” | |“É triste, é um momento triste que a gente não tinha aquele aconchego dos pais e mães, aquele carinho, né? Aquele carinho de pai e mãe, cê entendeu? E a gente era, era tomado conta, a gente tinha guardiãs, né? Os mais velhos, olhavam os mais novos, né? A gente passava algumas necessidades, né? Junto a nossa entidade.” | ||
|Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|15:55 | |15:55 | ||
|“Eu dava a vida ali, né? Com a colaboração das professoras, das alunas, das interna e da creche, da Jandira, a Jandira, era diretora da creche. Jandira me ajudava muito.” | |“Eu dava a vida ali, né? Com a colaboração das professoras, das alunas, das interna e da creche, da Jandira, a Jandira, era diretora da creche. Jandira me ajudava muito.” | ||
|Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | |Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|16:38 | |16:38 | ||
|“Quando se fala em festa, era a melhor parte da nossa infância. Porque todo mês comemorativo, tinha alguma festa, seja da Páscoa, seja da pátria, seja do Proclamação da República, Tiradentes. Então, Natal. Então assim por sermos criado em um fechamento, foi criado também uma grande oportunidade de irmandade e de se promover eventos diversos aqui dentro da instituição. Seja na arte da cultura, do lazer, do esporte, até da própria religião, foi muito bonito, foi muito bom, a gente curtiu muito, neste ponto nós somos muito felizes.” | |“Quando se fala em festa, era a melhor parte da nossa infância. Porque todo mês comemorativo, tinha alguma festa, seja da Páscoa, seja da pátria, seja do Proclamação da República, Tiradentes. Então, Natal. Então assim por sermos criado em um fechamento, foi criado também uma grande oportunidade de irmandade e de se promover eventos diversos aqui dentro da instituição. Seja na arte da cultura, do lazer, do esporte, até da própria religião, foi muito bonito, foi muito bom, a gente curtiu muito, neste ponto nós somos muito felizes.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|17:26 | |17:26 | ||
|“Todos os eventos que vocês têm lá fora, aqui dentro também nós tínhamos, mas da nossa forma, né? O folclórico, as comemorações, os dias santos, né? Os feriados com conotação folclórica também, as festas juninas, tudo isso que nós tínhamos aqui dentro. O momento mais feliz pra nós era o dia do Natal, esse era o que marcava a gente. Nem Dia das Crianças era, nem outros eventos, mas o dia do Natal pra nós é o evento que reuni todos os internos e alguns ex internos.” | |“Todos os eventos que vocês têm lá fora, aqui dentro também nós tínhamos, mas da nossa forma, né? O folclórico, as comemorações, os dias santos, né? Os feriados com conotação folclórica também, as festas juninas, tudo isso que nós tínhamos aqui dentro. O momento mais feliz pra nós era o dia do Natal, esse era o que marcava a gente. Nem Dia das Crianças era, nem outros eventos, mas o dia do Natal pra nós é o evento que reuni todos os internos e alguns ex internos.” | ||
|Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|17:56 | |17:56 | ||
|“Brincavam muito, eu dava licença pra brincar no pátio. Brincava, cantava, eu fazia festa das bonecas, as meninas e cada uma com a sua boneca, escolhia os padrinhos, quer dizer, os rapazes, os garotos, para ser padrinho das bonecas, aí fazia batizado as boneca, lá um pátio, brincava todo. Na festa junina também, fazia a festa Junina, fazia o casamento caipira. Fazer teatro lá com ela.” | |“Brincavam muito, eu dava licença pra brincar no pátio. Brincava, cantava, eu fazia festa das bonecas, as meninas e cada uma com a sua boneca, escolhia os padrinhos, quer dizer, os rapazes, os garotos, para ser padrinho das bonecas, aí fazia batizado as boneca, lá um pátio, brincava todo. Na festa junina também, fazia a festa Junina, fazia o casamento caipira. Fazer teatro lá com ela.” | ||
|Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | |Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|18:32 | |18:32 | ||
|“Estudava do primeiro a quarta série aqui e depois a gente deslocava para o Porto de Cariacica. Que se chama hoje Porto Belo. Que é o a escola Eulálio Moreira. A gente ia estudar lá entre a quinta e sexta série, no Eulálio Moreira, tinha que fazer uma caminhada muito boa mesmo, andar um pedação e depois quando concursava a quinta, sexta série, ia pra escola São João Batista, lá em Cariacica.” | |“Estudava do primeiro a quarta série aqui e depois a gente deslocava para o Porto de Cariacica. Que se chama hoje Porto Belo. Que é o a escola Eulálio Moreira. A gente ia estudar lá entre a quinta e sexta série, no Eulálio Moreira, tinha que fazer uma caminhada muito boa mesmo, andar um pedação e depois quando concursava a quinta, sexta série, ia pra escola São João Batista, lá em Cariacica.” | ||
|Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|19:00 | |19:00 | ||
|“Os filhos dos leprosos tão ali. A gente andava sempre em grupo, o grupo daqui, ia para as salas de aulas, quinta e sexta série, pra oitava. E começamos a conviver com isso, com esse chamado, tratamento diferenciado. Nós éramos menosprezado, desprezados, sendo que nós não éramos os doentes. Nós era apenas descendentes de pais portadores da hanseníase. Alguns pararam de estudar por causa desse tratamento. Mas nós éramos os melhores alunos da sala de aula, porque nós não faltavam uma aula. Nós não faltávamos nenhum evento no ginásio ou na escola. Eu, por exemplo, graças a Deus, dois anos eu fui tratado e fui considerado o melhor aluno do ginásio, comportamental e de notas. | |“Os filhos dos leprosos tão ali. A gente andava sempre em grupo, o grupo daqui, ia para as salas de aulas, quinta e sexta série, pra oitava. E começamos a conviver com isso, com esse chamado, tratamento diferenciado. Nós éramos menosprezado, desprezados, sendo que nós não éramos os doentes. Nós era apenas descendentes de pais portadores da hanseníase. Alguns pararam de estudar por causa desse tratamento. Mas nós éramos os melhores alunos da sala de aula, porque nós não faltavam uma aula. Nós não faltávamos nenhum evento no ginásio ou na escola. Eu, por exemplo, graças a Deus, dois anos eu fui tratado e fui considerado o melhor aluno do ginásio, comportamental e de notas. | ||
|Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|19:43 | |19:43 | ||
|“Sempre em grupos separados, tanto dentro da sala, na hora do recreio, na hora de ir embora, a gente não se misturava, porque a gente era considerado como verme pra sociedade devido ser filho de leproso. A verdade é essa. E na mesma, na empregabilidade, que eu sou ex bancário, estagiei em companhia de seguros, que hoje é a Arcelor Mittal, nunca falei na minha vida que eu sou filho da hanseníase, que eu sou filho de educandário, devido o preconceito que até hoje ainda existe” | |“Sempre em grupos separados, tanto dentro da sala, na hora do recreio, na hora de ir embora, a gente não se misturava, porque a gente era considerado como verme pra sociedade devido ser filho de leproso. A verdade é essa. E na mesma, na empregabilidade, que eu sou ex bancário, estagiei em companhia de seguros, que hoje é a Arcelor Mittal, nunca falei na minha vida que eu sou filho da hanseníase, que eu sou filho de educandário, devido o preconceito que até hoje ainda existe” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Violência psicológica, sequelas da violência. | ||
|- | |- | ||
|20:16 | |20:16 | ||
|“Os ex-internos chamado hoje, nem todos sabem, até hoje, porque é que foram criados aqui, nem todo, nem todos entendem, uns não estão bem na cabeça hoje. Hoje estão muito mal na sociedade, há muitos não conseguem ficar em empregos, há muitos não conseguem relatar a sua história, tamanha angústia e tamanha o desespero, porque o passado foi muito duro para eles.” | |“Os ex-internos chamado hoje, nem todos sabem, até hoje, porque é que foram criados aqui, nem todo, nem todos entendem, uns não estão bem na cabeça hoje. Hoje estão muito mal na sociedade, há muitos não conseguem ficar em empregos, há muitos não conseguem relatar a sua história, tamanha angústia e tamanha o desespero, porque o passado foi muito duro para eles.” | ||
|Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. | ||
|- | |- | ||
|20:41 | |20:41 | ||
|“O pouco tempo que a gente tinha era pra tá tentando cantar as músicas do Roberto, aí graças a Deus eu ganhei um radinho, pude tá ouvindo todos os dias, bem na sofrência essa música, mas ela me marcou e me marca até hoje, (canta música). Isso me emociona muito, porque quando a gente sofria as intempéries de apanhar, de a gente não ter direito a brincar, não ter o seu tempo.” | |“O pouco tempo que a gente tinha era pra tá tentando cantar as músicas do Roberto, aí graças a Deus eu ganhei um radinho, pude tá ouvindo todos os dias, bem na sofrência essa música, mas ela me marcou e me marca até hoje, (canta música). Isso me emociona muito, porque quando a gente sofria as intempéries de apanhar, de a gente não ter direito a brincar, não ter o seu tempo.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|21:40 | |21:40 | ||
|“Quando o Educandário Alzira Bley ele está exatamente de frente pra história de Cariacica e do lado da história de Cariacica. Hoje a história do município de Cariacica de 128 anos, nós estamos de frente para um monumento que se chama Moxuara. E do lado direito, a fundação de Cariacica sede. Que é a igreja São João Batista.” | |“Quando o Educandário Alzira Bley ele está exatamente de frente pra história de Cariacica e do lado da história de Cariacica. Hoje a história do município de Cariacica de 128 anos, nós estamos de frente para um monumento que se chama Moxuara. E do lado direito, a fundação de Cariacica sede. Que é a igreja São João Batista.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|22:01 | |22:01 | ||
|“E quando nós íamos pra cá, algumas crianças nasciam com a doença, nós tínhamos um, um prédio chamado observação, era feito uma triagem dessas crianças, se elas padecessem com manchas, era mandado diretamente para a Colônia pra ser interno mesmo na idade da infância. Então, já passavam a sofrer os mesmos danos, os mesmos maus tratos que os pais sofriam.” | |“E quando nós íamos pra cá, algumas crianças nasciam com a doença, nós tínhamos um, um prédio chamado observação, era feito uma triagem dessas crianças, se elas padecessem com manchas, era mandado diretamente para a Colônia pra ser interno mesmo na idade da infância. Então, já passavam a sofrer os mesmos danos, os mesmos maus tratos que os pais sofriam.” | ||
|Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Tortura de criança. | ||
|- | |- | ||
|22:22 | |22:22 | ||
|“Ilustre? Não foi de autoridade. Foi das pessoas que tinham da igreja, ou as pessoas de fora daqui, que não tinham assim. Eles se juntavam um grupo de jovens e vinham cantarolar com a gente, participar de brincadeiras lúdicas, né? Isso pra mim. Eles saíam daqui, saiam chorando com vontade inclusive de fazer adoção com a gente. Eu tive um momento até pra ser adotado, minha mãe não deixou, um casal italiano. Aquilo, quando eu vi eles indo embora, eu cheguei a chorar, mas quando eles vieram, eu fiquei sabendo que eles queriam me adotar. A ‘vó’ era uma mãe dois, aqui para nós interno, apesar de eu já ter saído daqui mas nessa época, não existia mais a internação compulsória aqui dentro do educandária, existia sim um atendimento socioeducativo num novo, nova filosofia de atendimento socio ao estatuto do ECA. | |“Ilustre? Não foi de autoridade. Foi das pessoas que tinham da igreja, ou as pessoas de fora daqui, que não tinham assim. Eles se juntavam um grupo de jovens e vinham cantarolar com a gente, participar de brincadeiras lúdicas, né? Isso pra mim. Eles saíam daqui, saiam chorando com vontade inclusive de fazer adoção com a gente. Eu tive um momento até pra ser adotado, minha mãe não deixou, um casal italiano. Aquilo, quando eu vi eles indo embora, eu cheguei a chorar, mas quando eles vieram, eu fiquei sabendo que eles queriam me adotar. A ‘vó’ era uma mãe dois, aqui para nós interno, apesar de eu já ter saído daqui mas nessa época, não existia mais a internação compulsória aqui dentro do educandária, existia sim um atendimento socioeducativo num novo, nova filosofia de atendimento socio ao estatuto do ECA. | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|23:29 | |23:29 | ||
|“Eu era a ‘vó’ até dos jovens. Todo mundo me chamava de vó. Até pessoas que chegavam de fora, procuravam pela ‘vó’. Eu fui sempre a ‘vó’ aqui. Tinha a Jandira, tinha irmã Lina, que eram nossas chefes, tinha as funcionárias, né? Que eram minhas colegas, minhas companheiras. Muita criança, muita criança mesmo.” | |“Eu era a ‘vó’ até dos jovens. Todo mundo me chamava de vó. Até pessoas que chegavam de fora, procuravam pela ‘vó’. Eu fui sempre a ‘vó’ aqui. Tinha a Jandira, tinha irmã Lina, que eram nossas chefes, tinha as funcionárias, né? Que eram minhas colegas, minhas companheiras. Muita criança, muita criança mesmo.” | ||
|Maria Malta da Silva – Vó (ex-funcionária do educandário Alzira Bley) | |Maria Malta da Silva – Vó (ex-funcionária do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|24:03:00 | |24:03:00 | ||
|“E o padre Matias ele é um percursor, ele é um, ele é um protetor dos pais da doença, ele é um defensor e ele deu muito da tua vida a causa da hanseníase. E não só a proteção aos filhos, ele tinha uma interferência muito grande junto aos governos, né? Junto aos políticos e junto sociedade privada. Então, todo domingo ele vinha fazer as celebrações aqui.” | |“E o padre Matias ele é um percursor, ele é um, ele é um protetor dos pais da doença, ele é um defensor e ele deu muito da tua vida a causa da hanseníase. E não só a proteção aos filhos, ele tinha uma interferência muito grande junto aos governos, né? Junto aos políticos e junto sociedade privada. Então, todo domingo ele vinha fazer as celebrações aqui.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|24:41:00 | |24:41:00 | ||
|“Quando tinha o batismo o padre que fazia, ele ia lá celebrar, batizava as crianças, tinha madrinha. E eu fui madrinha de várias crianças lá. Não me lembro mais o nome das crianças que eu batizei.” | |“Quando tinha o batismo o padre que fazia, ele ia lá celebrar, batizava as crianças, tinha madrinha. E eu fui madrinha de várias crianças lá. Não me lembro mais o nome das crianças que eu batizei.” | ||
|Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | |Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|24:58:00 | |24:58:00 | ||
|“Aqui o Educandário é espaço de receber várias entidades religiosas inclusive arcebispos tanto do Brasil quanto daqui no Espírito Santo.” | |“Aqui o Educandário é espaço de receber várias entidades religiosas inclusive arcebispos tanto do Brasil quanto daqui no Espírito Santo.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|25:08:00 | |25:08:00 | ||
|“Mas se eu pudesse mudar alguma coisa e voltar, eu queria ter sido um diretor daqui. Ter me preparado pra ser um dirigente do Educandário Alzira Bley. Mudaria exatamente o tratamento. Não tratava as crianças como se fossem escravos do Alzira Bley, do educandário. Porque nós éramos tratados praticamente como escravos. As funções, as manutenções, as pinturas, tudo aqui era feito na base da grosseria não tinha um tratamento, sabe? Como irmão pra isso. Eles botavam as pessoas mais velhas pra administrar cada um no seu entendimento e havia um tratamento muito desigual. Às vezes até surras. Né? Gritarias e maus tratos. Eu mudaria tudo isso.” | |“Mas se eu pudesse mudar alguma coisa e voltar, eu queria ter sido um diretor daqui. Ter me preparado pra ser um dirigente do Educandário Alzira Bley. Mudaria exatamente o tratamento. Não tratava as crianças como se fossem escravos do Alzira Bley, do educandário. Porque nós éramos tratados praticamente como escravos. As funções, as manutenções, as pinturas, tudo aqui era feito na base da grosseria não tinha um tratamento, sabe? Como irmão pra isso. Eles botavam as pessoas mais velhas pra administrar cada um no seu entendimento e havia um tratamento muito desigual. Às vezes até surras. Né? Gritarias e maus tratos. Eu mudaria tudo isso.” | ||
|Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | |Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | ||
| | |Tortura de criança. | ||
|- | |- | ||
|25:49:00 | |25:49:00 | ||
|“A única tristeza pra mim, que eu cito é que a separação ela traz danos, ela traz danos psicológicos, ela traz dano moral, ela traz dano estrutural de familiar. Porque quando a gente sai daqui, sai despreparado, é expulso da instituição, não foi dado para nós de nada de termos um lar e a gente é subjugado pra ir morar com o nosso familiar, sem um familiar realmente tá preparado, inclusive por amor, carinho, pela falta.” | |“A única tristeza pra mim, que eu cito é que a separação ela traz danos, ela traz danos psicológicos, ela traz dano moral, ela traz dano estrutural de familiar. Porque quando a gente sai daqui, sai despreparado, é expulso da instituição, não foi dado para nós de nada de termos um lar e a gente é subjugado pra ir morar com o nosso familiar, sem um familiar realmente tá preparado, inclusive por amor, carinho, pela falta.” | ||
|Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | |Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | ||
| | |Violência psicológica, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. | ||
|} | |} | ||
Linha 917: | Linha 917: | ||
|“No educandário, as visitas era assim, dum lado da janela secretaria, né? Tinha secretaria e tinha a janela. Só que a visita, a minha mãe ficava de um lado e eu ficava do outro” | |“No educandário, as visitas era assim, dum lado da janela secretaria, né? Tinha secretaria e tinha a janela. Só que a visita, a minha mãe ficava de um lado e eu ficava do outro” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
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|02:42 | |02:42 | ||
|“Mas era difícil de ver pai e mãe, porque o parlatório ele era muito alto e eu era baixinha. Eu não conseguia ver. Eu só conseguia ver minha mãe, que minha mãe tinha tireoide, parecia que ela tinha uma outra cabeça, eu achava que era bicho papão” | |“Mas era difícil de ver pai e mãe, porque o parlatório ele era muito alto e eu era baixinha. Eu não conseguia ver. Eu só conseguia ver minha mãe, que minha mãe tinha tireoide, parecia que ela tinha uma outra cabeça, eu achava que era bicho papão” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|02:57 | |02:57 | ||
|“Minha mãe olhava a gente pelo vidrinho, num lugar chamado parlatório, a gente, ela era interna, ficava ali, olhava a gente pelo vidrinho, que não podia ter contato com a gente” | |“Minha mãe olhava a gente pelo vidrinho, num lugar chamado parlatório, a gente, ela era interna, ficava ali, olhava a gente pelo vidrinho, que não podia ter contato com a gente” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|03:16 | |03:16 | ||
|“Eu acho que eu tinha uns quatro, cinco anos, né? Eu vi as criança, né? A família das criança, e pensava na minha família, né? Aí a minha vó sempre ia me visitar, minha tia, meu tio, né? E eu sempre perguntava pela minha mãe, né? Aí minha vó falou, a tua mãe vai vir aqui um dia. Foi passando, né?” | |“Eu acho que eu tinha uns quatro, cinco anos, né? Eu vi as criança, né? A família das criança, e pensava na minha família, né? Aí a minha vó sempre ia me visitar, minha tia, meu tio, né? E eu sempre perguntava pela minha mãe, né? Aí minha vó falou, a tua mãe vai vir aqui um dia. Foi passando, né?” | ||
|Giovana Ferreira (filha) | |Giovana Ferreira (filha) | ||
| | |Não contém. | ||
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|03:37 | |03:37 | ||
|“Só que eu não me conformava com aquilo. Porque eu queria ter o contato com a minha mãe, eu queria ter o amor. Sentir o carinho como um todo mundo sente. O abraço, o carinho duma mãe, a gente viver separado é muito triste” | |“Só que eu não me conformava com aquilo. Porque eu queria ter o contato com a minha mãe, eu queria ter o amor. Sentir o carinho como um todo mundo sente. O abraço, o carinho duma mãe, a gente viver separado é muito triste” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
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|04:00 | |04:00 | ||
|“Então, eu fugia, fugia pro lado de fora, eu via a porta aberta, eu fugia, e lá eles me davam um beliscão porque não podia ficar perto da minha mãe. Que a minha mãe era leprosa e não podia ficar.” | |“Então, eu fugia, fugia pro lado de fora, eu via a porta aberta, eu fugia, e lá eles me davam um beliscão porque não podia ficar perto da minha mãe. Que a minha mãe era leprosa e não podia ficar.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Violência psicológica. | ||
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|04:14 | |04:14 | ||
|“Escola. Eu não tinha amigo. Todo mundo quando me via dizia ‘ah lá, o filho do leproso lá’ eu era praticamente sozinho” | |“Escola. Eu não tinha amigo. Todo mundo quando me via dizia ‘ah lá, o filho do leproso lá’ eu era praticamente sozinho” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida, violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|04:24 | |04:24 | ||
|“Fomos muito humilhado por causa da situação da nossa mãe. Era doente, a gente era chamado de leproso, sabe, ‘filho de leproso, é leproso’” | |“Fomos muito humilhado por causa da situação da nossa mãe. Era doente, a gente era chamado de leproso, sabe, ‘filho de leproso, é leproso’” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida, violência psicológica. | ||
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|05:26 | |05:26 | ||
|“Em 1939, quando eu então era, tinha 11 anos e foi suspeita de que eu era doente. Então eu fiz meus exames no posto de saúde, com o doutor Guaraná de Barros e foi constatado a minha doença, ser portador de Hanseníase.” | |“Em 1939, quando eu então era, tinha 11 anos e foi suspeita de que eu era doente. Então eu fiz meus exames no posto de saúde, com o doutor Guaraná de Barros e foi constatado a minha doença, ser portador de Hanseníase.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
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|05:50 | |05:50 | ||
|“Eu comecei a saber que estava doente, quando eu tinha, hm, não sei a idade, era criancinha, né? Brincando, rodando. Aí, machuquei joelho e não senti nada, quando eu falei com a minha mãe, ela já sabia que eu era doente, sabe? Mas não providenciou internação pra mim.” | |“Eu comecei a saber que estava doente, quando eu tinha, hm, não sei a idade, era criancinha, né? Brincando, rodando. Aí, machuquei joelho e não senti nada, quando eu falei com a minha mãe, ela já sabia que eu era doente, sabe? Mas não providenciou internação pra mim.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|06:18 | |06:18 | ||
|“Ainda era no tempo de muito preconceito, né? Então, havia até mesmo algumas discriminações. E o que mais me doeu foi que quando eu era criança, então eu estava junto dos meus pais, quando chegou um carro, que mais parecia, posso falar a verdade? Que mais parecia uma carrocinha de carregar cachorro e fui pegado então e trazido pelo guarda sanitário, que diziam, naquela época, guarda de saúde, chamaram, que a gente conhecia Manoel Manetto, que ele não tinha uma mão. Ele chegou e me pegou, e me trouxe sem coisa (inaudível) como se eu fosse assim um animal que estava sendo escorraçado, pra livrar a sociedade.” | |“Ainda era no tempo de muito preconceito, né? Então, havia até mesmo algumas discriminações. E o que mais me doeu foi que quando eu era criança, então eu estava junto dos meus pais, quando chegou um carro, que mais parecia, posso falar a verdade? Que mais parecia uma carrocinha de carregar cachorro e fui pegado então e trazido pelo guarda sanitário, que diziam, naquela época, guarda de saúde, chamaram, que a gente conhecia Manoel Manetto, que ele não tinha uma mão. Ele chegou e me pegou, e me trouxe sem coisa (inaudível) como se eu fosse assim um animal que estava sendo escorraçado, pra livrar a sociedade.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Tortura de criança, violência psicológica, dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|07:20 | |07:20 | ||
|“E depois denunciaram eu e foi um carro lá pra me pegar. Aí quando eles foram pra me pegar eu já tinha 16 anos.” | |“E depois denunciaram eu e foi um carro lá pra me pegar. Aí quando eles foram pra me pegar eu já tinha 16 anos.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|07:32 | |07:32 | ||
|“Antigamente a minha pele, era toda cheia de manchinha na pele, sabe? Então como eu frequentava muita praia, eu pensava que era micose de praia. Mas não era micose de praia, era hanseníase.” | |“Antigamente a minha pele, era toda cheia de manchinha na pele, sabe? Então como eu frequentava muita praia, eu pensava que era micose de praia. Mas não era micose de praia, era hanseníase.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|07:45 | |07:45 | ||
|“Eu vivia em uma casa sozinha. Sem comida, sem nada, catava fruta do pasto pra comer. Fui isolada, com medo, em um casarão de seis conto. Até o dia que eles me pegaram.” | |“Eu vivia em uma casa sozinha. Sem comida, sem nada, catava fruta do pasto pra comer. Fui isolada, com medo, em um casarão de seis conto. Até o dia que eles me pegaram.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|08:01 | |08:01 | ||
|“Fui procurar me inteirar sobre a questão da doença e não sabia ainda, na verdade, o que eu tinha, né? Quando chegou na cirurgia, que era pra mim ter no caso, que tinha os filhos aqui, chegou a época de eu ter a filha, a Giovana. Ai uma pessoa, depois que eu a tive, falou assim pra mim ‘Tu não vai poder ficar com a tua filha não’ eu falei ‘ué, mas por quê? Se ela é minha filha, nasceu de mim’, ‘tu não sabe o que que você tem não?’ Falei ‘ah, eu sei que eu tenho uma doença de pele. Mas, realmente, o que eu não sei. Vai me afastar da minha filha?’ Falou assim ‘vai, não, já tá’.” | |“Fui procurar me inteirar sobre a questão da doença e não sabia ainda, na verdade, o que eu tinha, né? Quando chegou na cirurgia, que era pra mim ter no caso, que tinha os filhos aqui, chegou a época de eu ter a filha, a Giovana. Ai uma pessoa, depois que eu a tive, falou assim pra mim ‘Tu não vai poder ficar com a tua filha não’ eu falei ‘ué, mas por quê? Se ela é minha filha, nasceu de mim’, ‘tu não sabe o que que você tem não?’ Falei ‘ah, eu sei que eu tenho uma doença de pele. Mas, realmente, o que eu não sei. Vai me afastar da minha filha?’ Falou assim ‘vai, não, já tá’.” | ||
|Rita de Cássia (ex-portadora de hanseníase) | |Rita de Cássia (ex-portadora de hanseníase) | ||
| | |Dano ao projeto de vida, violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|08:44 | |08:44 | ||
|“Então meus filhos, quando nascia um, eu botava na casa de um parente. Mas filho da casa de parente fica um mês, uma semana, depois começa a incomodar. Aí eu começava e aí, e assim começou, eu aí falei pra minha mulher, eu aluguei um barraco, e falei pra ela ‘você vai morar no bairro Santo Antônio e eu fico na colônia. E o que eu puder fazer, eu vou fazer’. Então, saia, às vezes, até escondido pra levar alguma coisa de alimentação pra eles, ou algum dinheirinho que eu arranjasse pra levar. A vida foi tão difícil assim.” | |“Então meus filhos, quando nascia um, eu botava na casa de um parente. Mas filho da casa de parente fica um mês, uma semana, depois começa a incomodar. Aí eu começava e aí, e assim começou, eu aí falei pra minha mulher, eu aluguei um barraco, e falei pra ela ‘você vai morar no bairro Santo Antônio e eu fico na colônia. E o que eu puder fazer, eu vou fazer’. Então, saia, às vezes, até escondido pra levar alguma coisa de alimentação pra eles, ou algum dinheirinho que eu arranjasse pra levar. A vida foi tão difícil assim.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|09:20 | |09:20 | ||
|“Casei, sou pai de dois filhos, mas meu filho graças a Deus, não contraiu também essa doença. Eles também casaram, mas ele não me discrimina, mas não vem aqui dentro. Eu tenho que ir na casa deles. Eu tenho vergonha de ir na casa deles. Até me falaram que tudo bem, pode vim, mas eu não vou porque, eu vejo, eles não me falam, mas eu vejo que a família deles me trata como fosse uma pessoa assim diferente, sabe? Então, por causa disso, eu tenho vergonha de frequentar a casa deles.” | |“Casei, sou pai de dois filhos, mas meu filho graças a Deus, não contraiu também essa doença. Eles também casaram, mas ele não me discrimina, mas não vem aqui dentro. Eu tenho que ir na casa deles. Eu tenho vergonha de ir na casa deles. Até me falaram que tudo bem, pode vim, mas eu não vou porque, eu vejo, eles não me falam, mas eu vejo que a família deles me trata como fosse uma pessoa assim diferente, sabe? Então, por causa disso, eu tenho vergonha de frequentar a casa deles.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|09:57 | |09:57 | ||
|“Três anos que eu estava na colônia, eu casei. Aí, quando dois meses de casado, eu fiquei grávida. Logo que nasceu a criança, eles tiraram na mesma hora e levaram para o educandário. Dois meninos e uma menina. Aí depois mandaram a carta pra mim que a menina tinha morrido mas não me deu atestado de óbito, nem nada. Falou que ela tinha morrido. Mas não deu atestado de óbito e nem nada. E aí eu peguei, tirei o menino. Tirei o menino porque, falei assim, se não vai acabar com tudo, né? A única família que eu tenho agora é esse filho.” | |“Três anos que eu estava na colônia, eu casei. Aí, quando dois meses de casado, eu fiquei grávida. Logo que nasceu a criança, eles tiraram na mesma hora e levaram para o educandário. Dois meninos e uma menina. Aí depois mandaram a carta pra mim que a menina tinha morrido mas não me deu atestado de óbito, nem nada. Falou que ela tinha morrido. Mas não deu atestado de óbito e nem nada. E aí eu peguei, tirei o menino. Tirei o menino porque, falei assim, se não vai acabar com tudo, né? A única família que eu tenho agora é esse filho.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|12:36 | |12:36 | ||
|“Fui pro colégio interno, né? E lá fui logo pro berçário, aí passou-se alguns anos, né? Foi quando a minha mãe foi lá, me visitar no colégio interno. Só que ela não pode me falar que era minha mãe, ela botou uma peruca, se fingiu de minha tia, né? E botou uma peruca e falou no meu ouvido, né? Que ela era minha mãe. Eu queria gritar, mas ela não podia, não podia gritar porque ela é um segredo meu e dela, né? Ela falou, você não pode falar que eu sou mãe porque senão não vou poder mais vir visitar você aqui.” | |“Fui pro colégio interno, né? E lá fui logo pro berçário, aí passou-se alguns anos, né? Foi quando a minha mãe foi lá, me visitar no colégio interno. Só que ela não pode me falar que era minha mãe, ela botou uma peruca, se fingiu de minha tia, né? E botou uma peruca e falou no meu ouvido, né? Que ela era minha mãe. Eu queria gritar, mas ela não podia, não podia gritar porque ela é um segredo meu e dela, né? Ela falou, você não pode falar que eu sou mãe porque senão não vou poder mais vir visitar você aqui.” | ||
|Giovana Ferreira (filha) | |Giovana Ferreira (filha) | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|13:10 | |13:10 | ||
|“Quando foi em 1979 meu pai faleceu e foi quando começou uma revolução lá no educandário pra troca de presidente. A nova presidente que ia entrar no lugar da outra, não quis que ficasse nenhuma criança que fosse filho de hanseniano aqui, lá no educandário. Então tinha crianças, tinha bebês também, aí queriam me transferir para outro orfanato, aí eu falei ‘eu não vou pra outro orfanato. Eu quero ir pra casa da minha mãe.’ Acabou que meu pai faleceu em abril. Aí quando foi em maio estava fazendo um mês que meu pai faleceu, minha mãe foi lá me tirar. Foi em um domingo, dia 29 de maio de 1979. Minha mãe me trouxe pra cá pra mim vim morar com ela. Chegando na portaria, o guarda falou que ela não podia ficar com eu, não podia subir com ela e já estava na hora dela subir, ela não podia voltar nem pra me levar de volta pra lugar nenhum. Ou seja, a minha mãe subiu pra ir pra casa e eu fiquei na portaria, esperando, eu falei, eu vou voltar para o educandário.” | |“Quando foi em 1979 meu pai faleceu e foi quando começou uma revolução lá no educandário pra troca de presidente. A nova presidente que ia entrar no lugar da outra, não quis que ficasse nenhuma criança que fosse filho de hanseniano aqui, lá no educandário. Então tinha crianças, tinha bebês também, aí queriam me transferir para outro orfanato, aí eu falei ‘eu não vou pra outro orfanato. Eu quero ir pra casa da minha mãe.’ Acabou que meu pai faleceu em abril. Aí quando foi em maio estava fazendo um mês que meu pai faleceu, minha mãe foi lá me tirar. Foi em um domingo, dia 29 de maio de 1979. Minha mãe me trouxe pra cá pra mim vim morar com ela. Chegando na portaria, o guarda falou que ela não podia ficar com eu, não podia subir com ela e já estava na hora dela subir, ela não podia voltar nem pra me levar de volta pra lugar nenhum. Ou seja, a minha mãe subiu pra ir pra casa e eu fiquei na portaria, esperando, eu falei, eu vou voltar para o educandário.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|14:11 | |14:11 | ||
|“Minha mãe foi lá no colégio interno. Foi minha mãe, foi o marido dela, né? Que eu considerava como pai, né? Aí eu falei assim, ‘eu vou sair daqui?’, ‘Você vai sair daqui’, ‘Hoje?’, ‘Você vai sair daqui hoje’, ‘Tem certeza?’, ‘Tenho’. Aí tá. Aí ela, né? Teve um negócio lá, tinha que fazer lá. Aí eu saí do colégio interno, né? Quando eu saí de lá, eu tava dentro do carro, aí minha mãe perguntou, ‘Que que você quer?’, ‘O que eu quero? Posso falar?’, ‘Pode’, ‘Ah, eu quero comer muito doce, muito doce’, Aí, paramos num lugar, eu comi tanto doce, mas tanto doce que eu passei mal.” | |“Minha mãe foi lá no colégio interno. Foi minha mãe, foi o marido dela, né? Que eu considerava como pai, né? Aí eu falei assim, ‘eu vou sair daqui?’, ‘Você vai sair daqui’, ‘Hoje?’, ‘Você vai sair daqui hoje’, ‘Tem certeza?’, ‘Tenho’. Aí tá. Aí ela, né? Teve um negócio lá, tinha que fazer lá. Aí eu saí do colégio interno, né? Quando eu saí de lá, eu tava dentro do carro, aí minha mãe perguntou, ‘Que que você quer?’, ‘O que eu quero? Posso falar?’, ‘Pode’, ‘Ah, eu quero comer muito doce, muito doce’, Aí, paramos num lugar, eu comi tanto doce, mas tanto doce que eu passei mal.” | ||
|Giovana Ferreira (filha) | |Giovana Ferreira (filha) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|14:53 | |14:53 | ||
|“Ai no dia seguinte, minha mãe teve que ir lá e dar um jeito, aí ela arrumou. Tinha duas professoras que davam aula de reforço pra gente, né? Elas falaram ‘Se a senhora quiser, a gente pode ficar com a filha. A gente mora na praça seca, mora perto, ela vai poder visitar a senhora, quando ela quiser, quando ela puder’ e ela falou pra ela ‘Então, tá. Não, mas eu não quero saber dela também não, já que não pode morar comigo, porque que eu vou querer ficar sabendo dela’.” | |“Ai no dia seguinte, minha mãe teve que ir lá e dar um jeito, aí ela arrumou. Tinha duas professoras que davam aula de reforço pra gente, né? Elas falaram ‘Se a senhora quiser, a gente pode ficar com a filha. A gente mora na praça seca, mora perto, ela vai poder visitar a senhora, quando ela quiser, quando ela puder’ e ela falou pra ela ‘Então, tá. Não, mas eu não quero saber dela também não, já que não pode morar comigo, porque que eu vou querer ficar sabendo dela’.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|15:17 | |15:17 | ||
|“Sai do Educandário, fui pra casa dos outro. Humilhada, sendo humilhada, sendo maltratada. Não podia ter contato com a sociedade. Eu, pra mim poder lavar a louça eu tinha que botar luva, botar a roupa listrada. Até hoje eu tenho um trauma de roupa listrada, não gosto de roupa listrada, eu não gosto de roupa a quadriculada. Que me faz relembrar tudo aquilo que eu passei. Eu não gosto. Então, (choro) (inaudível) roupa listrada.” | |“Sai do Educandário, fui pra casa dos outro. Humilhada, sendo humilhada, sendo maltratada. Não podia ter contato com a sociedade. Eu, pra mim poder lavar a louça eu tinha que botar luva, botar a roupa listrada. Até hoje eu tenho um trauma de roupa listrada, não gosto de roupa listrada, eu não gosto de roupa a quadriculada. Que me faz relembrar tudo aquilo que eu passei. Eu não gosto. Então, (choro) (inaudível) roupa listrada.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Violência psicológica, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. | ||
|- | |- | ||
|15:55 | |15:55 | ||
|“Minha mãe me tirou com os 12 anos de idade. Fiquei com ela há pouco tempo. Meu pai foi a falecer. Morreu de acidente de moto. Voltei pra pro segundo educandário. Que é a escola Kenzi. Sofri. Vivi também muito na casa de parente que ficava o dia todo trancado, às vezes deixava, não podia mexer em nada. Esperava chegar. Aí, eu sei que foi um sofrimento mesmo.” | |“Minha mãe me tirou com os 12 anos de idade. Fiquei com ela há pouco tempo. Meu pai foi a falecer. Morreu de acidente de moto. Voltei pra pro segundo educandário. Que é a escola Kenzi. Sofri. Vivi também muito na casa de parente que ficava o dia todo trancado, às vezes deixava, não podia mexer em nada. Esperava chegar. Aí, eu sei que foi um sofrimento mesmo.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|16:27 | |16:27 | ||
|“Eu estava com 38 anos. Foi quando eu resolvi morar com a minha mãe. (inaudível) fiz aí a convivência com a minha mãe. E foi uma convivência muito difícil, porque minha mãe, ela era uma pessoa muito revoltada com a doença. Ela não aceitava os filhos, que ela falava que não gostava de nenhum, porque ninguém era doente igual a ela. E ela me ofereceu um quarto pra mim dormir. Ela falava aqui na minha casa você vai ter só um quarto, pra você dormir, um banheiro pra usar e a porta da saída pra você ir trabalhar e viver tua vida.” | |“Eu estava com 38 anos. Foi quando eu resolvi morar com a minha mãe. (inaudível) fiz aí a convivência com a minha mãe. E foi uma convivência muito difícil, porque minha mãe, ela era uma pessoa muito revoltada com a doença. Ela não aceitava os filhos, que ela falava que não gostava de nenhum, porque ninguém era doente igual a ela. E ela me ofereceu um quarto pra mim dormir. Ela falava aqui na minha casa você vai ter só um quarto, pra você dormir, um banheiro pra usar e a porta da saída pra você ir trabalhar e viver tua vida.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Sequelas da violência, dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|17:01 | |17:01 | ||
|“Hoje eu tô aí com ela, mas eu nunca vou chegar e vou jogar na cara dela lá, porque, eu não vivi com a senhora, entendeu? A minha irmã já, as vezes quando tem discussão, a minha irmã fala, ‘A senhora não criou a gente. A senhora nunca deu um carinho’. Realmente, nunca deu mesmo. Nunca. Nunca tive um carinho da minha mãe, nunca. Até hoje. Nunca. As vezes eu chego perto dela pra dar um beijo, ela fala assim ‘sai pra lá’.” | |“Hoje eu tô aí com ela, mas eu nunca vou chegar e vou jogar na cara dela lá, porque, eu não vivi com a senhora, entendeu? A minha irmã já, as vezes quando tem discussão, a minha irmã fala, ‘A senhora não criou a gente. A senhora nunca deu um carinho’. Realmente, nunca deu mesmo. Nunca. Nunca tive um carinho da minha mãe, nunca. Até hoje. Nunca. As vezes eu chego perto dela pra dar um beijo, ela fala assim ‘sai pra lá’.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Sequelas da violência, dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|17:31 | |17:31 | ||
|“Eu morei uns dez anos com ela, depois ela teve câncer nos ossos. Mesmo assim eu me preocupava com ela, eu aceitava a situação dela, porque eu sabia que ela era revoltada. Quando eu comecei a entender o que era a vida, aí via, poxa, eu sofri, mas ela também sofreu bastante, né? E eu achei que a situação dela.” | |“Eu morei uns dez anos com ela, depois ela teve câncer nos ossos. Mesmo assim eu me preocupava com ela, eu aceitava a situação dela, porque eu sabia que ela era revoltada. Quando eu comecei a entender o que era a vida, aí via, poxa, eu sofri, mas ela também sofreu bastante, né? E eu achei que a situação dela.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|17:50 | |17:50 | ||
|“Fui morar com minha mãe, ela nos tirou de lá porque se não, nos tirasse de lá, não sei o que que ia acontecer, porque muita gente, muitos familiares até hoje não encontrou seus filho. Tem um bocado de mãe aí, pai que não sabe o paradeiro dos filhos. Então, para que evitasse isso ou coisa pior eles, eles nos tiraram de lá, né? E pra, para o seio deles, em família, né?” | |“Fui morar com minha mãe, ela nos tirou de lá porque se não, nos tirasse de lá, não sei o que que ia acontecer, porque muita gente, muitos familiares até hoje não encontrou seus filho. Tem um bocado de mãe aí, pai que não sabe o paradeiro dos filhos. Então, para que evitasse isso ou coisa pior eles, eles nos tiraram de lá, né? E pra, para o seio deles, em família, né?” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida | ||
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|20:30 | |20:30 | ||
|“É, olha só, a liberdade é a pessoa poder ir e vir, né? É que antigamente, as pessoas não, não podia ir e nem vir. E hoje em dia pode. Então, algumas coisas que eu fazia, hoje em dia eu não faço. Eu frequentava muito Baile. Eu frequentava muita praia. Frequentava muitas coisas. Então, aqui dentro, aqui, fica um pouco assim, ah, eu não vou no baile, aí, de repente, sempre tem um que pode me discriminar, não vou. Então, quer dizer, eu fico mais aqui dentro da comunidade.” | |“É, olha só, a liberdade é a pessoa poder ir e vir, né? É que antigamente, as pessoas não, não podia ir e nem vir. E hoje em dia pode. Então, algumas coisas que eu fazia, hoje em dia eu não faço. Eu frequentava muito Baile. Eu frequentava muita praia. Frequentava muitas coisas. Então, aqui dentro, aqui, fica um pouco assim, ah, eu não vou no baile, aí, de repente, sempre tem um que pode me discriminar, não vou. Então, quer dizer, eu fico mais aqui dentro da comunidade.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida | ||
|- | |- | ||
|21:05 | |21:05 | ||
|“Que é foi tirada de mim quando nasceu. Na hora que nasceu. Né? Não ficou comigo por causa da doença, que não podia cuidar dela. Eu tenho muita vontade que ficasse. Mas eu desejava muito filho, né? Da de mamar, tinha tanta vontade. Eu vejo agora aí todo mundo dando de mamar as crianças. E tem umas que abandona os filho. E eu querendo meus filhos comigo e não pude ficar. Isso me entristece muito. | |“Que é foi tirada de mim quando nasceu. Na hora que nasceu. Né? Não ficou comigo por causa da doença, que não podia cuidar dela. Eu tenho muita vontade que ficasse. Mas eu desejava muito filho, né? Da de mamar, tinha tanta vontade. Eu vejo agora aí todo mundo dando de mamar as crianças. E tem umas que abandona os filho. E eu querendo meus filhos comigo e não pude ficar. Isso me entristece muito. | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida | ||
|- | |- | ||
|21:56 | |21:56 | ||
|“É difícil. Porque eu pensei até então que chegasse, eu digo assim, a discriminação vai terminar em mim. Mas aí foi pior, porque a discriminação continuou nos meus filhos, como continuou nos filhos de outros.” | |“É difícil. Porque eu pensei até então que chegasse, eu digo assim, a discriminação vai terminar em mim. Mas aí foi pior, porque a discriminação continuou nos meus filhos, como continuou nos filhos de outros.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida | ||
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|22:13 | |22:13 | ||
|“Enquanto eu viver, eu nunca vou esquecer do colégio interno, porque por mais que a gente queira, mas, infelizmente, a gente não esquece. Porque sempre vai ter um momento na nossa vida, que a gente vai lembrar, entendeu?” | |“Enquanto eu viver, eu nunca vou esquecer do colégio interno, porque por mais que a gente queira, mas, infelizmente, a gente não esquece. Porque sempre vai ter um momento na nossa vida, que a gente vai lembrar, entendeu?” | ||
|Giovana Ferreira (filha) | |Giovana Ferreira (filha) | ||
| | |Não contém. | ||
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|22:28 | |22:28 | ||
|“Então eu digo que eu sou muito normal hoje, graças a Deus. Pelo o que eu passei, né? Então, se teve muita gente que teve boas lembranças do Educandário, eu não tive, né?” | |“Então eu digo que eu sou muito normal hoje, graças a Deus. Pelo o que eu passei, né? Então, se teve muita gente que teve boas lembranças do Educandário, eu não tive, né?” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
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|22:44 | |22:44 | ||
|“É que foi muitas coisas, tem muitas coisas que a gente recorda, as coisas ruim, né? Entendeu? Mas teve alguns momentos, pouco, muito poucos, que foi bom, mas muito pouco. Tive mais, mais coisa ruim na minha vida que momentos bons.” | |“É que foi muitas coisas, tem muitas coisas que a gente recorda, as coisas ruim, né? Entendeu? Mas teve alguns momentos, pouco, muito poucos, que foi bom, mas muito pouco. Tive mais, mais coisa ruim na minha vida que momentos bons.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
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|23:07 | |23:07 | ||
|“Hoje assim ,eu me sinto uma mulher, assim, muito rica, uma mulher muito feliz, porque hoje eu tenho esse prazer. Eu sinto, muito feliz mesmo. Que eu posso ir lá fora, comprar, hoje eu posso escolher, pode ter minha casa, eu posso escolher como eu quero decorar minha casa. Então, eu só tenho assim. O Budismo ele vem me agradecendo muito nessa parte. A minha religião. Então, assim, eu agradeço muito o budismo. Por essa, por essa força que tem me mostrado. Que essa força ela está dentro de mim. Então, eu acredito muito. Se hoje eu não fiz besteira na minha vida, eu agradeço muito ao budismo. Por ter mostrado que isso aí faz parte da minha vida, eu tinha passado tudo, tudo isso na minha vida. Então, hoje, assim, eu, tenho 22 anos de prática dentro do budismo e sou muito grata a essa religião, que me vem trazer assim a minha felicidade. Então, hoje, só tenho a contar, assim, felicidade só, coisas boas na minha vida.” | |“Hoje assim ,eu me sinto uma mulher, assim, muito rica, uma mulher muito feliz, porque hoje eu tenho esse prazer. Eu sinto, muito feliz mesmo. Que eu posso ir lá fora, comprar, hoje eu posso escolher, pode ter minha casa, eu posso escolher como eu quero decorar minha casa. Então, eu só tenho assim. O Budismo ele vem me agradecendo muito nessa parte. A minha religião. Então, assim, eu agradeço muito o budismo. Por essa, por essa força que tem me mostrado. Que essa força ela está dentro de mim. Então, eu acredito muito. Se hoje eu não fiz besteira na minha vida, eu agradeço muito ao budismo. Por ter mostrado que isso aí faz parte da minha vida, eu tinha passado tudo, tudo isso na minha vida. Então, hoje, assim, eu, tenho 22 anos de prática dentro do budismo e sou muito grata a essa religião, que me vem trazer assim a minha felicidade. Então, hoje, só tenho a contar, assim, felicidade só, coisas boas na minha vida.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
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Linha 1 107: | Linha 1 107: | ||
|“Eu não gosto nem de me lembrar disso não, você não sabe o quanto que me machucou e o quanto me machuca isso ainda. A gente não podia pegar em nada e nem em canto nenhum. Era uma humilhação da moléstia” | |“Eu não gosto nem de me lembrar disso não, você não sabe o quanto que me machucou e o quanto me machuca isso ainda. A gente não podia pegar em nada e nem em canto nenhum. Era uma humilhação da moléstia” | ||
|Antônio de Melo | |Antônio de Melo | ||
| | |Dano ao projeto de vida, violência psicológica. | ||
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|01:58 | |01:58 | ||
|“Que eu nasci e me criei, foi assim, andando no campo atras de gado, de ovelha, de cabra.” | |“Que eu nasci e me criei, foi assim, andando no campo atras de gado, de ovelha, de cabra.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
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|02:13 | |02:13 | ||
|“Eu trabalho nesse ramo de sorvete né, de vender sorvete aqui no Ceará. Porque as praias aqui em Fortaleza são muito quente e o sol pegando fogo. Eu saio para trabalhar Todo Santo dia não tem um dia que eu não saio para trabalhar” | |“Eu trabalho nesse ramo de sorvete né, de vender sorvete aqui no Ceará. Porque as praias aqui em Fortaleza são muito quente e o sol pegando fogo. Eu saio para trabalhar Todo Santo dia não tem um dia que eu não saio para trabalhar” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
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|02:39 | |02:39 | ||
|“Eu tiro meu sustento daqui, minha vida é aqui. Ai comecei a plantar, primeiramente plantei milho e depois essa parte de macaxeira ai, e estou pensando em plantar mais sabe.” | |“Eu tiro meu sustento daqui, minha vida é aqui. Ai comecei a plantar, primeiramente plantei milho e depois essa parte de macaxeira ai, e estou pensando em plantar mais sabe.” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Não contém. | ||
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|03:16 | |03:16 | ||
|“por favor peço licença para contar uma história dessa tal de hanseniase que eu trago na memória esta história de tão velha já se ouviu no Egito antigo fomos duramente aprisionados todos por crime nunca cometido” | |“por favor peço licença para contar uma história dessa tal de hanseniase que eu trago na memória esta história de tão velha já se ouviu no Egito antigo fomos duramente aprisionados todos por crime nunca cometido” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
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|03:41 | |03:41 | ||
|“Meu pai é chamado de bulha de feijão, ele passava a noite toda contando história ou cantando o verso e eu ficava lá de queixo caído olhando” | |“Meu pai é chamado de bulha de feijão, ele passava a noite toda contando história ou cantando o verso e eu ficava lá de queixo caído olhando” | ||
|Chico Simião | |Chico Simião | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|04:04 | |04:04 | ||
|“O exame deu positivo. E minha mãe não sabia o que era positivo e nem negativo. Ai ela perguntou ‘o que é?’ é que deu lepra. Ai meu filho quando disse lepra, não ficou ninguém no terraço, ninguém, todo mundo pulou, teve gente até que quebrou perna” | |“O exame deu positivo. E minha mãe não sabia o que era positivo e nem negativo. Ai ela perguntou ‘o que é?’ é que deu lepra. Ai meu filho quando disse lepra, não ficou ninguém no terraço, ninguém, todo mundo pulou, teve gente até que quebrou perna” | ||
|João Batista do Monte | |João Batista do Monte | ||
| | |Violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|04:25 | |04:25 | ||
|“A ambulância era tão atrasada que não tinha aquele sinaleiro que fazia ‘bumbum’ tinha não. Era um cara, ajudante do motorista com a (inaudível) bem grande que ficava abrindo para a gente passar” | |“A ambulância era tão atrasada que não tinha aquele sinaleiro que fazia ‘bumbum’ tinha não. Era um cara, ajudante do motorista com a (inaudível) bem grande que ficava abrindo para a gente passar” | ||
|Antônio de Melo | |Antônio de Melo | ||
| | |Não contém. | ||
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|05:11 | |05:11 | ||
|“o tema desta prosa é longo de todos merecem respeito doía, doía minha gente. Em muitos ainda arde os que sofrem na carne as Chagas do preconceito” | |“o tema desta prosa é longo de todos merecem respeito doía, doía minha gente. Em muitos ainda arde os que sofrem na carne as Chagas do preconceito” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida, violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|05:30 | |05:30 | ||
|“Foi quando eu vim de trem num cargueiro, lá no último vagão, nós lá atras com a janela fechada. | |“Foi quando eu vim de trem num cargueiro, lá no último vagão, nós lá atras com a janela fechada. | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|05:38 | |05:38 | ||
|“Eu me lembro que uma vez eu fui brincar, brincando na hora do recreio, a gente brincando de roda, as meninas dando as mãos. Estendi o braço para a menina pegar a minha mão, a menina olhou assim a minha mão e recusou, não quis pegar” | |“Eu me lembro que uma vez eu fui brincar, brincando na hora do recreio, a gente brincando de roda, as meninas dando as mãos. Estendi o braço para a menina pegar a minha mão, a menina olhou assim a minha mão e recusou, não quis pegar” | ||
|Maria Bernadete Cabral | |Maria Bernadete Cabral | ||
| | |Violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|05:56 | |05:56 | ||
|“O conceito que se tinha naquela época, o fato de vir para cá, era porque eu era um mau elemento lá fora, eu era um sujeito ruim, eu estava carpindo com os meus pecados” | |“O conceito que se tinha naquela época, o fato de vir para cá, era porque eu era um mau elemento lá fora, eu era um sujeito ruim, eu estava carpindo com os meus pecados” | ||
|Flávio Serafim Lisboa | |Flávio Serafim Lisboa | ||
| | |Dano ao projeto de vida, violência psicológica. | ||
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|06:13 | |06:13 | ||
|“Eles assombraram o povo do mundo com a hanseníase, porque pegava no vento” | |“Eles assombraram o povo do mundo com a hanseníase, porque pegava no vento” | ||
|Antônio de Melo | |Antônio de Melo | ||
| | |Não contém. | ||
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|06:19 | |06:19 | ||
|“Esse era o povo que conhecia a gente, aí denunciava a gente” | |“Esse era o povo que conhecia a gente, aí denunciava a gente” | ||
|Raimundo Francisco | |Raimundo Francisco | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|06:43 | |06:43 | ||
|“aí ele chegou em casa às vezes ele passava 8 dias fora de casa. Aí quando ele chegou quando estava em casa, aí ele fez ‘mainha’ me botar para fora de casa” | |“aí ele chegou em casa às vezes ele passava 8 dias fora de casa. Aí quando ele chegou quando estava em casa, aí ele fez ‘mainha’ me botar para fora de casa” | ||
|Telma Maria dos Santos | |Telma Maria dos Santos | ||
| | |Dano ao projeto de vida, violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|06:55 | |06:55 | ||
|“Quando eu cheguei um dia de sábado em casa, só encontrei as duas meninas que eram minha filha que Que ela tomava conta. E ela disse ‘é pai ela pegou os meninos levou’” | |“Quando eu cheguei um dia de sábado em casa, só encontrei as duas meninas que eram minha filha que Que ela tomava conta. E ela disse ‘é pai ela pegou os meninos levou’” | ||
|Nazar de Jesus Costa | |Nazar de Jesus Costa | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|07:09 | |07:09 | ||
|“Eu estava de frente ao portão passou um cidadão a cavalo e caiu o chapéu de palha dele. Ai eu fui entregar para ele, ele foi assim se afastando, bem disfarçado, tampou o nariz e disse ‘fica pra você’”. | |“Eu estava de frente ao portão passou um cidadão a cavalo e caiu o chapéu de palha dele. Ai eu fui entregar para ele, ele foi assim se afastando, bem disfarçado, tampou o nariz e disse ‘fica pra você’”. | ||
|José Arimateia Pirelli | |José Arimateia Pirelli | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|07:28 | |07:28 | ||
|“Isso para mim, o que os outros fizeram para mim não me machucou tanto, como o meu pai me botar para fora de casa” | |“Isso para mim, o que os outros fizeram para mim não me machucou tanto, como o meu pai me botar para fora de casa” | ||
|Telma Maria dos Santos | |Telma Maria dos Santos | ||
| | |Violência psicológica, dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|07:40 | |07:40 | ||
|“Era uma sensação, por mais jovem que eu fosse, criança, eu sentia na pele a dor do desprezo, do descaso e da especulação” | |“Era uma sensação, por mais jovem que eu fosse, criança, eu sentia na pele a dor do desprezo, do descaso e da especulação” | ||
|José Arimateia Pirelli | |José Arimateia Pirelli | ||
| | |Violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|08:07 | |08:07 | ||
|“Inaudível, quando chegou lá o médico veio olhar, disse que ia lá dentro e voltar, e não voltou mais” | |“Inaudível, quando chegou lá o médico veio olhar, disse que ia lá dentro e voltar, e não voltou mais” | ||
|Chico Simião | |Chico Simião | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|08:16 | |08:16 | ||
|“Porque por exemplo, se eu tenho um filho e vai pro colégio lá os amiguinhos chama os meninos daqui de ‘leproso’. Ai tudo isso é este mundo de hoje, acabou, existe preconceito? Existe. O preconceito jamais vai se acabar. é preconceito contra o preto, contra o azul, amarelo, é um preconceito contra o pobre, é um preconceito contra o aidético e o tuberculoso” | |“Porque por exemplo, se eu tenho um filho e vai pro colégio lá os amiguinhos chama os meninos daqui de ‘leproso’. Ai tudo isso é este mundo de hoje, acabou, existe preconceito? Existe. O preconceito jamais vai se acabar. é preconceito contra o preto, contra o azul, amarelo, é um preconceito contra o pobre, é um preconceito contra o aidético e o tuberculoso” | ||
|José Arimateia Pirelli | |José Arimateia Pirelli | ||
| | |Violência psicológica, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. | ||
|- | |- | ||
|08:47 | |08:47 | ||
|“Eu disse, eu vou olhar o mar, pode como o mar é grande, tem muita água, vou olhar. Aí uma moça foi lá perto do motorista, ai eu pensei que ia conversar ou era namorada né, quem sabe né. Quando ela chegou lá, conversou né, cochichou, ai a mulher que estava do lado de mim catucou né e disse ‘ei o senhor de boné vermelho, o motorista esta falando com o senhor’, ai quando eu falei ‘oba’, ele disse ‘olha pode descer que você é incapaz de andar nesse ônibus’, dai eu perguntei ‘o que é que eu tenho?’ e ele disse ‘ce tem lepra’”. | |“Eu disse, eu vou olhar o mar, pode como o mar é grande, tem muita água, vou olhar. Aí uma moça foi lá perto do motorista, ai eu pensei que ia conversar ou era namorada né, quem sabe né. Quando ela chegou lá, conversou né, cochichou, ai a mulher que estava do lado de mim catucou né e disse ‘ei o senhor de boné vermelho, o motorista esta falando com o senhor’, ai quando eu falei ‘oba’, ele disse ‘olha pode descer que você é incapaz de andar nesse ônibus’, dai eu perguntei ‘o que é que eu tenho?’ e ele disse ‘ce tem lepra’”. | ||
|João Batista do Monte | |João Batista do Monte | ||
| | |Violência psicológica, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. | ||
|- | |- | ||
|09:22 | |09:22 | ||
|“Sou paciente portador da hanseníase, enquanto não vê a morte vivo nessa agonia. Até que chegue de Jesus o seu chamado, eu me sinto conformado até chegar o meu dia. Vai meu barquinho, vai navegando em procura de Jesus. Vai meu barquinho, até que chegue num clarão cheio de luz”. | |“Sou paciente portador da hanseníase, enquanto não vê a morte vivo nessa agonia. Até que chegue de Jesus o seu chamado, eu me sinto conformado até chegar o meu dia. Vai meu barquinho, vai navegando em procura de Jesus. Vai meu barquinho, até que chegue num clarão cheio de luz”. | ||
|José Vieira Rocha (cantando) | |José Vieira Rocha (cantando) | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|11:07 | |11:07 | ||
|“Eu cheguei aqui e eu pensei que tinha vindo para o inferno” | |“Eu cheguei aqui e eu pensei que tinha vindo para o inferno” | ||
|Juliano Vieira de Farias | |Juliano Vieira de Farias | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|11:22 | |11:22 | ||
|“Pra dizer a verdade eu tentei suicídio” | |“Pra dizer a verdade eu tentei suicídio” | ||
|Nazar de Jesus Costa | |Nazar de Jesus Costa | ||
| | |Violência psicológica, sequelas da violência, dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|11:45 | |11:45 | ||
|“Levaram sem me falar nada, ai lá descobriram o que eu tinha” | |“Levaram sem me falar nada, ai lá descobriram o que eu tinha” | ||
|Domingas da Silva Costa | |Domingas da Silva Costa | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|11:51 | |11:51 | ||
|“Depois foi que eu passei a ter noção, de onde eu tava, de qual era minha verdadeira situação” | |“Depois foi que eu passei a ter noção, de onde eu tava, de qual era minha verdadeira situação” | ||
|José Arimateia Pirelli | |José Arimateia Pirelli | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|12:02 | |12:02 | ||
|“Doente de todo jeito. Era doente sem perna, doente sem braço, era doente de todo jeito. Eu digo, eu vou ficar do mesmo jeito, meu deus.” | |“Doente de todo jeito. Era doente sem perna, doente sem braço, era doente de todo jeito. Eu digo, eu vou ficar do mesmo jeito, meu deus.” | ||
|Rosimar Maria de Jesus | |Rosimar Maria de Jesus | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|12:22 | |12:22 | ||
|“Me pegaram e me algemaram, hoje em dia eu tenho a marca” | |“Me pegaram e me algemaram, hoje em dia eu tenho a marca” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|12:35 | |12:35 | ||
|“Aqui dentro da colônia se a gente fugia para ir para as quebradas, os policiais iam atras. Usavam até fuzil” | |“Aqui dentro da colônia se a gente fugia para ir para as quebradas, os policiais iam atras. Usavam até fuzil” | ||
|José Arimateira – Pirelli | |José Arimateira – Pirelli | ||
| | |Tortura de criança. | ||
|- | |- | ||
|12:54 | |12:54 | ||
|“Ninguém podia fazer travessura que ia preso (inaudível). E era homem, adulto e criança, não tinha isso não” | |“Ninguém podia fazer travessura que ia preso (inaudível). E era homem, adulto e criança, não tinha isso não” | ||
|Não identificado | |Não identificado | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|13:05 | |13:05 | ||
|“Era de uma barbaridade de tamanho de mundo. Não tenho nem palavras para expressar isso. Parece que era um bocado de pessoas que eles queriam tirar do mundo” | |“Era de uma barbaridade de tamanho de mundo. Não tenho nem palavras para expressar isso. Parece que era um bocado de pessoas que eles queriam tirar do mundo” | ||
|Juliano Vieira de Farias | |Juliano Vieira de Farias | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|13:19 | |13:19 | ||
|“Essa aqui só veio para morrer, eu disse ‘doutor, se você não me der remédio, eu vou morrer mesmo’, ai ele olhou para mim e disse você é ignorante e eu disse ‘sou ignorante, pra esse ponto eu sou ignorante, agora se o senhor não me der meu remédio, eu acho que sim, eu vou morrer, mas se o senhor me tratar muito bem, eu acho que não vou não” | |“Essa aqui só veio para morrer, eu disse ‘doutor, se você não me der remédio, eu vou morrer mesmo’, ai ele olhou para mim e disse você é ignorante e eu disse ‘sou ignorante, pra esse ponto eu sou ignorante, agora se o senhor não me der meu remédio, eu acho que sim, eu vou morrer, mas se o senhor me tratar muito bem, eu acho que não vou não” | ||
|Rosimar Maria de Jesus | |Rosimar Maria de Jesus | ||
| | |Violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|13:43 | |13:43 | ||
|“Isso aqui não era um hospital, isso aqui era um deposito de seres humanos” | |“Isso aqui não era um hospital, isso aqui era um deposito de seres humanos” | ||
|Juliano Vieira de Farias | |Juliano Vieira de Farias | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|13:53 | |13:53 | ||
|“E nos comíamos aqui, um pacote de macarrão para um taxo cheio de agua cozinhar, fazia sopa, o feijão era aquele de terceira, a gente colocava dentro da agua e os bichos subiam tudo” | |“E nos comíamos aqui, um pacote de macarrão para um taxo cheio de agua cozinhar, fazia sopa, o feijão era aquele de terceira, a gente colocava dentro da agua e os bichos subiam tudo” | ||
|Amaro Ramos Pinheiro | |Amaro Ramos Pinheiro | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|14:17 | |14:17 | ||
|“Onde a gente era obrigado a trabalhar, ia preso, apanhava. Tudo isso a gente sofria dentro do leprosário. A gente ia preso aqui pelas coisas mais absurdas que possam acontecer nesse país, porque você pegava uma manga nesse pé eu ia preso cara. Levei três dias de cadeia, nunca matei, nunca estuprei a filha de ninguém, nunca roubei, nunca faltei com o devido respeito ao meu próximo” | |“Onde a gente era obrigado a trabalhar, ia preso, apanhava. Tudo isso a gente sofria dentro do leprosário. A gente ia preso aqui pelas coisas mais absurdas que possam acontecer nesse país, porque você pegava uma manga nesse pé eu ia preso cara. Levei três dias de cadeia, nunca matei, nunca estuprei a filha de ninguém, nunca roubei, nunca faltei com o devido respeito ao meu próximo” | ||
|Juliano Vieira de Farias | |Juliano Vieira de Farias | ||
| | |Tortura de criança, violência psicológica, dano ao projeto de vida. | ||
|} | |} | ||
Linha 1 347: | Linha 1 347: | ||
|“Olha aquilo ali, eu mesmo peço pra todo mundo, pra nunca botar as perna. Porque ali é muito ruim, é muito ruim porque ali a gente era puxão de orelha, puxava os cabelo da gente, era palmatória e ali era, num vou dizer que é bom porque quando a gente é dado aos pais da gente, num tinha como, porque as bolha dágua e as palmatórias na mão da gente. Eu lembro como eu tomava esses remédios controlado, como hoje tomo, fora o da hanse que tomava e eu lembro (inaudível) todo dia eu dormia no chão, não podia dormir na cama, aí todo dia todo eu dormia no chão e todo dia eu apanhava.” | |“Olha aquilo ali, eu mesmo peço pra todo mundo, pra nunca botar as perna. Porque ali é muito ruim, é muito ruim porque ali a gente era puxão de orelha, puxava os cabelo da gente, era palmatória e ali era, num vou dizer que é bom porque quando a gente é dado aos pais da gente, num tinha como, porque as bolha dágua e as palmatórias na mão da gente. Eu lembro como eu tomava esses remédios controlado, como hoje tomo, fora o da hanse que tomava e eu lembro (inaudível) todo dia eu dormia no chão, não podia dormir na cama, aí todo dia todo eu dormia no chão e todo dia eu apanhava.” | ||
|Carmem Lúcia Cavalcanti | |Carmem Lúcia Cavalcanti | ||
| | |Tortura de criança, violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|00:52 | |00:52 | ||
|“Agora só que tinha uma senhora dona Nilza, tinha a Rui, tinha a filha dela, que espancava a gente. Metia a cabeça da gente na parede, espancava a gente, a gente era muito humilhado sobre isso.” | |“Agora só que tinha uma senhora dona Nilza, tinha a Rui, tinha a filha dela, que espancava a gente. Metia a cabeça da gente na parede, espancava a gente, a gente era muito humilhado sobre isso.” | ||
|Zilda Pereira da Silva | |Zilda Pereira da Silva | ||
| | |Tortura de criança, violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|01:08 | |01:08 | ||
|“ Era muito sofrimento, muito sofrimento. Quando minha mãe chegava mesmo eu tinha vontade de pedir ela vim simbora mas não podia, eu chorava quando era nas costas da minha mãe eu apanhava, quando minha mãe ia simbora, (inaudível) vai simbora não, ai metia o cacete em mim, todo santo dia, toda vez que a minha família chegava, ela escondia a minha mão pra não dar a benção, ‘da benção só de boca’.” | |“ Era muito sofrimento, muito sofrimento. Quando minha mãe chegava mesmo eu tinha vontade de pedir ela vim simbora mas não podia, eu chorava quando era nas costas da minha mãe eu apanhava, quando minha mãe ia simbora, (inaudível) vai simbora não, ai metia o cacete em mim, todo santo dia, toda vez que a minha família chegava, ela escondia a minha mão pra não dar a benção, ‘da benção só de boca’.” | ||
|Carmem Lúcia Cavalcanti | |Carmem Lúcia Cavalcanti | ||
| | |Tortura de criança. | ||
|- | |- | ||
|01:34 | |01:34 | ||
|“Eu não sei, eu fui criada ali no colégio, sem mentira nenhuma, de tanto ser assim espancada quando a pessoa vinha me espancar, pensava mesmo assim por exemplo eu ou um garoto (inaudível). Aí pensava, eu brigava porque eu não ia sair só apanhada e três vezes eu fui pro quarto escuro, não vinha nem a luz do sol. Quarto escuro porque só tinha uma porta, ficava dentro do quarto escuro perto da lavanderia.” | |“Eu não sei, eu fui criada ali no colégio, sem mentira nenhuma, de tanto ser assim espancada quando a pessoa vinha me espancar, pensava mesmo assim por exemplo eu ou um garoto (inaudível). Aí pensava, eu brigava porque eu não ia sair só apanhada e três vezes eu fui pro quarto escuro, não vinha nem a luz do sol. Quarto escuro porque só tinha uma porta, ficava dentro do quarto escuro perto da lavanderia.” | ||
|Zilda Pereira da Silva | |Zilda Pereira da Silva | ||
| | |Tortura de criança, violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|02:11 | |02:11 | ||
|Eu vim grávida de lá aí tive uma menina aqui. aí numa maternidade que tinha aí. A última foi eu, tive ela e vi ela enrolaram logo com um lençol aí me levaram pra lá po Guararape. Ai pronto, quando eu fui ver ela já estava com um mês ou mais, pedi licença e fui lá” | |Eu vim grávida de lá aí tive uma menina aqui. aí numa maternidade que tinha aí. A última foi eu, tive ela e vi ela enrolaram logo com um lençol aí me levaram pra lá po Guararape. Ai pronto, quando eu fui ver ela já estava com um mês ou mais, pedi licença e fui lá” | ||
|Maria José de Souza | |Maria José de Souza | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|02:39 | |02:39 | ||
|“Aquela época era uma (inaudível), preconceito, tanto das pessoa que tinha mãe, pai, filho, que era doente vivia doente, era um preconceito, era uma humilhação. Eu não cheguei a conhecer minha mãe. O problema é esse. Quando minha mãe faleceu que eu que, a moça que cuidava da gente, a diretora aí vinha me dizer que minha mãe tinha falecido. Olha, sua mãe morreu, mas eu não sabia o que era o entendimento de morrer, entendeu? Eu tava com dez anos de idade.” | |“Aquela época era uma (inaudível), preconceito, tanto das pessoa que tinha mãe, pai, filho, que era doente vivia doente, era um preconceito, era uma humilhação. Eu não cheguei a conhecer minha mãe. O problema é esse. Quando minha mãe faleceu que eu que, a moça que cuidava da gente, a diretora aí vinha me dizer que minha mãe tinha falecido. Olha, sua mãe morreu, mas eu não sabia o que era o entendimento de morrer, entendeu? Eu tava com dez anos de idade.” | ||
|Zilda Pereira da Silva | |Zilda Pereira da Silva | ||
| | |Violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|04:04 | |04:04 | ||
|“Eu convivia bem dizer aqui lá dentro (inaudível) pra ir pra casa do meu pai entendeu? Era proibido, ele morava lá na Não, eu entrava pra ver meu pai porque eu tinha que ver meu pai, entendeu? Então era escondido” | |“Eu convivia bem dizer aqui lá dentro (inaudível) pra ir pra casa do meu pai entendeu? Era proibido, ele morava lá na Não, eu entrava pra ver meu pai porque eu tinha que ver meu pai, entendeu? Então era escondido” | ||
|Zilda Pereira da Silva | |Zilda Pereira da Silva | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|04:32 | |04:32 | ||
|“(inaudível) pra vim buscar, a primeira coisa que eu fiz do jeito que eu tava com a roupa e sandália eu fui pra cima dela, deixou tudo pra trás tudinho e visembora. Ela fez calma Carmem, calma, aí eu me esqueci até do meu irmão, (inaudível) com medo que eu fosse buscar o meu irmão e ficasse lá, ta me dando até arrepio, ficasse lá, num deixasse eu voltar mais, aí eu comecei gritando por ele, ‘Coinho, coinho, mãe chegou vamos simbora vamos simbora’, aí foi quando ele olhou da janela e desceu e vamos simbora.” | |“(inaudível) pra vim buscar, a primeira coisa que eu fiz do jeito que eu tava com a roupa e sandália eu fui pra cima dela, deixou tudo pra trás tudinho e visembora. Ela fez calma Carmem, calma, aí eu me esqueci até do meu irmão, (inaudível) com medo que eu fosse buscar o meu irmão e ficasse lá, ta me dando até arrepio, ficasse lá, num deixasse eu voltar mais, aí eu comecei gritando por ele, ‘Coinho, coinho, mãe chegou vamos simbora vamos simbora’, aí foi quando ele olhou da janela e desceu e vamos simbora.” | ||
|Carmem Lúcia Cavalcanti | |Carmem Lúcia Cavalcanti | ||
| | |Não contém. | ||
|- | |- | ||
|05:05 | |05:05 | ||
|“E a gente sente a humilhação sim, ainda bem a gente escuta, ainda eu escuto muita gente escuta, ‘ah ela é leprosário,’ é assim no coletivo, seja onde, for eu fico na minha.” | |“E a gente sente a humilhação sim, ainda bem a gente escuta, ainda eu escuto muita gente escuta, ‘ah ela é leprosário,’ é assim no coletivo, seja onde, for eu fico na minha.” | ||
|Zilda Pereira da Silva | |Zilda Pereira da Silva | ||
| | |Sequelas da violência, dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|05:20 | |05:20 | ||
|“Deixei meu filho na casa da minha mãe pra vir trabalhar aqui, faz 34 anos, (inaudível) dava banho em paciente aqui na enfermaria, dava banho em paciente, lavava roupa de paciente, que era um tanque, não era uma máquina, era uma lavanderia, mas é um tanque bem grande. Aí foi quando eu entrei aqui para trabalhar aqui, aí eu comecei cuidando de paciente, dava banho até cova eu já cavei, carregando defunto nas costas também.” | |“Deixei meu filho na casa da minha mãe pra vir trabalhar aqui, faz 34 anos, (inaudível) dava banho em paciente aqui na enfermaria, dava banho em paciente, lavava roupa de paciente, que era um tanque, não era uma máquina, era uma lavanderia, mas é um tanque bem grande. Aí foi quando eu entrei aqui para trabalhar aqui, aí eu comecei cuidando de paciente, dava banho até cova eu já cavei, carregando defunto nas costas também.” | ||
|Carmem Lúcia Cavalcanti | |Carmem Lúcia Cavalcanti | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|- | |- | ||
|05:54 | |05:54 | ||
|“Sim, trabalhei em casa de família, pra sobreviver depois que eu separei do meu marido, não criei minhas filha não. Mas o meu sonho era criar meus filhos, mas eu não tive condição, tinha que viver, trabalhando em casa dos outros pra sobreviver. Tenho bisneto, tenho bisneto, tenho neto, eu tenho neta graças a Deus agradeço senhor”. | |“Sim, trabalhei em casa de família, pra sobreviver depois que eu separei do meu marido, não criei minhas filha não. Mas o meu sonho era criar meus filhos, mas eu não tive condição, tinha que viver, trabalhando em casa dos outros pra sobreviver. Tenho bisneto, tenho bisneto, tenho neto, eu tenho neta graças a Deus agradeço senhor”. | ||
|Zilda Pereira da Silva | |Zilda Pereira da Silva | ||
| | |Dano ao projeto de vida. | ||
|} | |} | ||
Linha 1 414: | Linha 1 414: | ||
|“Eu não vou falar para você que eu sou um filho separado tranquilo, não, eu não sou não. Eu tenho uma revolta. Só que eu não sou agressivo, eu não maltrato ninguém. Mas está aqui dentro.” | |“Eu não vou falar para você que eu sou um filho separado tranquilo, não, eu não sou não. Eu tenho uma revolta. Só que eu não sou agressivo, eu não maltrato ninguém. Mas está aqui dentro.” | ||
|Milton Jorge | |Milton Jorge | ||
| | |Sequelas da violência. | ||
|- | |- | ||
|01:48 | |01:48 | ||
|“Ele tinha medo que eu visse a situação dele então ele não queria que eu ficasse com esse trauma, então não conheci ele” (sobre o pai) | |“Ele tinha medo que eu visse a situação dele então ele não queria que eu ficasse com esse trauma, então não conheci ele” (sobre o pai) | ||
|Milton Jorge | |Milton Jorge | ||
| | |Violência psicológica. | ||
|- | |- | ||
|02:04 | |02:04 | ||
|“Primeira vez quando eu vi ela, eu não sabia quem era minha mãe. Quando eu percebi que ficou uma única mulher ali, sem receber seu filho, porque ela tava na porta enquanto os demais pais estavam dentro recebendo seus filhos, eu imaginei logo, deve ser minha mãe” | |“Primeira vez quando eu vi ela, eu não sabia quem era minha mãe. Quando eu percebi que ficou uma única mulher ali, sem receber seu filho, porque ela tava na porta enquanto os demais pais estavam dentro recebendo seus filhos, eu imaginei logo, deve ser minha mãe” | ||
|Milton Jorge | |Milton Jorge | ||
| | |Não contém. | ||
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|02:26 | |02:26 | ||
|“Ela falou que eu tinha um irmão que estava do meu lado inclusive, ela disse, vocês dois são irmãos. Só que eu não sabia que ele era meu irmão.” | |“Ela falou que eu tinha um irmão que estava do meu lado inclusive, ela disse, vocês dois são irmãos. Só que eu não sabia que ele era meu irmão.” | ||
|Milton Jorge | |Milton Jorge | ||
| | |Não contém. | ||
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|02:44 | |02:44 | ||
|“Lá eu nunca soube o que é amor, porque eu não fui tratado com amor. Eu acho que nem cachorro deveria ter sido tratado como nós fomos tratados.” | |“Lá eu nunca soube o que é amor, porque eu não fui tratado com amor. Eu acho que nem cachorro deveria ter sido tratado como nós fomos tratados.” | ||
|Milton Jorge | |Milton Jorge | ||
| | |Violência psicológica. | ||
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|03:03 | |03:03 | ||
|“Ficava de joelho no meio de dois, três milhos ou no meio do feijão e ai ia para o palmatorio, eles batiam aqui ó, era uma ripa que fazia assim. Seria dez palmadas cada mão. Cada vez que você tirava a mão na hora que eles davam a paulada, recebia em dobro” | |“Ficava de joelho no meio de dois, três milhos ou no meio do feijão e ai ia para o palmatorio, eles batiam aqui ó, era uma ripa que fazia assim. Seria dez palmadas cada mão. Cada vez que você tirava a mão na hora que eles davam a paulada, recebia em dobro” | ||
|Valter Daniel | |Valter Daniel | ||
| | |Tortura de criança. | ||
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|03:24 | |03:24 | ||
|“Nos já chegou a apanhar até de corrente, corrente de amarrar cachorro. Eu mesmo já apanhei, ficava todo roxo o corpo da gente.” | |“Nos já chegou a apanhar até de corrente, corrente de amarrar cachorro. Eu mesmo já apanhei, ficava todo roxo o corpo da gente.” | ||
|José Eugênio | |José Eugênio | ||
| | |Tortura de criança. | ||
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|03:46 | |03:46 | ||
|“As freiras chegou falando, ai temos novidades para você. Qual a novidade? A vagabunda morreu, a sua vagabunda. Mas quem é minha vagabunda? A vagabunda é sua mãe. Ali eu sentei no chão e desmoronei, pra mim acabou, o mundo desabou em cima de mim.” | |“As freiras chegou falando, ai temos novidades para você. Qual a novidade? A vagabunda morreu, a sua vagabunda. Mas quem é minha vagabunda? A vagabunda é sua mãe. Ali eu sentei no chão e desmoronei, pra mim acabou, o mundo desabou em cima de mim.” | ||
|Milton Jorge | |Milton Jorge | ||
| | |Violência psicológica. | ||
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Edição atual tal como às 09h53min de 22 de setembro de 2022
Audiências Públicas
Audiência Pública da DPU com os filhos separados pelo isolamento compulsório da hanseníase
Audiência Pública da DPU com os filhos separados pelo isolamento compulsório da hanseníase
Sinopse: Filhos separados por política de segregação do estado brasileiro contam sua história à Defensoria Pública da União.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
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53:07:00 | “Boa tarde gente, eu gostaria de cumprimentar a mesa, eu hoje, eu luto com isso há 17 anos desde que eu soube a minha história, vou fazer um (inaudível) porque são três minutos e eu tenho que resumir isso. E é muito interessante porque eu era diretora de presidio, na época, antes de eu conhecer a minha verdadeira história, eu só sabia que era adotada mais nada. Quando me contaram a minha história eu já tinha saído dos presídios, eu estava quase saindo, ainda não tinha saído. E dentro do presidio que eu trabalhava, na coordenadoria, eu dizia que eu queria uma grande causa e eu achava que a minha grande causa era os presos, os projetos que a gente fazia, eu sou assistente social, e a minha surpresa foi que minha grande causa era eu mesma, porque eu fui separada dos meus pais quando eu nasci, nasci no Santo Ângelo, antigo Santo Ângelo (inaudível), lá em Mogi Das Cruzes (inaudível) e no dia seguinte eu fui para a associação de santa Terezinha e meu irmão afetivo, eu fui adotada aos 4 meses, então eu não fiquei como eles ficaram, muito tempo dentro desses malditos preventórios. Desde 2002, doutoras, eu faço meu caminho de volta, a minha vida é por conta da indenização dos filhos separados é por conta da gente conseguir justiça para todos eles, eu acho que a maior indenização que eu recebi foi poder estar na causa, mas a gente precisa olhar caso a caso e ver que nos já temos idades e também (inaudível) em um momento que não vai sobrar muitos filhos se o governo demorar demais. Quando eu fui buscar os meus documentos na associação Santa Terezinha, existia duas cartas da minha mãe, Dr. Pedro já anexou esses documentos, pedindo para me conhecer." | Tereza Oliveira | Violência psicológica. |
55:20:00 | Hoje quando eu estava pegando os documentos para trazer, eu realmente, acho que só hoje, foi que minha ficha caiu (choro), porque se não fosse o Morhan a gente estaria (inaudível), ou batalhando por cada filho que está aqui, como o Dr. Pedro disse, eu não faço pelos filhos dele, eu faço por todos, vou fazer sempre por todos. " | Tereza Oliveira | Dano ao projeto de vida. |
55:52:00 | Porque eu não quero nunca mais que ninguém encontre a carta de uma mãe dentro de um prontuário como se não fosse nada como se não valesse nada e minha história, ela não representa nem 1% do que essas pessoas sofreram, do que esses que a gente chama de irmão sofreram, não representa nem 1%, é muito simples é só fechar o olho e a gente se colocar no lugar de quem não conseguiu ter mãe ou pai por conta de um governo que nos excluiu e nos exclui até hoje, e se vocês não nos ajudarem vão continuar nos excluindo.” | Tereza Oliveira | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
57:06:00 | “Boa tarde a todos, para mim é muito difícil estar aqui porque mexe muito com o meu lado emocional, diante de tantas histórias tristes, de tantas coisas que aconteceram no Brasil com relação a todas as pessoas que ficaram internadas nas colônias, os familiares né, eles sofreram muito, eles foram muitos judiados dentro das colônias e dentro das colônias (inaudível). E muita coisa aconteceu dentro das colônias com nossos familiares e com os filhos separados também, após o nascimento os filhos separados foram para preventórios assim que nasciam né, e também teve filhos e casos de filhos que foram deixados para atrás, a gente chama de filhos deixados para atrás aqueles filhos que não foram para preventórios, eles moravam com as famílias ne e ai eles eram separados dos pais" | Helena Bueno | Dano ao projeto de vida, violência psicologica |
58:31:00 | "Os pais iam para as colônias e os filhos eram criados com familiares, com avos, tios, terceiros, pessoas estranhas, então houve muito muito sofrimento aqui no Brasil gente. Eu estou muito emocionada porque ultimamente estou ouvindo (choro), eu tenho lido, mais histórias e eu estou meio que abalada" | Helena Bueno | Danos ao projeto de vida, sequelas da violência, violência psicológica. |
59:17:00 | "Então assim eu só gostaria de falar, no preventório onde eu fiquei, a gente era muito judiado, né. Eu falo isso em nome de todos os filhos de muitas histórias que eu ouvi, falo em nome deles, e é isso, eu só queria um minuto para falar, né, então assim eu trouxe um envelope para a Dra Viviane e assim, eu comentei com vários filhos de outros estados para eles estarem aqui mas como eles tem assim, claros problemas financeiros para poderem estar aqui, as passagens são muitos caras, eles fizeram os depoimentos que eu tirei copias, logico que eu precisei ler os depoimentos, não queria ler mas tive que ler para tirar copias, então eu gostaria de entregar o envelope para a Dra Viviane, de alguns depoimentos de outros estados do Brasil que eles não puderam estar aqui, é isso, obrigada” | Helena Bueno | Tortura de criança, sequlas da violência, violência psicológica. |
01:05:45 | “Boa tarde meu nome é Vanderlei, (inaudível) nasci em (inaudível) e lá não era nem colégio, era pior que cadeia aqui lá, judiavam da gente, ponhavam na cama (inaudível) na cabeça para bater, de manhã até de noite, os colchões, nossa apanhava de paulada, sofria (inaudível) desde criancinha (inaudível), não era vida aquilo lá. O vigilante lá, tinha um casal de vigilante, que entrou lá (inaudível), ele tinha até arma, não sei se ele era da polícia, ele pegava matava uma criança, depois ponhava atras do colégio lá, mandava abrir a cova, enterrava, vinha a mãe e o pai atras do filho e falava que ‘seu filho fugiu, foi embora’, do nada ele matava e enterrava lá (inaudível), era uma coisa horrível ali, nós temos 14 anos ali, (inaudível)” | Vanderlei | Tortura de criança, sequelas da violência. |
01:10:08 | "Eu sou a Sonia Maria Arantes Aguiar, fui criada no educandário Santa Teresinha, eu fui de 0 anos, tirada da minha mãe e fui para Pinheiros e de Pinheiros fui para o educandário santa Teresinha, eu quero aqui agradecer a todos os presentes, eu vou preferir ler porque senão, se for da minha cabeça não vai sair nada. Antes eu queria agradecer aqui juntos e todos que estão a frente da nossa causa e aqueles que estão há anos lutando incansavelmente, talvez não era para nos estarmos aqui se tudo tivesse dado certo aos direitos dos filhos também, que foi concedido a indenização e pensão vitalícia aos nossos pais na lei 11520 de 2007 que dentro da lei MI016 que é um documento original 48. O qual no meu entender essa lei estava se referindo a todos que estavam separados pelo isolamento compulsório a partir do início do século passado." | Sonia Maria Arantes Aguiar | Não contém . |
01:11:26 | Já se passaram 12 anos que os filhos estão nessa luta, idas e vindas em reuniões, reportagens, historiadores resgatando historias que nesses trabalhos feitos encontram descasos aos nossos pais e atrocidades cometidas nos preventórios e colônias, só que com isso tudo mexeu com os nossos sentimentos e também a parte emocional, muitos doentes e filhos com sequelas de depressão, inclusive, eu tenho duas irmãs minhas que eu estou lutando até hoje , tenho que ir em delegacia para poder cuidar dessas duas minhas irmãs, muitos morreram na tristeza , muitos dos filhos não marca presença por perderem a confiança da justiça. O Estado errou e feio, na questão da direção das colônias e preventórios | Sonia Maria Arantes Aguiar | Dano ao projrto de vida, sequelas da violência. |
01:12:35 | Exemplo, meus pais tiveram 12 filhos, não tinha controle de natalidade, já que os pais não podiam criar seus filhos, eles estavam no controle do estado, por que deixaram ter tantos filhos assim? Tiraram os direitos dos nossos pais de criarem seus filhos. Para se ter uma noção a própria diretoria não sabia que minha mãe teve 12 filhos, achou que era só 2 filhos na época, após o falecimento da minha mãe, assustada e admirada, ela ficou assustada e admirada, isso também eu vejo como descaso dos funcionários dentro do Pira também. Aconteceu um acidente com a minha mãe dentro do Pira e ficavam correndo pra cima e para baixo dentro de ambulância, ficou 1 semana na enfermaria e faleceu, a família só foi informada 8 horas depois do falecimento. Eu fui na diretoria para saber dos fatos do ocorrido, pediram para mim uma ordem judicial, mas sem condições e dinheiro para correr atras, eu deixei para trás, pois morava longe e deixei ao nada, não tinha condições de ficar correndo, Praia Grande, hoje é interior de São Paulo. | Sonia Maria Arantes Aguiar | Não contém. |
01:14:10 | Nos preventórios era a mesma coisa, sem informações corretas aos pais, exemplo, muitas das meninas foram para casa de famílias, para trabalhar como empregadas domésticas, como eu, fiquei três anos na casa de família e não recebi um salário por isso era em troca de um prato de comida e um teto para ficar. Muitos dos nossos pais acabavam sem saber dessas adoções, inclusive, tem filhos que era do educandário que não tinha condições de ir para suas próprias famílias, meninos e meninas, inclusive tem um aqui que eu quero que ele faça questão de falar que do educandário ele foi para a FEBEM, inclusive ele está aqui, o Elias. Hoje adultos buscamos saber das nossas origens, tiraram nosso direito de amor familiar, afeição natural, amor fraternal, não se tem aproximação familiar, nós somos estranhos para muitos, eu tenho muitos familiares que para eles eu sou estranhas para eles, eu não tenho muito contato com os meus familiares. Nascemos dentro de uma sociedade preconceituosa, querendo ou não, os nossos pais tiveram toda assistência do Estado, agora os filhos não tiveram assistência nenhuma, que nem o Doutor aqui falou, que eu ate concordei com ele, que muitos filhos foram para as ruas, morreram, doentes, eu conheço uns dos filhos que morreu. Quando completasse 18 anos, que foi o meu caso, eu tive que contar com a sorte, inclusive fui para a casa da minha vó e meu tio solteiro, que meu irmão mais velho foi criado com a minha vó e meu tio, que é o Carlos Arantes. Espero que aqui os presentes que olhem a nossa causa, não como uma história, mas como histórias reais sofridas e que se faça justiça a todos os filhos separados.” | Sonia Maria Arantes Aguiar | Dano ao projeto de vida. |
01:24:08 | “Boa tarde a todos quero saudar a mesa a 30 minutos ouvindo, depoimentos, a fala do doutor Getúlio, o discurso emocionado do Manoel e de outros que sequer conseguiram vim aqui acredito que já teríamos elementos suficientes para encerrar essa audiência e declararmos até como causa ganha essa luta. Observei o vídeo da DPU e não pude passar despercebido pelos filhos que foram deixados para trás, porque nos preventórios ou educandários como chamamos no Ceará, todos eram iguais. Mas os que ficaram para trás sofreram um estigma muito doloroso porque eles estavam sozinhos, ou família, ou em família agregada ou em família ampliada ou em sofrimento muito grande. então esses filhos nós não podemos fechar para trás. Emanuel, a Teresa, todos os membros do Morhan de modo geral. Então nós ressaltamos aqui a importância de nós fazermos dessa reparação a todos os filhos, os que foram e os que não foram. Lá no Ceará tem um ditado que vocês já ouviram ‘se correr o bicho pega se ficar o bicho come’ então no nosso caso foi mais ou menos isso quem foi sofreu e quem não foi sofreu também. Dai a importância da gente juntar todos os filhos, no mesmo sentimento, na mesma proporção. E assim nós não podemos deixar de olhar para trás, nós não podemos promover uma segunda segregação social. Esses filhos que ficaram para trás juntamente com todos aqueles que foram para educandários, com suas dores e sofrimento. Dentro desse minuto que me resta eu só quero fazer uma observação, quem esteve no educandário que está aqui presente já esteve alguma vez no porão? Porão para quem não sabe senhores da mesa e senhoras, era um local muito escuro e fechado, onde a criança era punida, um castigo geralmente de 1 dia para o outro, ele ficava à noite nesse quarto escuro e fechado, despido, lá no Ceará era despido e faminto. Então era uma tortura física e psicológica, ou seja, todas as violações que aqui foram citadas elas são verdadeiras, elas são pertinentes. E reforço o pedido da Mana, essa história não pode prescrever, essa história não pode ser deixada para trás, como Dr. Getúlio muito bem citou. Não pode de forma alguma ser excluída como ato de alguns governos de sempre excluir aquilo que não os interessa, mas a nossa história interessa sim, nossa história é importante, e o governo brasileiro deve essa dívida de lagrimas e sangue à todos os filhos que foram segregados e separados de suas famílias, muito obrigado” | Lima Fortaleza | Tortura de criança, sequelas da violência, violência psicológica. |
01:28:23 | “Boa tarde a todos, em um breve relato apresento a todos a história da nossa família, família Tacio, a família do meu pai foi levado pelo (inaudível) em 1928 através de denúncias ao serviço de vigilância sanitária e lá permaneceram até os finais dos seus dias. Meu pai e seus irmãos, eles foram arrancados do seio familiar. Eles nasceram lá no (inaudível), cresceram sem afeto algum e foram criados, é lógico, pelo preventório de Santa Terezinha. Lá tiveram sua infância marcada na pele, pelos os crimes praticados por aqueles que os amparavam, seus tutores, tiveram sua infância roubada. Saíram com 14 anos e vieram despreparados para conviver em sociedade (1:29:24) Meu pai e mais Dois Irmãos acabaram vindo para famílias, uns foram para amigos e outros foram para a família de segundo e terceiro grau, um dos meus tios não teve sorte ele foi para Franco da Rocha porque ele levou uma pancada muito forte na cabeça e não conseguia conviver em sociedade, foi para Franco da Rocha onde permaneceu lá e depois para a Casa Branca onde ficou até o final de seus dias. Hoje dos Quatro Irmãos apenas 2 podem confirmar a história, a justiça tardou para 2 dos irmãos como tardou para muitos, já falecidos. E eu os pergunto o que aconteceu com a vida com a família (inaudível) Jundiaí a minha indignação é essa o que que aconteceu com a família que morava e vivia lá. Então muitas dessas histórias foram perdidas e poucas estão sendo recuperadas. E uma dessas buscas para entender o que houve com a família do meu pai me deparei com um achado, eu descobri que o patriarca da família está sepultado em Jundiaí e não em Itapetingui como todos nós da família pensávamos. Mas o município de Jundiaí não consegue localizar a sepultura e mais uma vez parecemos de informações. (1:30:32) Eu filha de Vanderlei (inaudível) Tacio, eu exijo do município de Jundiaí, do estado de São Paulo, do Estado brasileiro ao direito a sepultura minha família que está perdida eu exijo respostas a sepultura perdida e dignidade de reunir os que estão enterrados de forma precária num cemitério de Pirapitingui parte enterrada lá, como eu disse patriarca da família está em Jundiaí só que ninguém localiza a sepultura tá. Então é esse meu depoimento boa tarde a todos’’ | Não identificado | Tortura de criança, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
01:31:42 | “Boa tarde a todos, assim é bastante gratificante eu estar aqui, porque é a pela segunda vez que eu estou assistindo há uma reunião né. Porque na verdade eu não moro aqui em São Paulo né, foi bastante difícil chegar aqui, eu e a minha irmã de coração a gente acabou até se perdendo né. Eu quero falar em nome dessas meninas por acaso um dia eu estava lá Rodoviária para visitar a minha mãe em Itapetingui inclusive ela mora lá até hoje porque o meu pai já faleceu. Eu quero falar em meu nome Solange, a Maria de Fátima (inaudível), Deise Gaspar, a Claudete Gaspar, a Cida que mora em Caçapava, que são pessoas que não estão podendo vir porque moram longe, mas eu também estou falando em nome delas também. Porque a gente acabou se encontrando uma vez na Rodoviária, que eu encontrei Deise Gaspar e a irmã dela que foi um fato bastante curioso porque ela tinha perdido o horário de ônibus e comprou uma outra passagem de ônibus ela e irmã dela, e foi aí que a gente acabou se reencontrando, o que foi uma felicidade muito grande. Eu quero dizer a vocês que eu morei desde quando nasci no educandário Santa Teresinha. Eu acho que o difícil para mim não foi lá dentro, para mim o mais difícil foi quando eu saí despreparada, sem rumo nenhum, fui morar numa casa de uma família que eu nunca vi na vida, que foi o doutor Azevedo que era um médico e a dona Alda que era psicóloga que eu fiquei um tempo lá com ela né inclusive eu queria até fugir de lá e queria voltar para o colégio de novo porque eu não queria deixar as meninas né, foi bastante difícil para mim, então quer dizer o mais difícil para mim foi quando eu saí eu chorei muito (1:34:00) eu fui trabalhar em casa de família , eu fui muito mal tratada com os meus parentes porque o que aparente para mim é elas, minhas irmãs de coração elas que são minhas parentes porque meus parentes mesmo eu não tenho muito contato nunca ninguém se preocupou comigo, graças a Deus, eu agradeço a Deus pela saúde que eu tenho e que eu posso estar aqui com vocês juntos, muito obrigada” | Solange de Fatima | Dano ao projeto de vida. |
01:34:47 | “Boa tarde a todos vocês, represento os filhos de Goiânia Goiás eu nasci na colônia Santa Marta, a minha mãe teve mais 4 filhos e depois de 1 ano meus irmãos foram para o preventório onde eu estava. Então eu represento todos os filhos de Goiânia, eu quero dizer para vocês o que a gente busca é a indignação que a gente teve lá no preventório, teve filhos que não teve convivência com os pais, os pais faleceram e depois tiveram que sair para as ruas sem saber o rumo, sem saber o que fazer né. Depois que eu saí do educandário com 14 anos, meus irmãos com idade de 18, me tiraram com 14 anos, só que as meninas que ficaram para trás que foram junto comigo que nasceram comigo, só que eu saí primeiro que elas e depois quando a gente se reencontrou quando o Artur montou o grupo Morhan" | Rosa Maria | Dano ao projeto de vida. |
01:35:52 | "u ouvi histórias delas que foram estupradas pelo ex-marido da dona que estava tomando conta do educandário e pelo filho, com 14 , 12 e 13 anos eles já estuprava elas e davam anticoncepcional falando para elas que era remédio de dor de cabeça. Então pegavam elas de qualquer jeito, faziam de todo jeito, elas dormiam e eles faziam isso com elas, aquilo ali gente eu fiquei revoltada, graças a Deus meus irmãos me tiraram a tempo. E outra a gente da idade de 6 anos em diante a gente já tinha que cuidar de crianças recém nascidas, a gente presenciou crianças morrendo nos nossos braços e pôr em um caixão onde a gente não sabia o paradeiro de onde ia. A gente tinha que levantar 5 horas da manhã antes de ir para a escola tinha que cumprir minhas tarefas e os homens tinham que plantar para colher (inaudível) para a gente comer, o melhor ia para outras pessoas para a fora, ela vendia as coisas e depois aí a gente ficava separado, os homens das mulheres, então a gente era escravizado lá, eu só tenho a dizer isso que eu estou representando os filhos de Goiânia, em toda reunião eu estou presente representando eles, eu quero agradecer a todos vocês” | Rosa Maria | Tortura de criança, violência sexual, violência psicicológica. |
01:37:41 | Boa tarde a todos, eu represento os filhos do estado do Espírito Santo, nasci na colônia (inaudível), automaticamente eu fui o último, sou caçula dos internados compulsoriamente nessa colônia em (inaudível). Como hoje eu estou hospedado na casa da meia irmã Helena, agradecer muito a ela a essa acolhida nós temos dificuldades, como ela falou, dificuldades financeiras para estar presente mas eu fiz esse esforço graças a Deus para estar aqui pelo menos para colaborar e ajudar e também (inaudível) esse belo evento promovido pela Defensoria. A nossa história como é comum de todos, como a Helena apresentou para vocês em documentos eu não vou ficar repetindo esses depoimentos, eu vim aqui para contribuir e apresentar também para Defensoria objeto de que essa indenização não seja só uma indenização financeira mas temos a preocupação de estar também pedindo a proteção dos documentos da história, a proteção do patrimônio, que está sendo dilacerado pela dita federação da nossa sociedade (inaudível) do Rio de Janeiro, (inaudível) uma Senhora que tem mais de 96 anos de idade, eu como representante do estado do Espírito Santo eu consegui por via judicial, pelo Ministério público através de uma investigação particular visitar um dos educandários de São Paulo e Minas Gerais, consegui promover junto ao mistério público, hoje eu sou o (inaudível) há 7 meses sou o primeiro filho, de 31 educandários a assumir a presidência de uma instituição de filhos, exatamente com o intuito de proteger e dar a segurança jurídica e pela primeira vez eu fiz uma declaração dia 3 de dezembro agora com um dos filhos que é de Betim doutor Getúlio, ele que morar lá , ele é ex interno nosso lá , assinei como presidente é uma declaração que ele foi internado compulsoriamente para servir como documento de respaldo para um futuro processo. Hoje eu trouxe alguns documentos, como nossa amiga Helena (inaudível) rosa e eu vasculhando, pelo menos eu tenho a segurança que o estado do Espírito Santo é pioneiro, e eu já venho falando da mesma fala em vários eventos pelo país, nós somos o primeiro educandário no país a ter a proteção de todos as documentações, fotografias, livros, registro de batismo, somos, nós estamos aqui para não sei. Então vasculhando a documentação achei logo de cara para a pesquisa que eu estou fazendo uma ficha de serviço social do educandário, em que simplesmente na casa da nossa amiga Helena, eu na hora do almoço, muito obrigado pelo almoço, vi uma observação atrás da nossa ficha Dr Getúlio, na minha ficha, assistente social observações: onde você foi sujo desse jeito menino, que falta de respeito, ora cale essa boca. Datilografado da época da minha infância, minha infância perdida como todos imagina isso aqui chegar ao conhecimento jurídico, conhecimento das autoridades, por si só, quando você, e outra nós fomos expulsos dá instituição com 16 anos sem direito a encaminhamento profissional , encaminhamento de residência" | Geraldo Pereira do Espírito Santo | Dano ao projeto de vida. |
01:42:13 | "Essa mesma assistente social que escreveu isto daqui foi a mesma que convidou a gente a fazer uma fila de 10 a 15 rapazes que alcançou a maioridade de 16 anos , que a maioridade seria de 18 anos, se for prevalecer a lei em 1949, nós fomos expulsos sem direito a nada e eu fui adotado aos 16 anos , aos 16 anos eu fui adotado , vive 2 meses só na casa e fugir pela janela , guardo a cicatriz ainda aqui, ele não era nosso pai, ele queria que eu beijasse ele todos os dias e chamassem de pai, isso dói para nós, nós estamos aqui então pedindo direitos defensora, a legalidade prevaleça pelo o que nós passamos, porque se nós olharmos o lado da lei 11520 precisamos que seja a jurisprudência também para os filhos só que para finalizar, estamos chegando ao certo limite de idade que quando sair possa ter 10 ouvintes a serem indenizados, muito obrigado” | Geraldo Pereira do Espírito Santo | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
01:43:57 | “Boa tarde a todos da mesa, boa tarde a todos, bem meu nome é Maria de Lourdes fui de Jacareí, nasci no hospital doutor Arnaldo, porém fui arrancada do útero da minha mãe lá de Santo Ângelo, nasci lá, tiraram-me da minha mãe, assim enrolou em um lençol: vai embora, não a conheci. Eu fui conhecer a minha mãe gente com 8 anos, está aqui a foto em 1968, abrir os olhos e conhecendo um pouquinho do povo lá onde eu vivi em Jacareí, Margarida Galvão. Sofrimento e humilhação, não vou entrar em detalhes, acho, tenho certeza que as autoridades, vocês sabem que está por dentro do nosso assunto certo, então sofri muito, sofri e passou. Nós queremos a compreensão de vocês que estão aqui para defender nós, nosso povo, porque além de que , (1:45:16) além do que passamos por não conhecer os nossos pais , lá dentro que eu vivi sem saber , perdão a palavra , que hoje não falam , merda , que aquele tempo eu nem sabia o que que era a dor, o que era ferida que existia na minha mãe, não sabia o de uma minha mãe, chamava ela , dona Maria. não tive amor porque eu não consegui e ela também não conseguiu, foi difícil eu morei com ela sim lá no hospital Dr Arnaldo junto com ela. Lá em Jacareí trouxeram nós, à vai buscar seus filhos, eu já tinha 8 anos eu já entendi entendia as coisas, antes disso queriam me doar, nunca esqueci, eu fiz birra, criança ruim existia em Jacareí porque deixavam ruim, eu não admitia ninguém chegar perto de mim, eu era bicho. Então no caso o que eu fazia, a gente abaixava a cabeça, muita coisa a gente ainda tem recordação, para lembrar vocês e toda autoridade a minha escola (inaudível) eu estudei lá, ela estudava comigo no colégio eu tenho minha professora inaudível e minha diretora, eu tenho meus irmãos e tudo consta aqui, todo o meu registro eu fui aqui registrada, antigo, antiguidade, mas está aqui no meu coração Jacareí, tá bom gente muito obrigada” | Maria de Lurdes | Dano ao projeto de vida. |
01:47:33 | “Boa tarde a todos, praticamente eu vou repetir tudo possível (inaudível) eu só queria relatar que hoje eu tenho os resquícios, as balinhas que as pajens que cuidavam da gente passavam pra gente a noite, que eram balinhas pra você dormir. Esqueciam que tinham passado no outro dia. E essas balinhas continuam hoje, porque sou obrigada a passar por médicos direto, médicas porque eu tenho ojeriza por médico homem, que o médico de lá de dentro mexia comigo e eu morria de medo, pedia para o meu pai quando ele ia me visitar para ele me tirar urgente de lá, eu grudava na grade , quando a gente se via quando ele ia me visitar , eu grudava e gritava para ele me ‘leva daqui’, eu contava para ele o que acontecia e ele sempre me prometia que ia tirar de lá , e me tirou, com 7 anos de idade . Mas até então eu era a bebezinha que eu fui batizada por uma mulher estranha, que era a pajem, essa bebezinha maravilhosa, pajem, que eu não sei o nome dela que me batizou. outra aqui (mostrando foto) que a gente tirava fotos para ficar bonitinha na frente dos outros , as freiras pegavam a gente por aqui (puxando o cabelo) a gente era teimosa , eu fui muito teimosa, teimosa porque, eu não tinha direito de dormir, não dormia de noite, eu ficava que nem zumbi por causa dos remédios por causa das balinhas que ela dava para a gente porque eu saia noite para roubar comida porque eles me puniam, (inaudível), então eu não ficava junto com as crianças junto na mesa para comer, eu sentava no chão de pernas abertas com prato no meio com a mão eu comia e quando todos terminavam, todas as meninas terminavam de comer eles me puxavam por aqui (apontando o cabelo) e falavam: pronto, você já comeu o suficiente. E eu tinha fome então a noite eu fugia de lá de onde a gente dormia e aí eu acabava apanhando porque me pegavam de surpresa, acabava apanhando e me davam. Quando eu tomava surra com as freiras que me chamavam de morfética, não era leprosas, era morféticas que não tocavam na gente. Conclusão eu fiquei lerda, fiquei com uma pequena deficiência, graças a Deus eu consegui estudar porque meu tio me tratou muito bem, médicos, medicina tudo, hoje em dia eu não sou inteligente, mas eu me sinto culta por conta do meu tio que fez de tudo para me cuidar, e hoje eu tenho as bolinhas, eternamente, né? Não consigo direto conversar com a minha psicóloga, porque toda vez vem mais lembranças e mais coisas que a gente passou. Então eu tenho, aqui a Mirna lerda, eu era mega teimosa então eu fiquei com esse complexo na minha vida e também na escola, depois que eu estudei normal , eu também não tinha condições emocionais e nem físicas de acompanhar todas as outras crianças quer normais , e, então até hoje eu tenho esse complexo , e eu não fui criada pela minha mãe, minha mãe não me aceitou depois porque ela achou que eu não era filha dela, então não tive para ir quando, minha mãe meu pai já tinham falecido depois que me tirou, meus irmãos não me conhecem como irmã (choro), então graças a Deus eu consigo sobreviver sozinha porque o meu tio me deu um pouco de cultura dele, porque era uma pessoa muito culta e consigo sobreviver essa vidinha graças a Deus, humilde mas decente e bem educada por ele. Muito obrigada” | Dona Mirna | Tortura de criança, violência sexual, dano ao projeto de vida, sequelas da violência, violência psicológica. |
01:52:45 | “Gente eu também fui de Jacareí (inaudível) eu nasci no doutor Arnaldo (inaudível), assim que eu nasci minha mãe teve cesárias quando eu nasci fui arrancada da minha mãe , arrancada e a minha mãe pediu para ver o meu rostinho então falaram pra mim na sala de cirurgia minha mãe contou para mim essa história, na sala de cirurgia, pego e falou não, é uma menina, você não vai ver o rosto dela é uma menina, minha mãe chorou porque ela queria me ver e eu fui arrancada , por todas as palavras eu fui arrancada da barriga da minha mãe e ela não me viu mais. Fui para a creche em Jacareí , eu fiquei acho, que quase 4 anos lá , 4 anos. Eu nunca vi minha mãe, uma vez ela foi lá para me ver e eles não deixaram ela ver , não deixou ela me ver , eu não conheci minha mãe até 4 anos, sofri, é isso que eu tenho para falar para vocês eu também fui para doação sem meus pais saberem, quase fui doada um, o que eu tinha para falar para vocês eu estou falando, eu sou de Mogi das Cruzes, boa tarde” | Não identificado | Violência psicológica. |
01:55:24 | “Boa tarde a todos, boa tarde aos meus irmãos de coração, boa tarde a mesa, então gente eu sou de Mogi das Cruzes, hospital doutor Arnaldo, e como todo mundo sabe a história é a mesma. Nasci fui tirada da minha mãe e fui levada para a creche de Jacareí, no preventório de Jacareí, assim que eu nasci eu fui levada para lá e como todo mundo sabe né naquele tempo era muito preconceito que tinha e ainda existe ainda existe preconceito até hoje né, a gente sofria muito, porque né, quando a minha mãe ia me ver era separado por uma grade , os filhos para lá e as mães para cá , a gente não podíamos se tocar, quando a gente estava com mais ou menos um ano e 2 né. A gente foi privado do amor dos pais da gente, como vocês aí também né gente é a mesma história né, que a gente passou. Quando a minha mãe conseguiu sair do hospital e foi me buscar, o que acontecia, quando eu fiquei grandinha já com 13/14 anos , quando eu entrei na escola, era muito preconceito, as outras mães que iam buscar os filhos não deixavam os filhos brincar com a gente ou chegar perto, por medo né, porque naquele tempo não falava hanseníase, se falava a lepra, o pessoal tinha muito medo porque achavam que a gente podia passar dos filhos, coisa que não é verdade, a ignorância da cabeça do povo né, que naquele tempo não sabia muito né. Então achavam que por a gente ser filho do paciente a gente podia transmitir pros os filhos deles. O que acontecia a gente se sentia muito humilhado, se sentia excluído pelas outras pessoas , por não poder brincar com as outras crianças então gente o que a gente veio buscar aqui eu e todos os outros filhos, que passaram por isso e ainda passa porque tem muita gente quer crítica né, que fala que lepra essas coisas e dói muito na gente ainda , pelos pais da gente. Então o que a gente quer é justiça gente, gente tá aqui para a gente ter justiça nada mais, é um direito que eu e vocês todos têm e gente tá lutando por isso a gente espera que o poder público e as pessoas olhem um pouquinho para a gente. Eu agradeço desde já, muito obrigada” | Maria de Fátima | Violência psicológica. |
02:01:20 | “Boa tarde a todos, meu nome é Elias para quem não me conhece, nasci em Mogi das Cruzes no hospital Dr. Arnaldo, fui para o colégio interno de Carapicuíba, Santa Terezinha, saí de lá com 17, não, de 16 para 17, com 17 anos eu fui para a FEBEM na qual eu fui (inaudível) onde ficavam os menores infratores, o qual eu nunca fui, ficamos na P1 onde ficavam os menores infratores, e lá a gente sofreu para caramba, pode ter certeza disso. Para conversar com os monitores a gente tinha que ficar com a mão para trás, se você vinha com a mão para a frente você levava um soco na boca do estômago, (inaudível), isso é fato isso aconteceu. Eu não sabia do regime da FEBEM, lá onde é os menores infratores no RP1, depois de 3 meses a gente foi na UT5, a UT5 é um pavilhão você poderia estudar e onde você poderia trabalhar, depois que descobriram do colégio interno, era só isso, boa tarde a todos.” | Elias | Tortura de criança. |
02:02:55 | “Boa tarde a todos, primeiramente eu queria agradecer à mesa por eu ter chegado tão tarde e poder utilizar pelo menos 2 minutos. Eu queria falar 3 pontos principais que marcaram a minha história no educandário de Santa Terezinha, o tempo que eu fiquei lá. O primeiro ponto que eu queria falar é espera que eu tinha, de todos os domingos no portão com esperança de que os meus pais estavam lá, a partir dos 14 anos, caiu a ficha que não dava mais para esperar. O segundo ponto é que algumas noites eu não entendia por que as pajens batiam nas crianças, tiravam em seus cobertores, com elas dormindo, um dia eu tava lá, observando tudo isso e eu falava meu Deus vai chegar a minha vez, me deu uma disenteria que eu consegui ir ao banheiro me livrar de apanhar, mas eu não entendia por que as crianças apanhavam sem motivo. O terceiro ponto pra mim marca muito forte que eu tento (inaudível) para muitas crianças, é o descobrimento precoce da sexualidade, eu lembro que eu tinha 10 anos e alguém me tocava à noite sem eu saber, sem entender o que que era ter excitação, ter vontade, eu não entendia nada disso, isso fica uma marca por muitos anos então são marcas que deixam a gente muitos anos feridos. E eu queria registrar isso, agradeço a compreensão de vocês, e que a mesa possa compreender que foi um período muito sofrido para várias crianças, obrigado. | Não identificado | Tortura de criança, violência sexual, sequelas da violência. |
Curtas-metragens
Depoimento das Vítimas
Infância Roubada – Memórias de filhos separados dos pais atingidos pela hanseníase
Sinopse: O vídeo “Infância Roubada – Memórias de filhos separados dos pais atingidos pela hanseníase” foi produzido pela Defensoria Pública da União com o apoio do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas Pela Hanseníase (Morhan). A peça audiovisual faz um retrato das consequências da política pública de combate à doença em vigor até meados dos anos 1980, que forçou a separação de famílias inteiras.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
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0:09 | “Tem dia que eu sonho com isso, eu lembro assim: ela saiu montada em um cavalo, ele a pé e nós ficamos na porta chorando, eu lembro dessa cena” | Aureniva Pereira Flores | Dano ao projeto de vida, violência psicologica |
00:37 | “Nunca conheci meus avôs, minhas avós. Nunca tomei benção do meu pai” | Benedito Ribeiro Junior | Dano ao projeto de vida, violência psicologica |
00:40 | “Hoje eu agradeço a deus, eu não tive infância, não tive juventude, não tive nada” | Aureniva Pereira Flores | Dano ao projeto de vida, violência psicologica, Sequelas da violência |
00:56 | “Eu nasci aqui na colônia Santa Isabel, com quatro anos me levaram pro preventório de São Tarcísio” | Maria das Dores Moreiraz | Dano ao projeto de vida. |
01:04 | “Eu fui em 17 de novembro de 59. Aí, quando foi em julho, eu fiz 12 anos” | Aureniva Pereira Flores | Não contém |
01:12 | “Pra eles, nós erámos animais, era ‘filhos de leprosos’ que eles falavam antigamente. Hoje tem como falar hanseníase, né. Mas a gente era muito julgado. Quando falava ‘leproso’, doía mais na gente ainda” | Maria Luiza Silva | Tortura de criança, Dano ao projeto de vida, violência psicologica. |
01:22 | “Eu não gostava daquele orfanato de jeito nenhum, porque quem nasce e vai para lá é uma coisa, mas eu já tinha minha noção, né. Pra mim, era uma prisão” | Aureniva Pereira Flores | Dano ao projeto de vida, violência psicologica |
01:33 | “Tinha que ver a gente ali andando na linha com eles, aquilo ali era tudo para eles. E ai se a gente saísse da linha, que o palmatorio comia” | Maria Luiza Silva | Tortura de criança, Dano ao projeto de vida,violência psicologica. |
01:41 | “Ai ela falou com nós assim: vocês estão pensando que nós vamos dar amor e carinho para vocês? Nós não vamos dar não. Nem amor e nem carinho, não. Nós vamos bater em vocês.’ Já falou desse jeito no primeiro dia” | Maria das Dores Moreira | Tortura de criança, violência psicologica. |
02:00 | “Toda vez que minha mãe ia lá, lá tinha um muro e no muro tinha uma grade. Ai, as mães ficavam de um lado e os filhos de outro” | Aureniva Pereira Flores | Tortura de criança, violência psicologica. |
02:12 | “Deixava nós na frente de todo mundo. Às vezes, nem era meu pai. Falava ‘aquele ali é seu pai, pode sair’” | Benedito Ribeiro Junior | Violência psicologica. |
02:16 | “Toda vez que ela ia, eu gritava” | Aureniva Pereira Flores | Tortura de criança, violência psicologica. |
02:19 | “Fica comigo, mamãe. Tira eu daqui” | Maria Luiza Silva | Violência psicologica. |
02:21 | “E a resposta que ela tinha pra mim era chorar” | Aureniva Pereira Flores | Violência psicologica. |
02:32 | “Ai, com os homens, era assim: completava 18 anos, eles tinham que sair e se virar. Nós tínhamos que arrumar uma família para nos tirar” | Maria das Dores Moreira | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
02:46 | “Porque lá eles escolhiam, né. Pegavam aquelas mais bonitinhas. Dava pros outros. Precisava nem pai nem mãe ficar sabendo, eles davam” | Aureniva Pereira Flores | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência, violência psicológica. |
02:56 | “Com 15 anos, veio uma família me buscar. Falou que ia ser “como uma filha” | Maria das Dores Moreira | Dano ao projeto de vida. |
03:05 | “Ganhei uma mãe, ganhei um pai” | Maria Luiza Silva | Dano ao projeto de vida. |
03:07 | “Como filha?” | Maria das Dores Moreira | Dano ao projeto de vida. |
03:09 | “Você não pega o prato da fulana, não. Porque o seu já está separado lá no almoxarifado. Come depois que a gente for comer. Não se mistura com nós” | Maria Luiza Silva | Tortura de criança, Dano ao projeto de vida,sequelas da violência, iolência psicologica |
03:20 | "Ainda tem muita gente nossa na sequela, que tá no vicio alcoólico. Devido a revolta, né.” | Benedito Ribeiro Junior | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
03:27 | “A minha irmã, os problemas que ela era nervosa do jeito que era, era isso, né” | Aureniva Pereira Flores | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
03:34 | “Hoje você não consegue um emprego, hoje eu sou uma menina que tem um sonho de trabalhar, de ter meu dinheiro” | Maria Luiza Silva | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
03:41 | “A gente conta a história, tem gente que não acredita não. Fala que nós estamos inventando.” | Maria das Dores Moreira | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência, violência psicológica. |
04:06 | “Acho que se cria junto com a mãe, tudo... era diferente. Carinho de mãe supre tudo, né?” | Aureniva Pereira Flores | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
Filhos Separados pela Injustiça
Sinopse: No Brasil do século XX, o Estado desenvolveu uma política que isolou do convívio social pessoas atingidas pela hanseníase e promoveu a separação de seus filhos, embora a doença tenha tratamento desde a década de 1940. Essa história, pouco discutida no país apesar de ter atingido milhares de pessoas até a década de 1980, é a temática do curta-metragem documental “Filhos Separados pela Injustiça”, rodado em três municípios de Minas Gerais, com direção de Elizabete Martins Campos.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
---|---|---|---|
02:05 | “Eu ia conhecer a minha mãe, eu ia ver o rostinho dela, eu ia ver o rostinho do meu pai, ele ia ver o meu. Eu ia dar o remedinho para minha mãe, eu ia dar o remedinho meu pai. Só que quando eu cheguei aqui meus pais tinham morrido porque tinha é lepra, a lepra eles era muito forte. Quando eles morreu, eles ligou lá no preventório, a diretoria daqui ligou lá para preventório falando que a minha mãe meu pai tinha morrido juntos, eles morreu junto” | Maria Aparecida Domingos | Não contém. |
03:13 | “Vim de Capitólio, com minha mãe, meu pai e meus irmãos. Quando chegou aqui, eles tiraram eu e meu irmão da minha mãe e do meu pai a força. E mandaram nós, lá para Santa Isabel. Quando chegou lá, fez exame em mim e no meu irmão, descobriu que o meu irmão era doente mas eu não era doente. Aí separaram eu e meu irmão a força. Aí eu fui para Guari, eu não chamava lá de Guari, eu falava inferno, eu falei: eles mandou eu pro inferno. Porque eu não tive oportunidade de estudar, eu não tive alegria, minha vida acabou. Foi muito sofrimento, muita judiação, batiam muito, não deixavam a gente estudar. Com 7 anos de idade, eles pos eu para cuidar de 23 meninos, quase da minha idade. Eu lavava roupa, eu passava, eu dava banho nos meninos. Tudo de mal vocês pensaram de abuso, tudo que vocês pensarem de ruim que poderia ter acontecido na minha vida, aconteceu. Tanto que agora eu não sei viver, eu não sei rir, eu não sei ser feliz. Sabe eu sou uma mulher muito triste, tenho depressão. De bom hoje, o que eu tenho de muito bom hoje, é meu filho, meus filhos, meus netinhos e meu marido. Marido foi o trem mais bom que Deus pôs na minha vida, porque se não fosse ele acho que eu estava uma mulher jogada ai para rua a fora. Porque é muito difícil a criança que veio do preventório de Guari e que não tenha problema na cabeça, quase todas as crianças tem problema na cabeça” | Isaltina Maria Pereira | Tortura de criança, sequelas da violência, violência psicológica. |
05:08 | “Sou filho de ex portadores de hanseníase, que antigamente falava ‘lepra’ para os ignorantes mas sempre se chamou hanseníase. Aos 2 dias, nasci dia 28 do três de 1964. Aos 2 dias de março eu fui mandado para o educandário legal, Maceió de Varginha, onde eu fiquei lá de 1964 até 1975. Como a gente nunca vai esquecer, nunca, isso vai ficar para o resto da nossa memória. Lá a gente comia o pão que o diabo amassou com o rabo. Eu sou desse jeito aqui, eu tenho problema nos olhos aqui, não é de nascença não, isso aqui foi desrespeito lá, as domadoras lá, as cuidadora tomava conta da gente, que não deixava a gente ficar deitado um lado só, entendeu, aí eu tive problema de estrabismo mas o meu estrabismo não é de nascença. Eu sei que lá a gente sofreu demais. E nós, filhos, estamos aí lutando pela reparação que nossos pais receberam anteriormente” | Pedro de Paula Costa | Tortura de criança, sequelas da violência. |
06:25 | “Fui criado em Pindorama, fui criado em um preventório. Eu nasci aqui em Bambuí, no hospital São Francisco de Assis, minha mãe morreu de lepra. Nós foi muito humilhado. Nós era humilhado pra sociedade, chamava nós de leproso, chamava a minha mãe de leprosa e preconceito. Ai eu nunca conheci minha mãe, eu fui criado aqui, nasci aqui em Bambuí, nasci aqui na comunidade de São Francisco de Assis. Eu fui separado da minha mãe, eles falou que nós ia pegar essa doença também” | Mauricio de Tarso Pereira de Jesus | Violência psicológica. |
08:07 | “Ai quando eu vim para cá em 1954, casei aqui, (inaudível) ai ganhei neném, aí eles pegavam e na mesma hora que ganhava os meninos, eles pegavam e levavam lá para observação. Não deixava eu dar um banho aqui e carregavam do jeito que nascia ‘inlhavam’ eles e levava lá para a observação. Na observação que eles davam banho e levavam para a creche lá no Horto. A gente ia lá para ver no começo, tinha um trem igual uma janela dessa pro lado de fora, eles traziam os meninos assim nos braços para mostrar para a gente. Ai passava uns tempos e quando a gente ia lá para ver outra vez, eles falavam que eles tinham morrido. Esses primeiros, 3 primeiros, 2 primeiros, que o outro foi bem depois. Ai eles vão falar que já tinha morrido mas não avisava a gente nem nada, só falava que tinha morrido. Foi muito humilhado para lá e a gente também, mais ainda, que eles não conhecem a gente como mãe. Eu só sei que tenho vontade de morrer, não tenho vontade de viver mais não” | Perina Maria de Vasconcelos | Violência psicológica, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
09:51 | “Eu não digo que o educandário algum educa ninguém não. Os presos na cadeia vive melhor do que um internado, uma pessoa que é internado, que entra em um orfanato. Dai eu apanhava tanto, que uma vez eu apanhei tanto com vara de marmelo, palmatoria. Por fim a palmatória quebrou, me deram um chute no saco, aí eu comecei a urinar sangue, (inaudível) era demais, não tinha como pedir socorro a ninguém. Uma vez eu fugir fui parar na zona lá no (inaudível) esporte, antigamente era Flamengo, há 50 anos atras era Flamengo, fui parar na zona lá no (inaudível) esporte, a mulher me acolheu mas eu não sabia que aquilo era uma prostituta. Eu não sabia o que era uma prostituta, ela me pôs dentro do quarto dela e mandou eu ficar quieto, eu com a cara inchada de tanto levar soco e sangrando os ouvidos. Ela falou pra mim ‘fica aqui, não vai lá fora não’ mas era época de frio fui tomar um sol lá fora. Aí passaram me pegaram, a polícia passou e me pegou, me levou de volta, porque era macacão antigamente que a gente usava. E lá eu levei mais, aí me jogavam pra cima, eles batiam e jogava gente pra cima e batia na orelha, aonde estourou tudo meus ouvidos. Ai cansado de apanhar, cansado de fugir, me deram a liberdade, eu saí e fui morar na rua, morar na rua” | José Raimundo Rodrigues | Tortura de criança, dano de projeto, sequelas da violência. |
12:33 | “Primeiramente fui tirada da minha mãe, já colocaram eu aqui, de bebezinho até então não tinha conhecimento de nada do sofrimento. Eles tentaram colocar uma sapataria lá, para fazer os meninos aprender alguma coisa, só que, porém, eu era uma menina tão carinhosa, tão carente, eu fui visitar essa sapataria e esse sapateiro falou assim ‘sua menininha tão bonitinha, gordinha, bonita, eu vou ser seu tio seu pai’ e aquilo ali me comoveu porque eu sentia falta do meu pai da minha mãe. Aí ele mandou eu sentar no colo dele e começou a acariciar os meus seios, nem peitinho direito nos 7 anos né, começou acariciar meu corpo todo, quando ele chegou com a mão nas outras partes eu falei ‘o que está acontecendo?’ e ele falou ‘fica quietinha, eu sou seu pai, só vou te dar carinho mas fica quietinha’. Quando eu vi que estava alguma coisa diferente, quando ele mandou eu cheirar o negócio de sapato lá, ‘olha a cola do sapato como está cheirosa aqui’, eu cheirei e me sentir tonta, eu me lembro estava meio tonta, aí foi aí que aconteceu o fato, ele falou assim ‘ô eu vou te usar e você não vai falar nada’, ele me estuprou me usou dos 2 lados, qualquer parte que eles pudessem usar, eles usavam” | Maria Luiza da Silva | Violência sexual. |
14:24 | “Tem muitos filhos assim, espalhados, pro Brasil afora, que foi tirado dessa forma. Muitos eram usados, pra escravizão, ‘ah não, eu vou usar aquele menino ali’, eu cheguei a ouvir, eu pensei ‘quis me usar, para fazer de escravo’. Eu não sei nem como eu vou fazer, roubar a gente não pode, trabalhar, comer, toda empresa que a gente manda currículo, eles passam outro na frente, outros na frente (choro) outros na frente e a gente fica para trás” | Paulo Jeova Navarro Queiroz | Dano ao projeto de vida. |
16:43 | “Então eu queria que eles me respeitassem, nós filhos separados, que foram arrancados, foi uma tragédia muito triste. Você saber que você foi arrancado da sua mãe, saber que sua mãe não poder ver o seu rosto. Eu ganhei uma boneca, chorei de tanta alegria, a minha mãe foi embora, a diretora pegou e falou assim ‘para de chorar’, ‘porque está mandando parar de chorar?’ espere, me dá sua bonequinha aqui, cortou os dedos da boneca, cortou os pés e falou assim ‘quando você tiver lembrando a sua mãe tu olha para tua boneca’. É muito abuso, é muita tristeza, são pessoas que não tem humanidade, eu peço a Deus que perdoe essas pessoas, se eles estiverem escutando, que eles criem os filhos com mais carinhos porque nós foi massacrada. Que eu perdoo vocês todos que fizeram isso comigo, você sapateiro que hoje, se você tiver escutando, talvez nem morreu, eu te perdoo. (canto). É uma dor tão forte que me machuca. Vocês que têm mãe e têm pai, se valoriza. Quando eu levantar de manhã abrace sua mãe e seu pai, que quando eu levanto e olho para os lados, que não tem mãe, nem pai, é uma dor mais forte que eu passo pela minha vida, estou dizendo para vocês que tem pai e mãe, amem e se valorize, muito obrigado todos” | Maria Luiza da Silva | Violência psicológica, sequelas da violência. |
Depoimentos
Minha história (Maria Luiza Vieira)
Minha história (Maria Luiza Vieira)
Sinopse: História da Sra. Maria Luiza Vieira, que foi internada no educandário Santa Maria, quando tinha apenas sete para oito anos.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
---|---|---|---|
00:24 | “ Eu fui com sete para oito anos e saí de lá com treze anos, fiquei cinco anos lá. No educandário, sofria muito, apanhava.” | Maria Luiza Vieira | Tortura de criança. |
00:37 | “Nós vía nossa mãe, tinha um parlatório lá no grupo (inaudível) tipo de um balcão assim, uma mesa, fechada, minha mãe pra lá e eu pra cá. Então, nós não podia ver nossa mãe, nós não podia encostar a mão na nossa mãe. Se nós encostasse a mão na mãe, chegava no educandário, no colégio, nós apanhava muito, ficava de castigo.” | Maria Luiza Vieira | Tortura de criança. |
01:05 | “ (inaudível) Porque antigamente chamava de lepra, que hoje é hanseníase. Na época, era chamado de lepra. Então, eles pedia pra gente, que se nós tocasse na nossa mãe, a gente ia ficar doente que nem ela. Mas como eu era muito rebelde, eu mesmo assim, eu não escutava. Aí chegava, apanhava muito. E era quatro vez no ano que nós ver nossa mãe.” | Maria Luiza Vieira | Tortura de criança, violência psicológica. |
01:40 | “Da minha mãe, que não tive pai. Ele nunca (inaudivel) minha mãe. Que minha mãe trabalhava e de repente ficou doente, do nada, aí não pode ficar com nós. Eu e meus irmão, meus três irmão, comigo quatro. E aí então, nós fomos, quando internaram ela eu chorei muito, chorei muito, não queria ir, fiz pirraça. Aí quando eu entrei pra lá, no mesmo dia eu apanhei, que eu fiz pirraça, né?” | Maria Luiza Vieira | Tortura de criança. |
02:23 | “Ah, o meu irmão mais novo, era aniversário. e meu irmão também apanhava porque ele tinha hemorroida, porque ele cagava nas calça e ficava com sangue, aí o meu irmão apanhava muito porque eles já achavam que ele era grande, meu irmão mais novo, né? Então, aí quando nós, nós apanhava, quando nós mijava na cama, aí eles demos banho frio, gelado, cinco hora da manhã. E ai botava (inaudível) pra desfilar no refeitório de manhã cedo, que tava todo mundo, pra todo mundo tomar café, né? Que todo mundo ia pra escola de manhã (inaudível) de tarde. E eu como era eu era mais arteira, mijava, lavava o lençol, secava, secava a roupa, secava o chão, né? Mas não adiantava, eu apanhava. Nós ficava em um quarto escuro, num quartinho sem banheiro, sem água, sem nada. Duas horas. Como eu era mais santa, fica mais quatro horas mais ou menos” | Maria Luiza Vieira | Tortura de criança. |
04:20 | “ Olha, nós, além, tem uma historinha. Um médico, um doutor.. Aí, aí quando (inaudível) primeira comunhão (inaudível). Aí eu fui ver, minha mãe, porque ele (inaudível) na minha mãe, aí (inaudível) da diretora não falou nada na hora, ai ela foi embora. Ai a diretora chegou, aí ela contou pra ela, aí a diretora me bateu de sapato fino, com, eu acho que era de ferro o salto, né? O saltinho de ferro, bateu muito, mas eu não chorei não, senti dor mas não chorei. Depois que ela me bateu, fiquei com a mão inchada, as duas mãos inchada, nem podia botar a mão na colher porque não dava, porque tava doendo muito, mas num chorei” | Maria Luiza Vieira | Tortura de criança. |
05:18 | “Isso fui vai abraçar minha mãe, porque nós tinha quatro vezes no ano só. Como eu falei, aí me bateu muito, aí eu não chorei, fiquei cheia de dor mas não chorei. Aí depois tinha médico, dentista, tinha tudo. Mas tinha um médico lá, doutor (inaudível) acho que ele já até morreu. Pegou, dedinho de boneco, não tô mentindo, (inaudível) fez as perninhas, os bracinhos, aquele desenho, aquele boneco de enforcar de letra. Aí me pergunto. Desenhou, aí me perguntou se eu tinha pelo no meu intimo. Ai o que eu fiz, sai de lá, chorando, bati a porta, que eu era pequena, não sabia de nada, né? Mas quem acreditava em mim? O médico já era velho, não era novo, já era um velho já era bem velho já.” | Maria Luiza Vieira | Violência sexual, violência psicológica, sequelas da violência, torura de criança. |
06:27 | “ E ele assediou a senhora?”
“Isso, isso. Aí eu peguei, só chorei, não contei pra ninguém, porque ninguém acreditava em mim, achava que eu tava inventando, porque é criança, ninguém acreditava em criança, (inaudível) eu tinha uns doze, uns treze anos (inaudível) eu não vou lembrar. Aí eu peguei, eu não fui mais no médico com ele.” |
Maria Luiza Vieira | Violência sexual, violência psicológica, sequelas da violência. |
06:55 | “ Ah, sai de lá porque, ah, essa parte, sai de lá porque a diretora ia me bater, aí aí já chega informado, né? Que era pra me bater, me chamou na secretaria, porque eu fiz uma bagunça, baguncinha de criança, criança não, já era pré-adolescente, né? Tinha dois pra três. Peguei, tranquei a sala da secretaria, tranquei a sala da secretaria, fechei a porta, tirei a chave (inaudivel). Peguei no pescoço dela, cheio de sede, ia matar ela, fui apertando, fui apertando, mas aí mesmo, aí eu fiquei com raiva que eu não conseguia matar, tendeu? Ai eu liguei pra minha mãe escondido, fui na secretaria e falei (inaudível) que se ela não me tirasse de lá eu ia sumir, ela não ia me ver mais. (inaudível) Ai foi lá com uma conhecida, me tirar do colégio, aí depois, (inaudível), foi aí tomei muito remédio, problema psicológico, vacina. (inaudível) muita coisa na cabeça, né? Aí eu tive problemas psicológicos, passei no psiquiatra, psicólogo, aí dava remédio, aí eu tava vendo jacaré.” | Maria Luiza Vieira | Tortura de criança, dano ao projeto de vida, violência psicológica, sequelas da violência. |
08:33 | “Tomava diazepam, (inaudível) esses dois. Aí, eu via jacaré dentro de casa, queria matar meu neto, quebrei tudo, quebrei meu guarda-roupa e aí tive quase internada que minha filha ia comigo me acompanhar, aí parei de tomar remédio, porque tava vendo o jacaré, dentro de casa. Aí hoje em dia o Artur Custódio, tá lutando pela gente, reparação, que estive separada. Eu não tô mentindo, tinha preconceito da doença, não pode, até hoje ainda tem preconceito da hanseníase, muitas tem.” | Maria Luiza Vieira | Dano ao projeto de vida, violência psicológica, sequelas da violência. |
Documentários
Filhos afastados de pais com hanseníase buscam reparação do Estado brasileiro
Filhos afastados de pais com hanseníase buscam reparação do Estado brasileiro
Sinopse: Por muitos anos, crianças filhas de pais hansenianos foram separadas das famílias e levadas para adoção. Marcadas pelos danos sofridos, elas querem que o governo brasileiro promova a reparação do erro. Projeto em análise no Congresso concede pensão especial a essas pessoas.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
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01:27 | “Era como nós éramos chamados. Eles chamavam, não era bem Casa, chamavam Cemitério dos Mortos Vivos. Era como era chamado os leprosários” Solange Calmon pergunta: “E você, com mal de Hansen também, como é que você se sentia ao ver essa frase estampada, ouvir as pessoas pronunciarem essa frase” 01:51: “Com tristeza” | Arnaldo Alves Domingues | Violência psicológica. |
Filhos Separados
Sinopse: Até 1986, os portadores de hanseníase eram internados compulsoriamente em colônias isoladas do convívio com a sociedade. Os filhos nascidos nesta época eram internados em preventórios, de onde alguns eram encaminhados para adoções irregulares ou simplesmente desapareciam. Este documentário traz depoimentos das várias gerações de hansenianos e filhos, abordando a época da separação obrigatória e as situações vividas nos orfanatos.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
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00:19 | “Eu lembro que nós nunca teve infância. O meu pai tinha, apareceu com a doença, aí ele apareceu doente, aí acabou nossa vida.” | Maria (filha) | Não contém. |
00:50 | “Na hora de brincar, eu lembro que a gente sentava em um banquinho, e ela falava pras meninas assim ‘vocês não podem brincar junto com elas, porque vocês são filhas de morféticos’. Eles não falavam leproso não, eles falavam morféticos. Aí nos chegava em casa, contava pra mãe e a mãe chorava, chorava. Aí quando descobriu que estava com a lepra, aqui rodô rodô. Tinha mais dois rapazes, outra moça, mas esse não tava em casa, sabia, escondeu, fugiu. Nós duas pegou e trouxe” | Maria (filha) | Violência psicológica. |
01:28 | “(inaudível) foi pegar nós de caminhonete, eu lembro que nós não queria vir não. Mas eles pegaram, a força, né? Trouxe, né? Aí eu lembro, que me arrastavam, que eu olhava pra trás, eu me lembro dessa cena, que eu gritava e olhava pra casa assim, eu ficava vendo assim, o quintal da gente, onde a gente brincava tudo.” | Eduarda (filha) | Violência psicológica. |
01:49 | “Primeiro teve a geração das pessoas que foram as pessoas que foram isoladas, internadas compulsoriamente, né? Pessoal da década de vinte até a década de oitenta. A gente considera essa como a primeira geração. A segunda geração são aqueles filhos, dos ex pacientes de hanseníase que foram também segregados em creches, educandários, preventórios, no tempo não podia conviver com seus pais nas colônias, então a gente chama segunda geração. A terceira geração, é como eu, que sou um filho de ex paciente de hanseníase, que foram internados compulsoriamente, segregados, mas que não pegaram nenhum tempo de segregação, nem dos pais e nem precisou ser isolado compulsoriamente, já podiam conviver com seus pais, dentro da colônia.” | Thiago (filho) | Não contém. |
02:25 | “Eu trabalhava em casa de família e eu tive uma frebe muito grande, saía uns caroços. Aí a minha patroa me levou no Hospital das Clínicas em São Paulo e lá foi perto que eu tava com essa doença. Aí o médico não deixou eu voltar pra casa da minha patroa e mandou que ela queimasse tudo que tinha meu lá. Que dali eu já ia ser internada. Aí quando eu engravidei que eu tive meu filho em Bauru. Aí eu tive ele à noite e seis horas da manhã já levaram pra creche em São Paulo. | Rosa (ex-interna de colônia) | Não contém. |
03:08 | “Foi primeiro, foi minha mãe. Aí a gente fez os exames, descobriu que a gente também tava no meio também. Aí eu fiquei uns tempos, na observação, tem um lugar ali na colônia que se chama observação, a gente ficou ali uma temporada, dali que a gente foi para o preventório. Lembro direitinho a colônia, por exemplo, a colônia. Ali tinha aí gente igual formiga, lembro direitinho, hoje não tem ninguém, né? Mas tinha gente mesmo, né? Muita gente. E na observação também era uma criançada.” | Aquiles (filho) | Não contém. |
03:54 | “Entrei na escola, mas logo começou aparecer o sintoma da doença e começou eu a ser rejeitado, né? A gente vinha de escola de roça, o pessoal, pouca gente, então, não era muito bem-visto.” | Geraldo (ex-interno de colônia) | Violência psicológica. |
04:12 | “Então a pessoa tem no imaginário que a questão da hanseníase, a questão da lepra bíblica, de não como uma doença, mas como a opção, de uma doença que cai pedaço, uma doença que é pra pecador. Então, essa, essa questão do preconceito, é fruto da falta de informação.” | Thiago (filho) | Não contém. |
04:28 | “Logo em seguida, depois de mim, aí o meu irmão mais velho, né? Aí, apareceu com o mesmo sintoma aí, logo internaram ele aí, ai viram que eu também tinha o mesmo problema do meu irmão.” | Geraldo (ex-interno de colônia) | Não contém. |
04:40 | “Eu nasci aqui na colônia de Santa Fé, né? Nasci aqui e depois, aí não podia mais ficar a criança aqui naquela época, né? A minha mãe me teve na maternidade, tudo, e logo em seguida eu fui tirada dos braços da minha mãe, nem dei a primeira mamada, vamos dizer assim, né? Aí logo que eu nasci, aí eu fui pro preventório Olegário Maciel, lá em Varginha.” | Rosilene (filha) | Não contém. |
05:10 | “Nasci na colônia (inaudível), só me lembro que eu tava numa creche, (inaudível) Juiz de Fora. Depois, me lembro que eu tava morando com um casal de médicos no Rio de Janeiro, a gente ia diariamente pra praia, né? Tinha um empregado e isso eu fiquei lá três anos, depois eu não sei quando a minha mãe me descobriu, né? Não sei como, ela não contou pra mim. Aí lá fiquei conhecendo minha mãe, era pequenininho, né? Fiquei conhece a minha mãe. Aí nós viemos de trem, descemos aqui em Mário Campos e colocou dentro de um saco, que eu não podia, a criança não podia entrar, né? Os guardas deu cobertura, só tem que minha mãe falar assim ó, não pode ficar conversando não, porque aqui criança não pode entrar não. Aí foi lá, passar pelos guarda e falaram ‘o que isso aí dona Osvaldinha? Isso é um porco’ não ri não.” | Moacir (filho) | Não contém. |
06:16 | “E muitas dessas crianças foram dadas para adoção, adoções até muitas vezes ilegais, até contra a vontade dos pais, sem até os pais saberem. Na verdade, falava com para os pais que a criança tinha morrido, que não tinha sobrevivido, mas na verdade essa criança era dada pra adoção.” | Thiago (filho) | Não contém. |
06:30 | “Porque lá nesse orfanato Pinorama era assim, chegava certa idade, vinha, as pessoas americanas, de longe, vinha outras pessoas que a gente não conhecia, falava que queria pegar aquela criança, como fosse filho deles adotivo. Só que não existia, só falavam, mas não existia esse filho adotivo. Era pra ser empregada deles. Aí eu fui para uma casa lá perto do orfanato, que a mulher falou que queria eu como filha. Só que ao chegar lá, eles me trataram como fosse um cachorro, me jogaram lá na garagem, eu dormiam na garagem, não tinha alimentação direito, eu só podia comer só depois deles se sobrasse, se caso não sobrasse, porque eles fazia conta certo pra eles, eles não contavam comigo. Aí se não sobrasse, o que eu tinha que fazer pra não passar necessidade. Eu tinha que juntar aquela comida do prato deles, colocar em um e comia aquela comida que era resto deles.” | Juraci (filha) | Tortura de criança, dano ao projeto de vida, violência psicológica. |
07:27 | “ Eu acho que eles até davam pros outros, sempre (inaudível) criança lá, ia buscar a gente lá. Ah, fulano de tal, vai embora. Sumia outro. Ah, o outro vai embora. A gente não sabia se era parente deles, que ia buscar ou se era.” | Maria (filha) | Não contém. |
07:41 | “Porque aqui mesmo, eu tinha uma colega minha que morreu esses tempinhos. E ela era doida pra descobrir aonde foi os dois filhos dela, que era da época que nós tava lá, né?” | Eduarda (filha) | Dano ao projeto de vida. |
07:50 | “Meu irmão mesmo, teve três filho e foi pro preventório, morreu, porque nem viu não, porque na época não era internado, eles nasciam, já separavam do pai, levava para o preventório, aí depois morria, e só avisava que morreu, mas nem.” | Geraldo (ex-interno de colônia) | Dano ao projeto de vida. |
08:06 | “Sei lá, eu pra mim, eles deram meus irmão, os meus outros irmãos, né? Arrumava um atestado de óbito, falso lá, sei lá, que hoje é a coisa mais fácil do mundo fazer isso.” | Rosilene (filha) | Dano ao projeto de vida. |
08:18 | “Mas é assim, né? Nessa situação não é só meu irmão não, muitas pessoas, né? Que mandou os filhos, que os filhos morreu, e eles nem ficou sabendo se se isso era verdade ou não era.” | Geraldo (ex-interno de colônia) | Dano ao projeto de vida. |
08:30 | “Porque teve muitos que sumiram, né? Sumiram. Aqueles que eles gostavam. Que americano gostava, alguém gostava, falava que tinha morrido, mas não tinha morrido.” | Juraci (filha) | Dano ao projeto de vida. |
08:39 | “E eu tinha minha irmã, que era a coisinha mais linda do mundo, eu tinha uma fotinha dela até pouco tempo atrás. Era a coisinha mais linda do mundo. Nunca mais eu sei dela. Nunca mais. Ela sumiu. Sabe? Como, virou fumaça. Éramos para ser em sete irmãos. O meu (inaudível) contava que chorava dia e noite, porque já tinha perdido vários filhos lá.” | Rosilene (filha) | Dano ao projeto de vida. |
09:02 | “Eu já não suportava mais, apanhava muito, eles me colocavam muito de castigo, não me dava alimentação. Então eu passava necessidade. Foi aonde que eu fugi dali, voltei pra orfanato, chegando no orfanato, encontrei com a assistência social, que era a Dalva, eu não esqueço o nome dela, que era a Dalva, falei pra ela, porque só tinha voltado. Foi aonde que eu fiquei. Eu ganhei a boneca no meu aniversário, que antigamente lá, por mês, pegava aquelas crianças que fazia aniversário por mês, juntava, escolhia o presente e dava. Foi aonde que eu escolhi a minha boneca, né? A Mist foi cortou os dedos dela todinho, embrulhou e me entregou. Quando eu fui abrir, achando que eu tava toda feliz com a boneca, quando eu fui abrir, quando eu vi a mão dela cortada, foi uma decepção, chorei demais. Os menino chamavam minha mãe de leprosa, minha família leprosa, me chamaram de leprosa.” | Juraci (filha) | Tortura de criança, violência psicológica. |
09:52 | “Palmatoria mesmo, colocava a gente em um quartinho. O quartinho era tudo eu. Tudo assim, parece que uma estufa. Estufa não, parece que tinha uma espuma, eles dava cachetada mesmo, sem dó mesmo, sabe? Não gosto de irmã não. Não gosto mesmo.” | Moacir (filho) | Tortura de criança. |
10:11 | “Eu tinha pouca idade, mas, tem tanta coisa. A gente comia lavagem, a gente comia comida podre, a gente comia fruta, a gente tinha que entrar na horta dos outros pra comer. Eles davam remédio pra pra gente dormir, pra não perturbar o sono deles. Ah, banho, era banho gelado.” | Rosilene (filha) | Tortura de criança. |
10:31 | “Me lembro que eu ia dormir, aí eu tinha um problema que saia sangue do meu nariz. Aí eu gritava, (inaudível), ai eu falava ‘ah meu nariz tá saindo sangue’ e ela falava ‘é assim mesmo, vai dormir’. Ai cedo eu levantava, estava tudo molhado de sangue assim, o cabelo todo duro (por causa do sangue). Ai ela olhava e falava assim ‘vai lava no banheiro’, que eu ia lá lavar naquela água fria, né?” | Eduarda (filha) | Violência psicológica. |
10:57 | “Cê imagina quem completou dezoito anos lá, sofreu demais.” | Moacir (filho) | Tortura de criança, violência psicológica. |
11:01 | “Mas o pessoal que viveu lá muito há muitos anos, saía de lá com quinze, dezesseis anos. Essa turma aí sofreu mais do que a gente que viveu lá há pouco tempo.” | Rosilene (filha) | Tortura de criança, violência psicológica. |
11:12 | “Lá a gente apanhava, o Salomão me bateu na minha cara, eu falei para ele que ele não podia me bater porque não era meu pai, ele foi me deu outro tapa na minha cara e me colocou de castigo, como eu e outras crianças. Nos passamos muita, muita coisa, muita tristeza.” | Juraci (filha) | Tortura de criança. |
11:31 | “Tinha um lugar lá que eles falavam que a gente não podia atravessar e eu travessei com uns colega meu lá. Comecei a ficar uma semana preso aqui, né? Só cachetada. Depois vem a comidinha procê assim ó, cê comia.” | Moacir (filho) | Tortura de criança. |
11:46 | “Que os filhos, crianças que foram separados dos pais, elas tem mais transtornos, mais danos psicossociais que os próprios ex pacientes de hanseníase” | Thiago (filho) | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
12:57 | “Elas possuem os mesmos problemas que os ex pacientes possuem, têm os mesmos traumas, as mesmas dificuldades. Tem além deles, por exemplo, tem a questão de abusos sexuais dentro da instituição, tem questão de falta de escolaridade, não tiveram oportunidade de estudar, tem questão de falta de moradia, falta de emprego, falta de renda. Tem a questão da descriminação dentro da própria colônia com eles.” | Thiago (filho) | Violência sexual, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
13:17 | “(inaudível) Então nessa capela, as pessoas morriam e ia pra capela. Aí o enterro, a gente não sabe como eles faziam. (inaudível) trazia para enterrar na cidade. (inaudível) A gente era criança, as vezes a gente tinha que ir lá em cima, quando tinha uma luz acessa a gente passava morrendo de medo, (inaudível), ai tem criança morto, a luz ta acessa.” | Maria (filha) | Dano ao projeto de vida. |
14:00 | “Ali eu não sei se eles achou que eu tinha ideia boa para aprender alguma profissão. Mas me puseram para aprender a profissão de sapateiro. Mas eu não trabalhava só, a gente trabalhava na horta de verdura também, (inaudível).” | Aquiles (filho) | Não contém. |
14:20 | “Quando eu já tava com uns dez, não, nove anos para dez, aí quando dava meio-dia até cinco horas tinha que passar roupa, com ferro no braço, até quase quinze anos passando roupa. Porque lá tinha muito neném, dos pequeninhos, dava as roupinhas assim e você tinha que passa, né? Então não era só eu não, tinha muitas meninas mas elas ficavam até a tarde inteira.” | Eduarda (filha) | Tortura de criança. |
14:45 | “Lá no preventório, lá a gente fazia (inaudível), era serviço interno para lá mesmo, não fazia serviço para fora não, porque tinha muita criança lá, né?” | Aquiles (filho) | Não contém. |
15:02 | “E essas crianças não tiveram essa oportunidade de formar essa personalidade, porque elas estavam agrupadas, as centenas em instituições com poucos funcionários. Então, muitas vezes essas crianças eram sedadas, né? Com (inaudível), antidepressivos, para que elas ficassem quietas. E isso acarreta prejuízos até hoje na vida delas” | Thiago (filho) | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
15:20 | “ Umas trezentas crianças tinha, viu? Mas bem, entre homem e mulher.” | Aquiles (filho) | Não contém. |
15:28 | “Então, eu trabalhava na creche, tomava conta trinta, quarenta crianças, sozinha. Era umas seis pessoas que trabalhava (inaudível), né? Quando era hora de dá banho nas crianças, ela enchia uma bacia grandona, um de cimento assim, punha água ali, dava água nas crianças. Ali, aqueles que tomando banho primeiro, com a água limpa ia tomando. Quando ia ficando aquela agua bem suja, aí soltava aquela e punha outra. Mas, dois, dois tamborzinhos daquele dava pra lavar, ó, umas vinte crianças” | Maria (filha) | Não contém. |
16:05 | “Aí eles enchia a combi de criança e levava na policlínica em São Paulo e era marcado o nome das mães e dos filhos que iria ao encontro. Aí eles colocavam o meu. Eu deixava todas as mãe pegar os filhos, o que sobrasse eu saberia que era o meu. Foi assim que eu conheci ele.” | Rosa (ex-interna de colônia) | Não contém. |
16:31 | “Às vezes vinha um caminhão, põe umas menina dentro, (inaudível), a gente via de longe.” | Eduarda (filha) | Não contém. |
16:39 | “Que tinha aqui na colônia, que tinha um paredão de concreto. Então, os pais do lado de cá e os filhos do lado de lá, não podiam nem tocar naquela época.” | Rosilene (filha) | Não contém. |
16:48 | “As vezes, meu pai pegava, via nós, e nós queria um trocado, assim, mas lá não tinha nada pra comprar, porque lá era uma escravidão. Aí tinha que passar o dinheiro na mão de um, depois na mão de outro, depois, põe na mão da gente, né?” | Eduarda (filha) | Não contém. |
17:01 | “Então, eles vinham, né, visitar os pais, mas tinham que ficar só conversando. Não podia pegar na mão, não podia abraçar, não podia beijar, não podia fazer nada disso. Eu peguei, de uma certa forma, eu acho que eu peguei uma época até mais ou menos boa.” | Rosilene (filha) | Não contém. |
17:18 | “Eu, com uma amiga que também já tinha um filho lá, mas ela não tinha o direito de ver, ela nunca tinha ido ver e como eu fazia tudo isso pra ver o meu filho, ela foi comigo, aí nós fomos as duas presa, quando voltamos.” | Rosa (ex-interna de colônia) | Dano ao projeto de vida. |
17:36 | “Cheguei aqui na colônia um, um escuro, ó. Aí fiquei dentro de casa uma semana preso, não podia sair para lugar nenhum. Eu doido pra sair, não saía. Aí um dia me deu na telha, eu saí. Minha mãe não viu não. Ô, pra que. Tomei uma surra. Aí começou as outras mãe falar, né? Se ele pode então vou trazer o meu também. Aí começou, virou aquela polêmica. né? Por sinal, então vou levar ele pra Belo Horizonte, na casa da minha irmã. Aí fui para Belo Horizonte e lá fiquei. Meus colegas falavam assim ‘o que sua mãe tem no pé? na mão?’ ‘Ah, foi trem’ Eles mandaram falar isso, né? Ela foi atravessar a linha do trem e cortou o pé dela’.” | Moacir (filho) | Tortura de criança. |
18:19 | “Então, cê pega uma história para fazer um comparativo, assim, muito rápido, a história do nazismo, né? As crianças lá podiam conviver com seus pais, mesmo no campo de concentração, na Colônia nem as crianças podiam conviver com suas famílias. Então são histórias bem pesadas, né? Então a gente está falando, assim, de um de uma coisa recente, da década de oitenta. Estamos falando aí de coisa de trinta anos atrás. E é totalmente desconhecida da população.” | Thiago (filho) | Dano ao projeto de vida. |
18:45 | “Aí quando eu fiz dezoito anos, onde que eu fui conhecer a Colômbia Santa Isabel, foi aonde que eu fui atrás dos meus pais, né? E eu passando na rua pra vim pra cá, minha mãe passou perto, uma senhora passou perto de mim, eu não sabia que era minha mãe, eu só conheci quando chegou numa casa aqui perto do pavilhão, onde ela ia vez em quando. Ai foi ali que eles me apresentaram quem era minha mãe.” | Juraci (filha) | Não contém. |
19:12 | “Aí chegou a freira falou ‘Maria tem uma senhora aí que vieram dar, vai vocês embora’ Ai mas a gente chorou tanto? Porque nós gostava das companheiras, das irmãs, porque a gente tava acostumada. (Inaudível) Vai lá. Aí eu lembro que eu tava trabalhando na creche e tinha uma pia, aí eu pus uma cadeira, subi na pia, da pia dava para ver a portaria. Aí eu vi aquela mulher lá na portaria, tinha uma roupa preta, de transa, eu achei esquisito, não imagina que lembrava que era a mãe. Tinha perdido a feição dela.” | Maria (filha) | Não contém. |
19:47 | “Foi me buscar de carro com a minha mãe e o meu pai. Hoje ele é meu padrasto. Ele foi casado com a minha mãe. E ele conta que também o que viu, eu sai de lá toda suja. Nossa, magrinha. Nossa, muito maltratada. Minha mãe chorava dia e noite, né? Aí o meu pai correu pra construir uma casa ali na cidade, ali em Três Corações, pra me tirar de lá, pra gente morar lá pra viver feliz, porque aqui não podia crianças naquela época. | Rosilene (filha) | Sequelas da violência. |
20:20 | “Tem muita gente que agora que tá parecendo, não aparecia não, agora tá aparecendo os parente.” | Geraldo (ex-interno de colônia) | Não contém. |
20:26 | “Hoje eu posso dizer, hoje eu tô dentro da Colônia Santa Isabel, amo esse lugar. Felizmente. Meus pais não gosta de mim. Meus irmãos são separados. Um mora em BH, outro eu nem conheço. Tem outros irmãos que eu nem sei quem são direito.” | Juraci (filha) | Dano ao projeto de vida. |
20:53 | “Mas eu não tive aquele apego de mãe. Sabe falar assim ‘ai, eu amo minha mãe’. Ela parece que nunca demonstro amor por nós também. Ela gostava dos menino, né Eduarda. Ela gostava muito dos filhos homem. Eu criei sete ou oito filho, minha mãe nunca deu um banho numa criança pra mim, nunca me deu um chá na cama. Nunca me deu um chá pra mim, nunca pegou um filho meu no colo, pelo menos assim. Nunca minha mãe pos um filho meu no colo.” | Maria (filha) | Dano ao projeto de vida. |
21:27 | “Eu não cheguei a morar com a minha mãe. Já, desde que eu comecei a minha vida por conta própria lá no educandário, já comecei por conta própria trabalhando, né? E logo casei, acho que nunca apareceu essa doença em mim, sou filho de doente, né. Mas acho que nunca deu, parecer (inaudível) qualquer coisa.” | Aquiles (filho) | Não contém. |
21:57 | “Infelizmente, a gente não consegue emprego fora daqui porque as pessoas têm, quando a gente fala Colônia Santa Isabel, eles têm preconceito ainda, tem medo ainda. Então, fica difícil até pra gente.” | Juraci (filha) | Dano ao projeto de vida. |
22:10 | “Teve tempo que pessoas, corria da gente ali da Colônia. Oh meu Deus do céu. Hoje não, hoje eles tão andando no nosso meio aí.” | Aquiles (filho) | Dano ao projeto de vida. |
22:18 | “Porque nós nunca pensamos que um dia a sociedade ia chegar até nós. Nós não podia nem entrar numa loja pra comprar uma roupa. Até hoje não é na mão de todo mundo que nós pega, não é eles com medo da gente. É a gente com medo de ser rejeitada.” | Rosa (ex-interna de colônia) | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
22:39 | “Então, esse é o papel da Morhan, porque a doença é muito fácil, qualquer posto de saúde trata, o preconceito aí é parte do movimento social.” | Thiago (filho) | Não contém. |
22:10 | “Então, a minha história é essa, realmente, é complicado, é triste falar disso, depois de tantos anos, a gente relembrar de tudo que a gente viveu.” | Rosilene (filha) | Não contém |
22:59 | “Revolta a gente tem, porque a gente foi separado, a gente queria viver com os pais, sentir com calor, o carinho deles entendeu? Hoje eu sei que que é isso, porque hoje eu tenho meus filhos.” | Juraci (filha) | Dano ao projeto de vida. |
O Educandário Alzira Bley como lugar de memória
O Educandário Alzira Bley como lugar de memória
Sinopse: Documentário sobre o preventório, local onde viveram os filhos separados de pais acometidos por hanseníase, internados compulsoriamente no Hospital Colônia Pedro Fontes, em Cariacica-ES.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
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02:37 | “Fazia tratamento no posto de Cachoeira de Itapemirim, perto da linha de trem, perto do noventa lá. Então, papai falou assim, ô Dina, ele falava Dina comigo, meu nome é Geraldina. ‘O Dina, vamos pra esse lugar lá’, eu falei assim, ‘O que pai, eu não vou praquele lugar não’. Aí o doutor chegou perto de mim, pegou no meu bracinho, senhora tem que ir, sim, tem que ir sim. Aí, papai ficou quieto com aquilo, né? E ele saiu também, o doutor saiu. Aí eu falei assim, mãe, nós não vamos não, mãe. Vamos não, que tem um forno lá que tá matando os leprosos, estão matando a pessoa, nós trabalha na roça, mãe. E agora nós vamos fazer uma coisa dessa? Não tem jeito não. Aí ela me entendeu, mamãe não entendeu muito bem. Aí chega o policial de carro e o motorista junto ‘ceis entram aqui’. É a primeira enfermaria das mulher ali no carro e soltou nós ali, eu olhei assim, olhei, tanta gente que chegou para ver nós, ver nós, um sem nariz, outro não tinha nem zóio, não tinha nada. Ih, falei assim, nossa, ó, foram me pegar eu lá na Ponte Mauá. Depois que os guarda me levaram pra lá sim, eu parei, paralisei, fiquei um dia lá com mamãe lá no quarto dela lá, na enfermaria. E paralisei, sabe? E depois eu fiquei pensando assim, meu Deus do céu, que que eu vou fazer? Aí, me levaram eu pra um asilo que tem lá não sei aonde, está ali ainda. E agora é casa de ração. Jogaram eu no meio da das moça que tinha lá.” | Geraldina Galazzi (ex-paciente do Hospital Pedro Fontes) | Dano ao projeto de vida. |
04:26 | “Os meus avós foram tirados de terras, eram pessoas de posse e foram jogado dentro de uma ambulância por ordem que veio de Brasília. Não era Brasília na época, não sei. Sei que era o Ministério da Saúde Federal, lançaram a lei pra separar e prender todos os portadores de lepra e levavam para essas colônias, foram realmente edificadas pra isso, com esse fim, pra internar os pais ou as pessoas portadoras de hanseníase. E os filhos eram tirados automaticamente de uma forma bem grosseira, porque as crianças que tavam com os pais leprosos, os que já tinham nascido, como foi o caso da minha mãe, o caso da minha outra tia, eles foram separados de uma forma grotesca e dura. Porque minha vó sofreu bastante com isso e ficou o resto da vida, dentro desse leprosário, até que morreu aos 69 anos, em 1976.” | Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
05:14 | “Na criação do Hospital Pedro Fontes, nossos pais foram internados compulsoriamente, nossos avós também. Meu pai solteiro, minha mãe solteira, na época, lá dentro do hospital, acabou se casando e tendo oito filhos, todos eles com a internação compulsória nos hospitais Colônia, era necessário que eles colocassem os filhos, né? Como outras famílias, em algum lugar, só que este lugar propriamente não existia, porque a nossa família não tem condições de tá, principalmente criando.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Dano ao projeto de vida. |
07:04 | “Todo educandário tinha uma música. Nós criamos uma música pra ela aqui que as crianças cantavam em couro, o grupo se formava e as roupas que a gente vestia era quase tudo igual, mas ela chegava exatamente aqui, a entrada era por aqui, entrada do triunfal era aqui. A placa Alzira Bley. A música era assim, eu não vou cantar tudo que eu não lembro o resto da mas o inicial é, (canta música), isso aí foi a letra principal, porque era uma música antiga, né? Que eu não lembro bem, mas é a música americana ou inglesa, nós aproveitamos e colocamos uma letra em homenagem a ela, porque a Eunice além de ser fundadora, ela foi uma verdadeira mãe nacional do Brasil que ninguém quase ninguém valorizou e não tem histórico sobre ela, né? Eu acho que agora podemos destacar o papel dela. Então, a Eunice Weaver teve esse papel e nós tínhamos essa, essa música para toda vez que ela, ela aparecia.” | Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
08:16 | “E nós viemos para o educandário Alzira Bley, aos dois dias, desmamados e se juntar a crianças aqui mais ou menos quinhentas e poucas crianças, filhos também, todos filhos de pais portadores da hanseníase. Esse educandário, que antigamente, se chamava preventório, ele foi criado em mais ou menos nos anos quarenta com essa finalidade, de trazer os filhos que nasciam dos pais, que eram casais normais, eram portadores dessa doença infecto contagiosa e o Ministério da Saúde, na época, decretou uma lei, estipulou uma lei da separação compulsória dos filhos, e nós fomos vítimas dessa situação, decisão do Governo na época em que foi feita essa lei.” | Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Dano ao projeto de vida. |
09:03 | “Eu nasci aqui dentro do Hospital Pedro Fontes, aqui na Colônia, tinha uma maternidade ali. A gente nasceu, enrolava no lençol e levaram para o orfanato, que era Educandário Alzira Bley, entendeu?” | Maria Aparecida Galazzi (ex-interna do educandário Alzira Bley) | Dano ao projeto de vida. |
09:18 | “Eu fui ver essa menina depois de quatro ano, numa tela ainda. Levava pra nós ver na véspera de Natal e ficou lá um pouquinho só com a gente, mas não podia nem botar a mão na tela. Era dessa, dessa maneira era, sabe? Minha mãe chorando, minha mãe que veio comigo, começou a chorar de ver os neto tudo, do lado de lá e não deixar a gente botar a mão.” | Geraldina Galazzi (ex-paciente do Hospital Pedro Fontes) | Dano ao projeto de vida. |
09:43 | “A gente só tinha direito a visitar os nossos pais em dois período. E mesmo assim a gente não tinha contato com eles. Era via, época mais velha era parlatório, vidro, né? Depois, no final da década de sessenta, passou a ser a grade, tela de alambrado. A gente botava os dedinhos ali, esse aqui é seu pai e tal. Nós tínhamos a gratidão, de ter pelo menos, no meu pai e minha mãe, não ter sequelas graves como outros pais, que os nossos irmãos não tinham condição de estar nem vendo o pai direito e nem os pais também podendo abraçar, beijar ou saber que o filho dele tá bem.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Dano ao projeto de vida. |
10:20 | “Não podia abraçar, não podia pegar, só olhar, ficar do de lá no portão grande, portões enormes. Aí tava ali, aí ensinei pra eles, cantar, cantar mamãe, festa das mãe, Natal, cantava na festa do Natal, os papais sempre me elogiavam muito. Eles falavam que nunca viu uma diretora igual a mim, eles falavam, né? E não sei não, que nunca viu uma diretora igual a mim, liberal, porque eu levava, orientava, cantava, ensinava a cantar pros pais, ensinava a dançar pros pais, os doentes gostava sempre.” | Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
11:10 | “O separamento de isolamento dos pais, a gente ficava tinha tela, a gente ficava do lado, aí os pais levava lá bala pra gente, levava bolo, levava pastel, entendeu? Era um momento bom também que a gente gostava a hora que a gente, né? A gente tava de frente né? Dos pais.” | Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
11:26 | “Todos nós, quando fomos descobrir que nós não nascemos aqui, que os nossos pais não estavam aqui, foi o momento mais triste. Em que nós tínhamos que visitá-los pelo menos três vezes ao ano e éramos proibidos de ter contato com eles. Tínhamos esse momento feliz, caminhando pra lá, no dia dos pais, dia das mãe, dia de Natal apenas. Era feliz, mas a tristeza era quando nós voltávamos, que a gente não ia ter mais os pais, isso aí marcava a gente.” | Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Dano ao projeto de vida. |
11:50 | “Minha mãe reside hoje até hoje ela reside lá no hospital, certo? Ela reside lá, ela já praticamente já fez o tratamento dela, tem aquela pequena deficiência, que é antigo.” | Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
12:03 | “Eu e meu marido fugia debaixo de um arame desse daqui ó, nós ia lá, mas aí as comadres minha levava meus filhinho tudo pra dentro dum quarto, botava lá dentro do quarto, escondido e fechava a porta, e ela ficava lá junto, né? Estava lá junto. Ah, meu Deus, quando eu vi meus filhinhos, vi o novinho lá, meu Deus do céu, mas eu chorei, chorei, mas chorei.” | Geraldina Galazzi (ex-paciente do Hospital Pedro Fontes) | Não contém. |
12:28 | “Até hoje não dá pra se entender porque nossos filhos nascendo dentro do ventre de pais, de mães, portadores de hanseníase e nós não tivemos, não fomos contemplados com essa, vou dizer, desgraça na saúde, que é a lepra.” | Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
13:56 | “O Brasil chegou num momento dele ter que fazer uma política de segregação. Era uma obrigação, ou ele faria isso, ou o Brasil hoje, num patamar aí de cem por cento, cinquenta por cento da população estaria infectado. Então, com essa, com essa política de segregação, houve-se um momento do país se pensar sanitáriamente, de criar os hospitais colônias.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Dano ao projeto de vida. |
15:02 | “Fui expulso do educandário quando eu tinha oito anos de idade. Solicitou minha família que eu saísse daqui. Como aqui próximo, não existia uma escola pra me abrigar, porque eu já estava no meio do ano, eu fui morar com os meus pais no Leprosário. Pra mim, eu considero foi a melhor época da minha vida, porque os dois anos que eu vivi com meu pai parecia até que eu vivi desde quando eu nasci, porque o amor que meu pai tinha por mim, a educação dele, o carinho, respeito, fenomenal.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Não contém. |
15:33 | “É triste, é um momento triste que a gente não tinha aquele aconchego dos pais e mães, aquele carinho, né? Aquele carinho de pai e mãe, cê entendeu? E a gente era, era tomado conta, a gente tinha guardiãs, né? Os mais velhos, olhavam os mais novos, né? A gente passava algumas necessidades, né? Junto a nossa entidade.” | Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
15:55 | “Eu dava a vida ali, né? Com a colaboração das professoras, das alunas, das interna e da creche, da Jandira, a Jandira, era diretora da creche. Jandira me ajudava muito.” | Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
16:38 | “Quando se fala em festa, era a melhor parte da nossa infância. Porque todo mês comemorativo, tinha alguma festa, seja da Páscoa, seja da pátria, seja do Proclamação da República, Tiradentes. Então, Natal. Então assim por sermos criado em um fechamento, foi criado também uma grande oportunidade de irmandade e de se promover eventos diversos aqui dentro da instituição. Seja na arte da cultura, do lazer, do esporte, até da própria religião, foi muito bonito, foi muito bom, a gente curtiu muito, neste ponto nós somos muito felizes.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Não contém. |
17:26 | “Todos os eventos que vocês têm lá fora, aqui dentro também nós tínhamos, mas da nossa forma, né? O folclórico, as comemorações, os dias santos, né? Os feriados com conotação folclórica também, as festas juninas, tudo isso que nós tínhamos aqui dentro. O momento mais feliz pra nós era o dia do Natal, esse era o que marcava a gente. Nem Dia das Crianças era, nem outros eventos, mas o dia do Natal pra nós é o evento que reuni todos os internos e alguns ex internos.” | Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
17:56 | “Brincavam muito, eu dava licença pra brincar no pátio. Brincava, cantava, eu fazia festa das bonecas, as meninas e cada uma com a sua boneca, escolhia os padrinhos, quer dizer, os rapazes, os garotos, para ser padrinho das bonecas, aí fazia batizado as boneca, lá um pátio, brincava todo. Na festa junina também, fazia a festa Junina, fazia o casamento caipira. Fazer teatro lá com ela.” | Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
18:32 | “Estudava do primeiro a quarta série aqui e depois a gente deslocava para o Porto de Cariacica. Que se chama hoje Porto Belo. Que é o a escola Eulálio Moreira. A gente ia estudar lá entre a quinta e sexta série, no Eulálio Moreira, tinha que fazer uma caminhada muito boa mesmo, andar um pedação e depois quando concursava a quinta, sexta série, ia pra escola São João Batista, lá em Cariacica.” | Edmar Galazzi (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
19:00 | “Os filhos dos leprosos tão ali. A gente andava sempre em grupo, o grupo daqui, ia para as salas de aulas, quinta e sexta série, pra oitava. E começamos a conviver com isso, com esse chamado, tratamento diferenciado. Nós éramos menosprezado, desprezados, sendo que nós não éramos os doentes. Nós era apenas descendentes de pais portadores da hanseníase. Alguns pararam de estudar por causa desse tratamento. Mas nós éramos os melhores alunos da sala de aula, porque nós não faltavam uma aula. Nós não faltávamos nenhum evento no ginásio ou na escola. Eu, por exemplo, graças a Deus, dois anos eu fui tratado e fui considerado o melhor aluno do ginásio, comportamental e de notas. | Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Violência psicológica. |
19:43 | “Sempre em grupos separados, tanto dentro da sala, na hora do recreio, na hora de ir embora, a gente não se misturava, porque a gente era considerado como verme pra sociedade devido ser filho de leproso. A verdade é essa. E na mesma, na empregabilidade, que eu sou ex bancário, estagiei em companhia de seguros, que hoje é a Arcelor Mittal, nunca falei na minha vida que eu sou filho da hanseníase, que eu sou filho de educandário, devido o preconceito que até hoje ainda existe” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Violência psicológica, sequelas da violência. |
20:16 | “Os ex-internos chamado hoje, nem todos sabem, até hoje, porque é que foram criados aqui, nem todo, nem todos entendem, uns não estão bem na cabeça hoje. Hoje estão muito mal na sociedade, há muitos não conseguem ficar em empregos, há muitos não conseguem relatar a sua história, tamanha angústia e tamanha o desespero, porque o passado foi muito duro para eles.” | Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
20:41 | “O pouco tempo que a gente tinha era pra tá tentando cantar as músicas do Roberto, aí graças a Deus eu ganhei um radinho, pude tá ouvindo todos os dias, bem na sofrência essa música, mas ela me marcou e me marca até hoje, (canta música). Isso me emociona muito, porque quando a gente sofria as intempéries de apanhar, de a gente não ter direito a brincar, não ter o seu tempo.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Não contém. |
21:40 | “Quando o Educandário Alzira Bley ele está exatamente de frente pra história de Cariacica e do lado da história de Cariacica. Hoje a história do município de Cariacica de 128 anos, nós estamos de frente para um monumento que se chama Moxuara. E do lado direito, a fundação de Cariacica sede. Que é a igreja São João Batista.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Não contém. |
22:01 | “E quando nós íamos pra cá, algumas crianças nasciam com a doença, nós tínhamos um, um prédio chamado observação, era feito uma triagem dessas crianças, se elas padecessem com manchas, era mandado diretamente para a Colônia pra ser interno mesmo na idade da infância. Então, já passavam a sofrer os mesmos danos, os mesmos maus tratos que os pais sofriam.” | Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Tortura de criança. |
22:22 | “Ilustre? Não foi de autoridade. Foi das pessoas que tinham da igreja, ou as pessoas de fora daqui, que não tinham assim. Eles se juntavam um grupo de jovens e vinham cantarolar com a gente, participar de brincadeiras lúdicas, né? Isso pra mim. Eles saíam daqui, saiam chorando com vontade inclusive de fazer adoção com a gente. Eu tive um momento até pra ser adotado, minha mãe não deixou, um casal italiano. Aquilo, quando eu vi eles indo embora, eu cheguei a chorar, mas quando eles vieram, eu fiquei sabendo que eles queriam me adotar. A ‘vó’ era uma mãe dois, aqui para nós interno, apesar de eu já ter saído daqui mas nessa época, não existia mais a internação compulsória aqui dentro do educandária, existia sim um atendimento socioeducativo num novo, nova filosofia de atendimento socio ao estatuto do ECA. | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Não contém. |
23:29 | “Eu era a ‘vó’ até dos jovens. Todo mundo me chamava de vó. Até pessoas que chegavam de fora, procuravam pela ‘vó’. Eu fui sempre a ‘vó’ aqui. Tinha a Jandira, tinha irmã Lina, que eram nossas chefes, tinha as funcionárias, né? Que eram minhas colegas, minhas companheiras. Muita criança, muita criança mesmo.” | Maria Malta da Silva – Vó (ex-funcionária do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
24:03:00 | “E o padre Matias ele é um percursor, ele é um, ele é um protetor dos pais da doença, ele é um defensor e ele deu muito da tua vida a causa da hanseníase. E não só a proteção aos filhos, ele tinha uma interferência muito grande junto aos governos, né? Junto aos políticos e junto sociedade privada. Então, todo domingo ele vinha fazer as celebrações aqui.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Não contém. |
24:41:00 | “Quando tinha o batismo o padre que fazia, ele ia lá celebrar, batizava as crianças, tinha madrinha. E eu fui madrinha de várias crianças lá. Não me lembro mais o nome das crianças que eu batizei.” | Maria Pulseira (ex-diretora do educandário Alzira Bley) | Não contém. |
24:58:00 | “Aqui o Educandário é espaço de receber várias entidades religiosas inclusive arcebispos tanto do Brasil quanto daqui no Espírito Santo.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Não contém. |
25:08:00 | “Mas se eu pudesse mudar alguma coisa e voltar, eu queria ter sido um diretor daqui. Ter me preparado pra ser um dirigente do Educandário Alzira Bley. Mudaria exatamente o tratamento. Não tratava as crianças como se fossem escravos do Alzira Bley, do educandário. Porque nós éramos tratados praticamente como escravos. As funções, as manutenções, as pinturas, tudo aqui era feito na base da grosseria não tinha um tratamento, sabe? Como irmão pra isso. Eles botavam as pessoas mais velhas pra administrar cada um no seu entendimento e havia um tratamento muito desigual. Às vezes até surras. Né? Gritarias e maus tratos. Eu mudaria tudo isso.” | Gilberto Scardini (ex-interno do educandário Alzira Bley) | Tortura de criança. |
25:49:00 | “A única tristeza pra mim, que eu cito é que a separação ela traz danos, ela traz danos psicológicos, ela traz dano moral, ela traz dano estrutural de familiar. Porque quando a gente sai daqui, sai despreparado, é expulso da instituição, não foi dado para nós de nada de termos um lar e a gente é subjugado pra ir morar com o nosso familiar, sem um familiar realmente tá preparado, inclusive por amor, carinho, pela falta.” | Heraldo José Pereira (ex-interno do Educandário Alzira Bley) | Violência psicológica, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
Laços - História dos filhos separados pela Hanseníase - Reparação Já!!!
Laços - História dos filhos separados pela Hanseníase - Reparação Já!!!
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
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02:26 | “No educandário, as visitas era assim, dum lado da janela secretaria, né? Tinha secretaria e tinha a janela. Só que a visita, a minha mãe ficava de um lado e eu ficava do outro” | Não identificado | Não contém. |
02:42 | “Mas era difícil de ver pai e mãe, porque o parlatório ele era muito alto e eu era baixinha. Eu não conseguia ver. Eu só conseguia ver minha mãe, que minha mãe tinha tireoide, parecia que ela tinha uma outra cabeça, eu achava que era bicho papão” | Não identificado | Não contém. |
02:57 | “Minha mãe olhava a gente pelo vidrinho, num lugar chamado parlatório, a gente, ela era interna, ficava ali, olhava a gente pelo vidrinho, que não podia ter contato com a gente” | Não identificado | Não contém. |
03:16 | “Eu acho que eu tinha uns quatro, cinco anos, né? Eu vi as criança, né? A família das criança, e pensava na minha família, né? Aí a minha vó sempre ia me visitar, minha tia, meu tio, né? E eu sempre perguntava pela minha mãe, né? Aí minha vó falou, a tua mãe vai vir aqui um dia. Foi passando, né?” | Giovana Ferreira (filha) | Não contém. |
03:37 | “Só que eu não me conformava com aquilo. Porque eu queria ter o contato com a minha mãe, eu queria ter o amor. Sentir o carinho como um todo mundo sente. O abraço, o carinho duma mãe, a gente viver separado é muito triste” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
04:00 | “Então, eu fugia, fugia pro lado de fora, eu via a porta aberta, eu fugia, e lá eles me davam um beliscão porque não podia ficar perto da minha mãe. Que a minha mãe era leprosa e não podia ficar.” | Não identificado | Violência psicológica. |
04:14 | “Escola. Eu não tinha amigo. Todo mundo quando me via dizia ‘ah lá, o filho do leproso lá’ eu era praticamente sozinho” | Não identificado | Dano ao projeto de vida, violência psicológica. |
04:24 | “Fomos muito humilhado por causa da situação da nossa mãe. Era doente, a gente era chamado de leproso, sabe, ‘filho de leproso, é leproso’” | Não identificado | Dano ao projeto de vida, violência psicológica. |
05:26 | “Em 1939, quando eu então era, tinha 11 anos e foi suspeita de que eu era doente. Então eu fiz meus exames no posto de saúde, com o doutor Guaraná de Barros e foi constatado a minha doença, ser portador de Hanseníase.” | Não identificado | Não contém. |
05:50 | “Eu comecei a saber que estava doente, quando eu tinha, hm, não sei a idade, era criancinha, né? Brincando, rodando. Aí, machuquei joelho e não senti nada, quando eu falei com a minha mãe, ela já sabia que eu era doente, sabe? Mas não providenciou internação pra mim.” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
06:18 | “Ainda era no tempo de muito preconceito, né? Então, havia até mesmo algumas discriminações. E o que mais me doeu foi que quando eu era criança, então eu estava junto dos meus pais, quando chegou um carro, que mais parecia, posso falar a verdade? Que mais parecia uma carrocinha de carregar cachorro e fui pegado então e trazido pelo guarda sanitário, que diziam, naquela época, guarda de saúde, chamaram, que a gente conhecia Manoel Manetto, que ele não tinha uma mão. Ele chegou e me pegou, e me trouxe sem coisa (inaudível) como se eu fosse assim um animal que estava sendo escorraçado, pra livrar a sociedade.” | Não identificado | Tortura de criança, violência psicológica, dano ao projeto de vida. |
07:20 | “E depois denunciaram eu e foi um carro lá pra me pegar. Aí quando eles foram pra me pegar eu já tinha 16 anos.” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
07:32 | “Antigamente a minha pele, era toda cheia de manchinha na pele, sabe? Então como eu frequentava muita praia, eu pensava que era micose de praia. Mas não era micose de praia, era hanseníase.” | Não identificado | Não contém. |
07:45 | “Eu vivia em uma casa sozinha. Sem comida, sem nada, catava fruta do pasto pra comer. Fui isolada, com medo, em um casarão de seis conto. Até o dia que eles me pegaram.” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
08:01 | “Fui procurar me inteirar sobre a questão da doença e não sabia ainda, na verdade, o que eu tinha, né? Quando chegou na cirurgia, que era pra mim ter no caso, que tinha os filhos aqui, chegou a época de eu ter a filha, a Giovana. Ai uma pessoa, depois que eu a tive, falou assim pra mim ‘Tu não vai poder ficar com a tua filha não’ eu falei ‘ué, mas por quê? Se ela é minha filha, nasceu de mim’, ‘tu não sabe o que que você tem não?’ Falei ‘ah, eu sei que eu tenho uma doença de pele. Mas, realmente, o que eu não sei. Vai me afastar da minha filha?’ Falou assim ‘vai, não, já tá’.” | Rita de Cássia (ex-portadora de hanseníase) | Dano ao projeto de vida, violência psicológica. |
08:44 | “Então meus filhos, quando nascia um, eu botava na casa de um parente. Mas filho da casa de parente fica um mês, uma semana, depois começa a incomodar. Aí eu começava e aí, e assim começou, eu aí falei pra minha mulher, eu aluguei um barraco, e falei pra ela ‘você vai morar no bairro Santo Antônio e eu fico na colônia. E o que eu puder fazer, eu vou fazer’. Então, saia, às vezes, até escondido pra levar alguma coisa de alimentação pra eles, ou algum dinheirinho que eu arranjasse pra levar. A vida foi tão difícil assim.” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
09:20 | “Casei, sou pai de dois filhos, mas meu filho graças a Deus, não contraiu também essa doença. Eles também casaram, mas ele não me discrimina, mas não vem aqui dentro. Eu tenho que ir na casa deles. Eu tenho vergonha de ir na casa deles. Até me falaram que tudo bem, pode vim, mas eu não vou porque, eu vejo, eles não me falam, mas eu vejo que a família deles me trata como fosse uma pessoa assim diferente, sabe? Então, por causa disso, eu tenho vergonha de frequentar a casa deles.” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
09:57 | “Três anos que eu estava na colônia, eu casei. Aí, quando dois meses de casado, eu fiquei grávida. Logo que nasceu a criança, eles tiraram na mesma hora e levaram para o educandário. Dois meninos e uma menina. Aí depois mandaram a carta pra mim que a menina tinha morrido mas não me deu atestado de óbito, nem nada. Falou que ela tinha morrido. Mas não deu atestado de óbito e nem nada. E aí eu peguei, tirei o menino. Tirei o menino porque, falei assim, se não vai acabar com tudo, né? A única família que eu tenho agora é esse filho.” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
12:36 | “Fui pro colégio interno, né? E lá fui logo pro berçário, aí passou-se alguns anos, né? Foi quando a minha mãe foi lá, me visitar no colégio interno. Só que ela não pode me falar que era minha mãe, ela botou uma peruca, se fingiu de minha tia, né? E botou uma peruca e falou no meu ouvido, né? Que ela era minha mãe. Eu queria gritar, mas ela não podia, não podia gritar porque ela é um segredo meu e dela, né? Ela falou, você não pode falar que eu sou mãe porque senão não vou poder mais vir visitar você aqui.” | Giovana Ferreira (filha) | Dano ao projeto de vida. |
13:10 | “Quando foi em 1979 meu pai faleceu e foi quando começou uma revolução lá no educandário pra troca de presidente. A nova presidente que ia entrar no lugar da outra, não quis que ficasse nenhuma criança que fosse filho de hanseniano aqui, lá no educandário. Então tinha crianças, tinha bebês também, aí queriam me transferir para outro orfanato, aí eu falei ‘eu não vou pra outro orfanato. Eu quero ir pra casa da minha mãe.’ Acabou que meu pai faleceu em abril. Aí quando foi em maio estava fazendo um mês que meu pai faleceu, minha mãe foi lá me tirar. Foi em um domingo, dia 29 de maio de 1979. Minha mãe me trouxe pra cá pra mim vim morar com ela. Chegando na portaria, o guarda falou que ela não podia ficar com eu, não podia subir com ela e já estava na hora dela subir, ela não podia voltar nem pra me levar de volta pra lugar nenhum. Ou seja, a minha mãe subiu pra ir pra casa e eu fiquei na portaria, esperando, eu falei, eu vou voltar para o educandário.” | Não identificado | Não contém. |
14:11 | “Minha mãe foi lá no colégio interno. Foi minha mãe, foi o marido dela, né? Que eu considerava como pai, né? Aí eu falei assim, ‘eu vou sair daqui?’, ‘Você vai sair daqui’, ‘Hoje?’, ‘Você vai sair daqui hoje’, ‘Tem certeza?’, ‘Tenho’. Aí tá. Aí ela, né? Teve um negócio lá, tinha que fazer lá. Aí eu saí do colégio interno, né? Quando eu saí de lá, eu tava dentro do carro, aí minha mãe perguntou, ‘Que que você quer?’, ‘O que eu quero? Posso falar?’, ‘Pode’, ‘Ah, eu quero comer muito doce, muito doce’, Aí, paramos num lugar, eu comi tanto doce, mas tanto doce que eu passei mal.” | Giovana Ferreira (filha) | Não contém. |
14:53 | “Ai no dia seguinte, minha mãe teve que ir lá e dar um jeito, aí ela arrumou. Tinha duas professoras que davam aula de reforço pra gente, né? Elas falaram ‘Se a senhora quiser, a gente pode ficar com a filha. A gente mora na praça seca, mora perto, ela vai poder visitar a senhora, quando ela quiser, quando ela puder’ e ela falou pra ela ‘Então, tá. Não, mas eu não quero saber dela também não, já que não pode morar comigo, porque que eu vou querer ficar sabendo dela’.” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
15:17 | “Sai do Educandário, fui pra casa dos outro. Humilhada, sendo humilhada, sendo maltratada. Não podia ter contato com a sociedade. Eu, pra mim poder lavar a louça eu tinha que botar luva, botar a roupa listrada. Até hoje eu tenho um trauma de roupa listrada, não gosto de roupa listrada, eu não gosto de roupa a quadriculada. Que me faz relembrar tudo aquilo que eu passei. Eu não gosto. Então, (choro) (inaudível) roupa listrada.” | Não identificado | Violência psicológica, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
15:55 | “Minha mãe me tirou com os 12 anos de idade. Fiquei com ela há pouco tempo. Meu pai foi a falecer. Morreu de acidente de moto. Voltei pra pro segundo educandário. Que é a escola Kenzi. Sofri. Vivi também muito na casa de parente que ficava o dia todo trancado, às vezes deixava, não podia mexer em nada. Esperava chegar. Aí, eu sei que foi um sofrimento mesmo.” | Não identificado | Violência psicológica. |
16:27 | “Eu estava com 38 anos. Foi quando eu resolvi morar com a minha mãe. (inaudível) fiz aí a convivência com a minha mãe. E foi uma convivência muito difícil, porque minha mãe, ela era uma pessoa muito revoltada com a doença. Ela não aceitava os filhos, que ela falava que não gostava de nenhum, porque ninguém era doente igual a ela. E ela me ofereceu um quarto pra mim dormir. Ela falava aqui na minha casa você vai ter só um quarto, pra você dormir, um banheiro pra usar e a porta da saída pra você ir trabalhar e viver tua vida.” | Não identificado | Sequelas da violência, dano ao projeto de vida. |
17:01 | “Hoje eu tô aí com ela, mas eu nunca vou chegar e vou jogar na cara dela lá, porque, eu não vivi com a senhora, entendeu? A minha irmã já, as vezes quando tem discussão, a minha irmã fala, ‘A senhora não criou a gente. A senhora nunca deu um carinho’. Realmente, nunca deu mesmo. Nunca. Nunca tive um carinho da minha mãe, nunca. Até hoje. Nunca. As vezes eu chego perto dela pra dar um beijo, ela fala assim ‘sai pra lá’.” | Não identificado | Sequelas da violência, dano ao projeto de vida. |
17:31 | “Eu morei uns dez anos com ela, depois ela teve câncer nos ossos. Mesmo assim eu me preocupava com ela, eu aceitava a situação dela, porque eu sabia que ela era revoltada. Quando eu comecei a entender o que era a vida, aí via, poxa, eu sofri, mas ela também sofreu bastante, né? E eu achei que a situação dela.” | Não identificado | Não contém. |
17:50 | “Fui morar com minha mãe, ela nos tirou de lá porque se não, nos tirasse de lá, não sei o que que ia acontecer, porque muita gente, muitos familiares até hoje não encontrou seus filho. Tem um bocado de mãe aí, pai que não sabe o paradeiro dos filhos. Então, para que evitasse isso ou coisa pior eles, eles nos tiraram de lá, né? E pra, para o seio deles, em família, né?” | Não identificado | Dano ao projeto de vida |
20:30 | “É, olha só, a liberdade é a pessoa poder ir e vir, né? É que antigamente, as pessoas não, não podia ir e nem vir. E hoje em dia pode. Então, algumas coisas que eu fazia, hoje em dia eu não faço. Eu frequentava muito Baile. Eu frequentava muita praia. Frequentava muitas coisas. Então, aqui dentro, aqui, fica um pouco assim, ah, eu não vou no baile, aí, de repente, sempre tem um que pode me discriminar, não vou. Então, quer dizer, eu fico mais aqui dentro da comunidade.” | Não identificado | Dano ao projeto de vida |
21:05 | “Que é foi tirada de mim quando nasceu. Na hora que nasceu. Né? Não ficou comigo por causa da doença, que não podia cuidar dela. Eu tenho muita vontade que ficasse. Mas eu desejava muito filho, né? Da de mamar, tinha tanta vontade. Eu vejo agora aí todo mundo dando de mamar as crianças. E tem umas que abandona os filho. E eu querendo meus filhos comigo e não pude ficar. Isso me entristece muito. | Não identificado | Dano ao projeto de vida |
21:56 | “É difícil. Porque eu pensei até então que chegasse, eu digo assim, a discriminação vai terminar em mim. Mas aí foi pior, porque a discriminação continuou nos meus filhos, como continuou nos filhos de outros.” | Não identificado | Dano ao projeto de vida |
22:13 | “Enquanto eu viver, eu nunca vou esquecer do colégio interno, porque por mais que a gente queira, mas, infelizmente, a gente não esquece. Porque sempre vai ter um momento na nossa vida, que a gente vai lembrar, entendeu?” | Giovana Ferreira (filha) | Não contém. |
22:28 | “Então eu digo que eu sou muito normal hoje, graças a Deus. Pelo o que eu passei, né? Então, se teve muita gente que teve boas lembranças do Educandário, eu não tive, né?” | Não identificado | Não contém. |
22:44 | “É que foi muitas coisas, tem muitas coisas que a gente recorda, as coisas ruim, né? Entendeu? Mas teve alguns momentos, pouco, muito poucos, que foi bom, mas muito pouco. Tive mais, mais coisa ruim na minha vida que momentos bons.” | Não identificado | Não contém. |
23:07 | “Hoje assim ,eu me sinto uma mulher, assim, muito rica, uma mulher muito feliz, porque hoje eu tenho esse prazer. Eu sinto, muito feliz mesmo. Que eu posso ir lá fora, comprar, hoje eu posso escolher, pode ter minha casa, eu posso escolher como eu quero decorar minha casa. Então, eu só tenho assim. O Budismo ele vem me agradecendo muito nessa parte. A minha religião. Então, assim, eu agradeço muito o budismo. Por essa, por essa força que tem me mostrado. Que essa força ela está dentro de mim. Então, eu acredito muito. Se hoje eu não fiz besteira na minha vida, eu agradeço muito ao budismo. Por ter mostrado que isso aí faz parte da minha vida, eu tinha passado tudo, tudo isso na minha vida. Então, hoje, assim, eu, tenho 22 anos de prática dentro do budismo e sou muito grata a essa religião, que me vem trazer assim a minha felicidade. Então, hoje, só tenho a contar, assim, felicidade só, coisas boas na minha vida.” | Não identificado | Não contém. |
Sinopse: Filme da TV MORHAN que fala sobre a questão dos filhos separados dos pais pela política de segregação da hanseníase.
Documentário mostra a realidade de portadores de hanseníase em hospitais-colônia no Nordeste – Paredes Invisíveis II
Documentário mostra a realidade de portadores de hanseníase em hospitais-colônia no Nordeste
Sinopse: Nesta edição,o Documentação apresenta o filme Paredes Invisíveis II. O documentário dos diretores Vera Rotta e Caco Schmitt reúne depoimentos de brasileiros atingidos pela hanseníase que foram submetidos à internação compulsória em hospitais-colônia nos estados do Nordeste.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
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00:48 | “Eu não gosto nem de me lembrar disso não, você não sabe o quanto que me machucou e o quanto me machuca isso ainda. A gente não podia pegar em nada e nem em canto nenhum. Era uma humilhação da moléstia” | Antônio de Melo | Dano ao projeto de vida, violência psicológica. |
01:58 | “Que eu nasci e me criei, foi assim, andando no campo atras de gado, de ovelha, de cabra.” | Não identificado | Não contém. |
02:13 | “Eu trabalho nesse ramo de sorvete né, de vender sorvete aqui no Ceará. Porque as praias aqui em Fortaleza são muito quente e o sol pegando fogo. Eu saio para trabalhar Todo Santo dia não tem um dia que eu não saio para trabalhar” | Não identificado | Não contém. |
02:39 | “Eu tiro meu sustento daqui, minha vida é aqui. Ai comecei a plantar, primeiramente plantei milho e depois essa parte de macaxeira ai, e estou pensando em plantar mais sabe.” | Não identificado | Não contém. |
03:16 | “por favor peço licença para contar uma história dessa tal de hanseniase que eu trago na memória esta história de tão velha já se ouviu no Egito antigo fomos duramente aprisionados todos por crime nunca cometido” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
03:41 | “Meu pai é chamado de bulha de feijão, ele passava a noite toda contando história ou cantando o verso e eu ficava lá de queixo caído olhando” | Chico Simião | Não contém. |
04:04 | “O exame deu positivo. E minha mãe não sabia o que era positivo e nem negativo. Ai ela perguntou ‘o que é?’ é que deu lepra. Ai meu filho quando disse lepra, não ficou ninguém no terraço, ninguém, todo mundo pulou, teve gente até que quebrou perna” | João Batista do Monte | Violência psicológica. |
04:25 | “A ambulância era tão atrasada que não tinha aquele sinaleiro que fazia ‘bumbum’ tinha não. Era um cara, ajudante do motorista com a (inaudível) bem grande que ficava abrindo para a gente passar” | Antônio de Melo | Não contém. |
05:11 | “o tema desta prosa é longo de todos merecem respeito doía, doía minha gente. Em muitos ainda arde os que sofrem na carne as Chagas do preconceito” | Não identificado | Dano ao projeto de vida, violência psicológica. |
05:30 | “Foi quando eu vim de trem num cargueiro, lá no último vagão, nós lá atras com a janela fechada. | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
05:38 | “Eu me lembro que uma vez eu fui brincar, brincando na hora do recreio, a gente brincando de roda, as meninas dando as mãos. Estendi o braço para a menina pegar a minha mão, a menina olhou assim a minha mão e recusou, não quis pegar” | Maria Bernadete Cabral | Violência psicológica. |
05:56 | “O conceito que se tinha naquela época, o fato de vir para cá, era porque eu era um mau elemento lá fora, eu era um sujeito ruim, eu estava carpindo com os meus pecados” | Flávio Serafim Lisboa | Dano ao projeto de vida, violência psicológica. |
06:13 | “Eles assombraram o povo do mundo com a hanseníase, porque pegava no vento” | Antônio de Melo | Não contém. |
06:19 | “Esse era o povo que conhecia a gente, aí denunciava a gente” | Raimundo Francisco | Dano ao projeto de vida. |
06:43 | “aí ele chegou em casa às vezes ele passava 8 dias fora de casa. Aí quando ele chegou quando estava em casa, aí ele fez ‘mainha’ me botar para fora de casa” | Telma Maria dos Santos | Dano ao projeto de vida, violência psicológica. |
06:55 | “Quando eu cheguei um dia de sábado em casa, só encontrei as duas meninas que eram minha filha que Que ela tomava conta. E ela disse ‘é pai ela pegou os meninos levou’” | Nazar de Jesus Costa | Dano ao projeto de vida. |
07:09 | “Eu estava de frente ao portão passou um cidadão a cavalo e caiu o chapéu de palha dele. Ai eu fui entregar para ele, ele foi assim se afastando, bem disfarçado, tampou o nariz e disse ‘fica pra você’”. | José Arimateia Pirelli | Não contém. |
07:28 | “Isso para mim, o que os outros fizeram para mim não me machucou tanto, como o meu pai me botar para fora de casa” | Telma Maria dos Santos | Violência psicológica, dano ao projeto de vida. |
07:40 | “Era uma sensação, por mais jovem que eu fosse, criança, eu sentia na pele a dor do desprezo, do descaso e da especulação” | José Arimateia Pirelli | Violência psicológica. |
08:07 | “Inaudível, quando chegou lá o médico veio olhar, disse que ia lá dentro e voltar, e não voltou mais” | Chico Simião | Não contém. |
08:16 | “Porque por exemplo, se eu tenho um filho e vai pro colégio lá os amiguinhos chama os meninos daqui de ‘leproso’. Ai tudo isso é este mundo de hoje, acabou, existe preconceito? Existe. O preconceito jamais vai se acabar. é preconceito contra o preto, contra o azul, amarelo, é um preconceito contra o pobre, é um preconceito contra o aidético e o tuberculoso” | José Arimateia Pirelli | Violência psicológica, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
08:47 | “Eu disse, eu vou olhar o mar, pode como o mar é grande, tem muita água, vou olhar. Aí uma moça foi lá perto do motorista, ai eu pensei que ia conversar ou era namorada né, quem sabe né. Quando ela chegou lá, conversou né, cochichou, ai a mulher que estava do lado de mim catucou né e disse ‘ei o senhor de boné vermelho, o motorista esta falando com o senhor’, ai quando eu falei ‘oba’, ele disse ‘olha pode descer que você é incapaz de andar nesse ônibus’, dai eu perguntei ‘o que é que eu tenho?’ e ele disse ‘ce tem lepra’”. | João Batista do Monte | Violência psicológica, dano ao projeto de vida, sequelas da violência. |
09:22 | “Sou paciente portador da hanseníase, enquanto não vê a morte vivo nessa agonia. Até que chegue de Jesus o seu chamado, eu me sinto conformado até chegar o meu dia. Vai meu barquinho, vai navegando em procura de Jesus. Vai meu barquinho, até que chegue num clarão cheio de luz”. | José Vieira Rocha (cantando) | Não contém. |
11:07 | “Eu cheguei aqui e eu pensei que tinha vindo para o inferno” | Juliano Vieira de Farias | Não contém. |
11:22 | “Pra dizer a verdade eu tentei suicídio” | Nazar de Jesus Costa | Violência psicológica, sequelas da violência, dano ao projeto de vida. |
11:45 | “Levaram sem me falar nada, ai lá descobriram o que eu tinha” | Domingas da Silva Costa | Não contém. |
11:51 | “Depois foi que eu passei a ter noção, de onde eu tava, de qual era minha verdadeira situação” | José Arimateia Pirelli | Não contém. |
12:02 | “Doente de todo jeito. Era doente sem perna, doente sem braço, era doente de todo jeito. Eu digo, eu vou ficar do mesmo jeito, meu deus.” | Rosimar Maria de Jesus | Dano ao projeto de vida. |
12:22 | “Me pegaram e me algemaram, hoje em dia eu tenho a marca” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
12:35 | “Aqui dentro da colônia se a gente fugia para ir para as quebradas, os policiais iam atras. Usavam até fuzil” | José Arimateira – Pirelli | Tortura de criança. |
12:54 | “Ninguém podia fazer travessura que ia preso (inaudível). E era homem, adulto e criança, não tinha isso não” | Não identificado | Dano ao projeto de vida. |
13:05 | “Era de uma barbaridade de tamanho de mundo. Não tenho nem palavras para expressar isso. Parece que era um bocado de pessoas que eles queriam tirar do mundo” | Juliano Vieira de Farias | Não contém. |
13:19 | “Essa aqui só veio para morrer, eu disse ‘doutor, se você não me der remédio, eu vou morrer mesmo’, ai ele olhou para mim e disse você é ignorante e eu disse ‘sou ignorante, pra esse ponto eu sou ignorante, agora se o senhor não me der meu remédio, eu acho que sim, eu vou morrer, mas se o senhor me tratar muito bem, eu acho que não vou não” | Rosimar Maria de Jesus | Violência psicológica. |
13:43 | “Isso aqui não era um hospital, isso aqui era um deposito de seres humanos” | Juliano Vieira de Farias | Não contém. |
13:53 | “E nos comíamos aqui, um pacote de macarrão para um taxo cheio de agua cozinhar, fazia sopa, o feijão era aquele de terceira, a gente colocava dentro da agua e os bichos subiam tudo” | Amaro Ramos Pinheiro | Não contém. |
14:17 | “Onde a gente era obrigado a trabalhar, ia preso, apanhava. Tudo isso a gente sofria dentro do leprosário. A gente ia preso aqui pelas coisas mais absurdas que possam acontecer nesse país, porque você pegava uma manga nesse pé eu ia preso cara. Levei três dias de cadeia, nunca matei, nunca estuprei a filha de ninguém, nunca roubei, nunca faltei com o devido respeito ao meu próximo” | Juliano Vieira de Farias | Tortura de criança, violência psicológica, dano ao projeto de vida. |
Entrevistas
Entrevista para a Rádio Justiça sobre os filhos separados pelo isolamento compulsório da hanseníase
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Sinopse: Confira a entrevista concedida por Thiago Flores, advogado e integrante da direção nacional do Morhan, sobre as estratégias de ação que reivindicam reparação às pessoas que foram separadas de seus pais pela política de isolamento compulsório da hanseníase - os chamados "filhos separados".
Enfermeira salvava filhos de pacientes com hanseníase de exílio familiar
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Sinopse: Para driblar política que levava crianças para educandário sem contato com os pais, Dédima transformou sua casa de três cômodos em abrigo.
Filhas levadas pelo Estado e décadas de isolamento pela hanseníase
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Sinopse: Aos 86 anos, Dona Santinha só lembra do peso sobre as pernas de suas duas meninas que, uma após a outra, foram carregadas pela polícia sanitária.
Lives
Reparação aos filhos separados: A imprescritibilidade das ações frente ao princípio da dignidade
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Sinopse: O tema da reparação aos filhos e filhas separados pela política de isolamento compulsório da hanseníase tem sido mobilizador de muitas ações da Rede Jurídica e de Direitos Humanos do Morhan, composta por advogados voluntários do movimento. E uma discussão fundamental que precisa ser feita é sobre a imprescritibilidade das ações relativas à reparação dos filhos. Um debate a partir do princípio da dignidade.
MORHAN(ao)VIVO 8: Luta dos filhos separados por reparação - estratégias estaduais e nacionais
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Sinopse: A luta dos filhos separados por reparação. Vamos conversar sobre como andam os PLs estaduais de São Paulo e do Rio de Janeiro, a situação em Minas Gerais, e também sobre as frentes de reivindicação nacionais: a ação civil pública, o PL e as tratativas com o executivo.
FILHOS SEPARADOS DE SEUS PAIS SOFREM E ALGUNS MORREM
FILHOS SEPARADOS DE SEUS PAIS SOFREM E ALGUNS MORREM.
Sinopse: Filhos sem os pais sofriam humilhações, agressões de todas as formas, estupros e choques.Veja tudo isso é muito mais nesses relatos de pessoas que viveram na pele tudo isso.
FILHOS SEPARADOS DE SEUS PAIS RELATAM TUDO QUE PASSARAM E EMOCIONAM A MÍDIA
FILHOS SEPARADOS DE SEUS PAIS RELATAM TUDO QUE PASSARAM E EMOCIONAM A MÍDIA
Sinopse: Relatos dos filhos que foram separados de seus pais, emocionando a mídia através de relatos reais, fortes e assombrosos.
Reportagens
História da Hanseníase no Brasil
Caminhos da Reportagem: Hanseníase - a história que o Brasil não conhece
Sinopse: O Caminhos da Reportagem exibe novamente o episódio Hanseníase, a história que o Brasil não conhece, vencedor do Prêmio Jornalista Tropical, categoria TV, oferecido pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).
O programa revela histórias secretas das colônias de leprosos, de onde surgem relatos de horror, perseguições e maus tratos. Também apresenta pessoas determinadas, como Dona Conceição, que em razão da doença, viu os seis filhos serem levados de seus braços logo após o nascimento, mas nunca desistiu de os reunir.
Maus-tratos e abusos eram práticas comuns no orfanato
Maus-tratos e abusos eram práticas comuns no orfanato
Sinopse: Em Pernambuco, os filhos dos internos eram encaminhados para o Instituto Guararapes, na Várzea. O tratamento causou sequelas e ainda provoca arrepios nos que passaram por lá.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
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00:13 | “Olha aquilo ali, eu mesmo peço pra todo mundo, pra nunca botar as perna. Porque ali é muito ruim, é muito ruim porque ali a gente era puxão de orelha, puxava os cabelo da gente, era palmatória e ali era, num vou dizer que é bom porque quando a gente é dado aos pais da gente, num tinha como, porque as bolha dágua e as palmatórias na mão da gente. Eu lembro como eu tomava esses remédios controlado, como hoje tomo, fora o da hanse que tomava e eu lembro (inaudível) todo dia eu dormia no chão, não podia dormir na cama, aí todo dia todo eu dormia no chão e todo dia eu apanhava.” | Carmem Lúcia Cavalcanti | Tortura de criança, violência psicológica. |
00:52 | “Agora só que tinha uma senhora dona Nilza, tinha a Rui, tinha a filha dela, que espancava a gente. Metia a cabeça da gente na parede, espancava a gente, a gente era muito humilhado sobre isso.” | Zilda Pereira da Silva | Tortura de criança, violência psicológica. |
01:08 | “ Era muito sofrimento, muito sofrimento. Quando minha mãe chegava mesmo eu tinha vontade de pedir ela vim simbora mas não podia, eu chorava quando era nas costas da minha mãe eu apanhava, quando minha mãe ia simbora, (inaudível) vai simbora não, ai metia o cacete em mim, todo santo dia, toda vez que a minha família chegava, ela escondia a minha mão pra não dar a benção, ‘da benção só de boca’.” | Carmem Lúcia Cavalcanti | Tortura de criança. |
01:34 | “Eu não sei, eu fui criada ali no colégio, sem mentira nenhuma, de tanto ser assim espancada quando a pessoa vinha me espancar, pensava mesmo assim por exemplo eu ou um garoto (inaudível). Aí pensava, eu brigava porque eu não ia sair só apanhada e três vezes eu fui pro quarto escuro, não vinha nem a luz do sol. Quarto escuro porque só tinha uma porta, ficava dentro do quarto escuro perto da lavanderia.” | Zilda Pereira da Silva | Tortura de criança, violência psicológica. |
02:11 | Eu vim grávida de lá aí tive uma menina aqui. aí numa maternidade que tinha aí. A última foi eu, tive ela e vi ela enrolaram logo com um lençol aí me levaram pra lá po Guararape. Ai pronto, quando eu fui ver ela já estava com um mês ou mais, pedi licença e fui lá” | Maria José de Souza | Não contém. |
02:39 | “Aquela época era uma (inaudível), preconceito, tanto das pessoa que tinha mãe, pai, filho, que era doente vivia doente, era um preconceito, era uma humilhação. Eu não cheguei a conhecer minha mãe. O problema é esse. Quando minha mãe faleceu que eu que, a moça que cuidava da gente, a diretora aí vinha me dizer que minha mãe tinha falecido. Olha, sua mãe morreu, mas eu não sabia o que era o entendimento de morrer, entendeu? Eu tava com dez anos de idade.” | Zilda Pereira da Silva | Violência psicológica. |
04:04 | “Eu convivia bem dizer aqui lá dentro (inaudível) pra ir pra casa do meu pai entendeu? Era proibido, ele morava lá na Não, eu entrava pra ver meu pai porque eu tinha que ver meu pai, entendeu? Então era escondido” | Zilda Pereira da Silva | Não contém. |
04:32 | “(inaudível) pra vim buscar, a primeira coisa que eu fiz do jeito que eu tava com a roupa e sandália eu fui pra cima dela, deixou tudo pra trás tudinho e visembora. Ela fez calma Carmem, calma, aí eu me esqueci até do meu irmão, (inaudível) com medo que eu fosse buscar o meu irmão e ficasse lá, ta me dando até arrepio, ficasse lá, num deixasse eu voltar mais, aí eu comecei gritando por ele, ‘Coinho, coinho, mãe chegou vamos simbora vamos simbora’, aí foi quando ele olhou da janela e desceu e vamos simbora.” | Carmem Lúcia Cavalcanti | Não contém. |
05:05 | “E a gente sente a humilhação sim, ainda bem a gente escuta, ainda eu escuto muita gente escuta, ‘ah ela é leprosário,’ é assim no coletivo, seja onde, for eu fico na minha.” | Zilda Pereira da Silva | Sequelas da violência, dano ao projeto de vida. |
05:20 | “Deixei meu filho na casa da minha mãe pra vir trabalhar aqui, faz 34 anos, (inaudível) dava banho em paciente aqui na enfermaria, dava banho em paciente, lavava roupa de paciente, que era um tanque, não era uma máquina, era uma lavanderia, mas é um tanque bem grande. Aí foi quando eu entrei aqui para trabalhar aqui, aí eu comecei cuidando de paciente, dava banho até cova eu já cavei, carregando defunto nas costas também.” | Carmem Lúcia Cavalcanti | Dano ao projeto de vida. |
05:54 | “Sim, trabalhei em casa de família, pra sobreviver depois que eu separei do meu marido, não criei minhas filha não. Mas o meu sonho era criar meus filhos, mas eu não tive condição, tinha que viver, trabalhando em casa dos outros pra sobreviver. Tenho bisneto, tenho bisneto, tenho neto, eu tenho neta graças a Deus agradeço senhor”. | Zilda Pereira da Silva | Dano ao projeto de vida. |
Filhos de casais com hanseníase eram torturados em orfanatos durante a Ditadura Militar
Filhos de casais com hanseníase eram torturados em orfanatos durante a Ditadura Militar
Sinopse: Mulheres grávidas com hanseníase eram afastadas dos filhos logo após o parto. Apesar de poderem permanecer com os pais doentes, as crianças eram levadas para orfanatos, onde sofriam diversos tipos de tortura física e psicológica.
Tempo | Relato | Vítima | Violações a Direitos Humanos |
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01:25 | “Eu não vou falar para você que eu sou um filho separado tranquilo, não, eu não sou não. Eu tenho uma revolta. Só que eu não sou agressivo, eu não maltrato ninguém. Mas está aqui dentro.” | Milton Jorge | Sequelas da violência. |
01:48 | “Ele tinha medo que eu visse a situação dele então ele não queria que eu ficasse com esse trauma, então não conheci ele” (sobre o pai) | Milton Jorge | Violência psicológica. |
02:04 | “Primeira vez quando eu vi ela, eu não sabia quem era minha mãe. Quando eu percebi que ficou uma única mulher ali, sem receber seu filho, porque ela tava na porta enquanto os demais pais estavam dentro recebendo seus filhos, eu imaginei logo, deve ser minha mãe” | Milton Jorge | Não contém. |
02:26 | “Ela falou que eu tinha um irmão que estava do meu lado inclusive, ela disse, vocês dois são irmãos. Só que eu não sabia que ele era meu irmão.” | Milton Jorge | Não contém. |
02:44 | “Lá eu nunca soube o que é amor, porque eu não fui tratado com amor. Eu acho que nem cachorro deveria ter sido tratado como nós fomos tratados.” | Milton Jorge | Violência psicológica. |
03:03 | “Ficava de joelho no meio de dois, três milhos ou no meio do feijão e ai ia para o palmatorio, eles batiam aqui ó, era uma ripa que fazia assim. Seria dez palmadas cada mão. Cada vez que você tirava a mão na hora que eles davam a paulada, recebia em dobro” | Valter Daniel | Tortura de criança. |
03:24 | “Nos já chegou a apanhar até de corrente, corrente de amarrar cachorro. Eu mesmo já apanhei, ficava todo roxo o corpo da gente.” | José Eugênio | Tortura de criança. |
03:46 | “As freiras chegou falando, ai temos novidades para você. Qual a novidade? A vagabunda morreu, a sua vagabunda. Mas quem é minha vagabunda? A vagabunda é sua mãe. Ali eu sentei no chão e desmoronei, pra mim acabou, o mundo desabou em cima de mim.” | Milton Jorge | Violência psicológica. |
Conheça a história de pessoas separadas dos pais leprosos
Conheça a história de pessoas separadas dos pais leprosos
Sinopse: Há décadas, o estigma e o preconceito da hanseníase separaram pais e filhos. Muitas crianças cresceram órfãs sem conhecer a própria origem. Hoje, a doença tem tratamento e é combatida de forma muito mais humana. Conheça a história de pessoas que separaram dos pais portadores da doença.
Filhos de hansenianos recebem primeiros resultados do teste de DNA
Filhos de hansenianos recebem primeiros resultados do teste de DNA
Sinopse: Separado aos sete meses de idade do pai biológico, que era portador de hanseníase e estava internado no Hospital Colônia Ernani Agrícola de Cruzeiro do Sul, José Cláudio Santos da Rocha, recebeu seu relatório de investigação de vínculo biológico (teste de DNA) do Movimento de Reintegração dos Hansenianos (Morhan) comprovando que é filho de Celso Lima Verde, vereador de Cruzeiro do Sul. Com ele mais nove pessoas, filhos de ex-internos do hospital-colônia, receberam os resultados do teste de DNA.
Separados dos pais que estavam isolados em leprosários, filhos buscam indenização na Justiça
Separados dos pais que estavam isolados em leprosários, filhos buscam indenização na Justiça
Sinopse: 'Foi um crime o que o Estado brasileiro cometeu', diz parteira de leprosário obrigada a entregar bebês para orfanatos. Para o MPF, política pública contra a doença existente no Brasil provocou 'grave violação de direitos humanos'.
Filhos da hanseníase - Isolamento de vítimas da doença em hospitais-colônias obrigou uma geração a crescer longe dos próprios pais
Sinopse: As histórias de pessoas que foram privadas da oportunidade de serem criadas pela mãe ou pelo pai. Algumas delas foram afastadas desse convívio logo após o nascimento, sem nem ao menos um beijo, um abraço ou uma despedida. Outros perderam o contato com os pais já um pouco mais velhos, mas ainda guardam na memória a dor do abandono. O motivo para todos foi o mesmo: a hanseníase.
A história por trás do preventório de Goiânia - O Popular
A história por trás do preventório de Goiânia - O POPULAR
Sinopse: Prédio imponente sobre uma colina do Gentil Meirelles, que abrigou filhos de doentes e guarda parte da memória política isolacionista como medida para conter o avanço da hanseníase no país.
Filhos de pessoas isoladas em colônias de hanseníase lutam por reparação
Filhos de pessoas isoladas em colônias de hanseníase lutam por reparação
Sinopse: Dois projetos de lei propondo a indenização foram adiados pela terceira vez em comissões da Câmara dos Deputados.
Defensoria ajuíza ACP para reparação aos filhos de segregados pela hanseníase
Defensoria ajuíza ACP para reparação aos filhos de segregados pela hanseníase
Sinopse: A Defensoria Pública da União (DPU) coordenou atividades em defesa dos filhos afastados forçadamente de seus pais pela política de isolamento de pessoas com hanseníase, os chamados “filhos separados”. As atividades compreenderam a realização de uma audiência pública, a proposta de ação civil pública de âmbito nacional e a atuação de núcleo de pesquisadores especializado em mapeamento genético.
Documentário conta história de filhos separados dos pais pela política de isolamento compulsório de hansenianos
Sinopse: No Amazonas, durante esse período, os filhos dos hansenianos eram enviados para o Educandário Gustavo Capanema ou dados para outras famílias.
MPF/AM entra com ação para garantir reparação aos filhos separados de pais com hanseníase no Amazonas
Sinopse: Ação pede que União e Estado do Amazonas implantem políticas de resgate e preservação da memória e a reparação dos danos causados.
Irmãs vítima de preconceito por hanseníase relatam drama
Irmãs vítimas de preconceito por Hanseníase relatam drama
Sinopse: Órfãs de pais vivos, perderam a infância para o preconceito e o desconhecido. Muitas décadas depois, elas ainda buscam respostas para o que aconteceu.
Helena Bueno, afastada de seus pais no dia do nascimento
Helena Bueno, afastada de seus pais no dia do nascimento
Sinopse: Helena Bueno Gomes foi retirada do convívio com os pais após o parto. Cresceu sem conhecer seus genitores porque eles tinham hanseníase.
Os brasileiros que foram separados à força de pais com lepra e lutam por reparação
Os brasileiros que foram separados à força de pais com lepra e lutam por reparação
Sinopse: Bebês eram retirados pelo Estado de pais, que eram pacientes de hanseníase, e eram enviados a educandários.
Depoimento: Minha mãe morreu em colônia para tratar hanseníase
Depoimento: Minha mãe morreu em colônia para tratar hanseníase
Sinopse: As primeiras memórias de infância de Helena Bueno são de quando tinha apenas seis anos. Nessa idade, ela era levada de casa em casa, não para ser parte da família, mas para trabalhar com serviços domésticos. Seus pais tinham hanseníase e estavam internados no hospital Pirapitingui, em Itu (SP). Ela foi descobrir o paradeiro deles aos 18 anos. E, somente aos 50, entendeu o que realmente havia acontecido.
Segregados
Sinopse: Entre 1930 e 1970, milhares de brasileiros foram retirados de suas casas e segregados em hospitais-colônia por terem hanseníase, a estigmatizante lepra. Em Santa Catarina, não foi diferente. Nesta reportagem, o DC reconta esta saga a partir da história de amor que uniu Benício e Sita Pereira. Eles superaram a dor e a solidão e sonham com o fim do preconceito.
Filhos separados de pais com hanseníase vão à ONU denunciar Brasil
Filhos separados de pais com hanseníase vão à ONU denunciar Brasil
Sinopse: O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) encaminhou uma comunicação oficial às Nações Unidas, denunciando a negligência do Estado brasileiro em relação aos graves danos causados a aproximadamente 16.000 filhos que foram separados de pais com hanseníase entre as décadas de 20 e 80 no Brasil.
Precisamos falar sobre a Hanseníase e as vítimas abandonadas pelo Estado
Precisamos falar sobre a Hanseníase e as vítimas abandonadas pelo Estado
Sinopse: Dentre tantos holocaustos que ocorrem no Brasil contra minorias e populações minorizadas, como indígenas, negros e negras, mulheres, este texto abordará um aspecto da luta contra o isolamento compulsório para hanseníase na época da então chamada política de profilaxia da “lepra”. Falta-se palavras para descrever os horrores vividos por pessoas que estiveram em instituições Colônias e também dos filhos separados dos seus pais em razão da política higienista do Estado brasileiro e dos agentes de saúde que estiveram diretamente implicados nesse verdadeiro holocausto que ocorreu no Brasil.
Hanseníase – a história que o Brasil não conhece
Hanseníase – a história que o Brasil não conhece
Sinopse: O Caminhos da Reportagem exibe novamente o episódio Hanseníase, a história que o Brasil não conhece, vencedor do Prêmio Jornalista Tropical, categoria TV, oferecido pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).
"Má Pele" destaca o drama de crianças no surto de hanseníase
"Má Pele" destaca o drama de crianças no surto de hanseníase
Sinopse: No início dos anos 1930, o Brasil vivia a Era Vargas, e, em meio a um surto de lepra, nome pelo qual a hanseníase era conhecida, o governo optou pela segregação compulsória dos doentes e de suas famílias. No Estado de São Paulo foram criados, como prevenção dessa enfermidade, asilos-colônia para os doentes. Em Mogi, o hospital Dr. Arnaldo Pezzutti Cavalcanti foi um deles. Estes locais eram divididos entre dispensários - onde eram realizados exames de pessoas com sintomas suspeitos, e os preventórios, destinados aos filhos saudáveis de pais com a doença.
Separados por hanseníase, filhos de vítimas buscam indenização
Separados por hanseníase, filhos de vítimas buscam indenização
Sinopse: O Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), realizou o encontro de filhos das vítimas de hanseníase que foram separados dos pais nas décadas de 1920 e 1980 durante o tratamento compulsório em locais isolados. Alguns ficaram órfãos e lutam para receber o beneficio de quase R$ 1.200 e a indenização devido os traumas sofridos.
Minidocumentário sobre filhos separados de pais com hanseníase é lançado no CNS
Minidocumentário sobre filhos separados de pais com hanseníase é lançado no CNS
Sinopse: O minidocumentário “Infância Roubada – Memórias de filhos separados dos pais atingidos pela hanseníase” foi lançado no dia 06/12/2019 durante a reunião ordinária do Conselho Nacional de Saúde (CNS), em Brasília. O documentário foi integralmente produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Defensoria Pública da União (DPU), com o apoio do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Mohran).